Ciência e Vida

Como as mudanças climáticas interferem na saúde populacional?

A sustentabilidade e o meio ambiente são preocupações cada vez mais relevantes para a área da saúde, diretamente afetadas pelas mudanças climáticas

Publicado na revista científica Nature Climate Change , em 08 de agosto, um estudo demonstra que as mudanças climáticas podem agravar uma série de doenças* causadas por vírus, bactérias e fungos.

Contribuir com o desenvolvimento humano e proteger o meio ambiente são ações intrínsecas à promoção da saúde e do bem-estar. Esses, entre outros tópicos, serão discutidos no 7º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde: Muito além do ESG, a ser realizado nos próximos dias 12 a 15 de setembro, pelo Institute for Healthcare Improvement em parceria com o Einstein.

Temas que envolvem a saúde e a sustentabilidade, com foco em reduzir impactos negativos relacionados ao meio ambiente, têm sido uma grande preocupação. “É fundamental que as tomadas de decisões nas instituições de saúde integrem as dimensões ambiental, social e a governança de operação”, afirma o Superintendente e Diretor Médico do Einstein, Dr. Miguel Cendoroglo Neto.

O Environmental, Social and Governance (ESG), na tradução livre do inglês para Meio Ambiente, Social e Governança Corporativa, vem ano após ano conquistando o mundo dos negócios. “A área da saúde desempenha o papel de incentivar empresas, além de governos, a assumir a responsabilidade sobre os critérios desses três setores fundamentais para a vida no planeta”, completa o Médico e Diretor-Superintendente do Instituto Israelita de Responsabilidade Social Albert Einstein, Dr. Guilherme Schettino.

Entre os critérios ambientais do ESG estão:

  • A gestão de resíduos;
  • A política de desmatamento;
  • O uso de fontes de energia renováveis pela empresa;
  • O posicionamento da empresa em relação às mudanças climáticas;
  • Os processos dedicados a reduzir ou eliminar a poluição do ar ou da água decorrentes de suas operações;
  • A logística reversa de produtos;
  • A política de negociação com fornecedores (por exemplo, optar por empresas que usam insumos orgânicos ou possuem certificações ambientais).

Segundo Dr. Miguel, estudos e discussões sobre o assunto, por meio de congressos, simpósios e diferentes eventos como esses contribuem para a adoção de uma mentalidade mais inquieta, voltada para a atenção entre a saúde e o meio ambiente.

Esses debates são importantes, pois o impacto das alterações climáticas na saúde acontece de diferentes maneiras. O desmatamento, por exemplo, é o elo catalisador das zoonoses, endemias, novas doenças e pandemias.

A relação direta do aumento de casos de malária em áreas de desmatamento na Amazônia já foi comprovada em uma pesquisa publicada na revista Nature, em 2018. O estudo aponta que, para cada quilômetro quadrado de desflorestamento, surgem 27 novos casos dessa doença.

Crise climática e o impacto na saúde

Os incêndios florestais, por exemplo, fizeram morcegos e primatas fugirem de seus habitats na África. A partir daí, surgiram novos surtos de Ebola no continente. Outro exemplo é o degelo do permafrost – camada do subsolo da crosta terrestre que fica permanentemente congelada. O aquecimento ajudou a liberar uma antiga cepa de antraz – doença infecciosa – causadora de enfermidades no Ártico.

A crise climática ainda restringe a capacidade de gerir o controle satisfatório de muitas doenças. A falta de acesso à água potável e ao saneamento básico abre espaço para contaminações, podendo contribuir com a disenteria e a hepatite, por exemplo. “A poluição do ar aumenta o risco de doenças cardiovasculares, acidente vascular cerebral, diabetes e doenças respiratórias”, diz o Dr. Schettino.

O Médico lembra inclusive que as emissões de gás metano relacionadas à criação de gado, fonte predominante desse poluente, estão entre os principais causadores do efeito estufa. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), em um período de 20 anos ele tem mais de 80 vezes o poder de aquecimento do dióxido de carbono.

Outros fatores dizem respeito às guerras e problemas políticos e econômicos que impulsionam a imigração e, por consequência, contribuem para o crescimento do número de refugiados, o que magnifica os problemas no sistema de saúde. Os desastres climáticos, como tempestades e inundações, também têm forçado o deslocamento de pessoas, que sem recursos são submetidas a habitar áreas precárias.

Essa conjuntura favorece o crescimento de enfermidades como a febre de Lassa, pneumonia, febre tifóide, hepatite, cólera, doença dos legionários (espécie de pneumonia severa), dengue, zika vírus e chikungunya. “Inclusive, vamos ter o aumento do número de casos de câncer, por conta de todos esses problemas ambientais e socioambientais”, enfatiza o Dr. Schettino.

Veja o que motivou e quantas doenças* infecciosas foram potencializadas pelas mudanças climáticas:

  • Aquecimento: agravou 160 doenças
  • Mudanças de precipitação: agravaram 122 doenças
  • Inundações: agravaram 121 doenças
  • Seca: agravou 81 doenças
  • Tempestades: agravaram 71 doenças
  • Mudanças na cobertura da Terra: agravaram 61 doenças
  • Mudanças climáticas nos oceanos: agravaram 43 doenças
  • Incêndios: agravaram 21 doenças
  • Ondas de calor: agravaram 20 doenças
  • Aumento do nível do mar: agravou 10 doenças

Fonte:  Revista científica Nature Climate Change

Para Dr. Miguel, o tema das mudanças climáticas e seu impacto na saúde populacional deve ser abordado progressivamente, “de modo a conscientizar todos os cidadãos do planeta sobre a importância do investimento em justiça socioambiental”, conclui.

O Ensino Einstein realizará o 7º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde: Muito além do ESG – Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde de 12 a 15 de setembro. Confira aqui: 7º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde: Muito além do ESG – Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde. 

 

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