Ciência e Vida

Gestão de Crise em Emergências e Desastres: conhecimento fundamental para uma resposta efetiva

A atuação em situações de emergências e desastres não se limita a profissionais da saúde. O socorro e o atendimento às vítimas envolvidas ocorrem por meio de um trabalho em conjunto

A resposta rápida de equipes formadas por profissionais de diferentes áreas a emergências e desastres é determinante para a sobrevivência e o bem-estar das vítimas envolvidas e, posteriormente, para a reconstrução das comunidades atingidas. O conhecimento de técnicas de resgate para socorrer as vítimas, a metodologia do socorro e a organização da cena são imprescindíveis não somente para profissionais da saúde, mas para todos os profissionais ligados à segurança pública e privada: Bombeiros, Forças Armadas e equipes de saúde, entre outros.

Catástrofes climáticas como a ocorrida no litoral norte de São Paulo, em fevereiro deste ano – quando dezenas de moradores de São Sebastião e Ubatuba perderam suas vidas nos deslizamentos de terra causados por fortes chuvas – tornam-se momentos-chave nos quais os conhecimentos sobre gestão de crise e resposta a desastres são colocados em prática. Portanto, ter essas habilidades consolidadas é sinônimo de um trabalho bem-sucedido.

Para o Médico especialista em Medicina de Desastre e Catástrofe do Einstein, Dr. Fábio de Castro Jorge Racy, que atuou junto às equipes que trabalharam na tragédia do litoral norte de São Paulo, o auxílio dado às vítimas foi primordial para evitar mais mortes. “As regiões afetadas possuíam recursos limitados para atender a tantas vítimas… Foi muito importante a iniciativa de profissionais da saúde que passavam o feriado no local, de se organizarem no atendimento nos primeiros dias após o desastre”, diz ele.

O Médico relembra que, com o passar dos dias, o cenário começou a se estabilizar. “Infelizmente houve muitos óbitos, mas as pessoas resgatadas tiveram suas vidas preservadas graças ao trabalho conjunto com as equipes de salvamento de diversas esferas governamentais e com total apoio do sistema de saúde local: Hospital de Clínicas de São Sebastião, UPA de Boiçucanga e Unidades de Saúde da Família do Município de São Sebastião”, conta.

Essa união foi importante também para dar continuidade ao tratamento de pacientes vítimas do desastre, além dos portadores de doenças crônicas que já estavam sendo atendidos antes do incidente. “A primeira semana foi bastante conturbada, claro. Mas, aos poucos foi possível estabilizar o atendimento, com o auxílio de diferentes equipes assistenciais”, relata o Dr. Fabio.

Médicos, Enfermeiros, Fisioterapeutas, Psicólogos, Técnicos em Enfermagem, Veterinários, Residentes e Estudantes da Graduação em cursos da área da saúde, entre outros, foram essenciais tanto no primeiro momento da catástrofe quanto nos dias seguintes.

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Planos de catástrofes

Em comparação com outros países que enfrentam grandes terremotos, maremotos, furacões ou erupções vulcânicas, o Brasil parece ocupar uma posição privilegiada. Dr. Fábio, entretanto, discorda. O país lida com diferentes tipos de cenários de desastres, como inundações, deslizamentos de terra, tempestades tropicais e seca; acidentes com múltiplas vítimas; incidentes ambientais devidos a derramamentos de produtos químicos e de petróleo no mar, por exemplo; desastres biológicos como dengue, zika, chikungunya, febre amarela, além da COVID-19; incêndios urbanos e florestais; Emergências Humanitárias Complexas, como a crise dos Venezuelanos.

Por isso, gestores em saúde e profissionais da assistência podem ajudar a administrar situações de emergências e desastres. Apesar do cenário de caos após o temporal em São Sebastião e Ubatuba, o trabalho conjunto das forças públicas e privadas – incluindo voluntários, equipes de desobstrução de estradas e cadastramento de vítimas – pavimenta um caminho rumo à reconstrução.

No passado, o Brasil já enfrentou situações parecidas e, hoje, continua enfrentando desafios semelhantes. “Atravessamos o maior desastre radiológico do mundo, em 1987: o Césio-137, em Goiânia, e temos as usinas nucleares de Angra que merecem atenção”, ressalta o especialista. Além disso, contextos envolvendo o recebimento de refugiados de países fronteiriços contribuem para uma demanda cada vez maior, as chamadas Emergências Humanitárias Complexas.

Ciclo do desastre

De acordo com o Dr. Fabio, o desastre é didaticamente dividido em duas fases:

  • Pré-desastre: Prevenção/Mitigação e Preparação – quando são realizados trabalhos que envolvem medidas de prevenção de desastres e mitigação dos danos, além da preparação das equipes, para que possam atuar na resposta de forma mais efetiva;
  • Pós-desastre: Resposta e Recuperação – referente às ações de resgate e assistência às vítimas, além do foco na recuperação da comunidade afetada pelo desastre.

Esses e outros assuntos serão tratados no 8º Congresso de Emergência Einstein e no 7º Simpósio Internacional de Gerenciamento da Resposta em Catástrofe, que serão realizados entre os dias 18 e 21 de maio de 2023. Dr. Fábio Racy será um dos palestrantes do evento.

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