Projeto Travessia leva voluntários da saúde na Expedição Maria Felipa
Expedição na Ilha de Itaparica, realizada em dezembro do ano passado, é um marco na atuação da iniciativa, reunindo alunos e profissionais voluntários do Einstein

Com atividades acadêmicas voltadas a ações em prol do bem-estar das populações, o Projeto Travessia, que reúne alunos das Graduações da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, entra no quarto ano de atuação com uma das ações mais desafiadoras já realizadas: a Expedição Maria Felipa.
Entre os dias 14 e 21 de dezembro de 2024, equipes de voluntários do Einstein participaram da ação na Ilha de Itaparica (Bahia), com foco no escopo do atendimento em assistência, pesquisa e educação em saúde.
A Expedição reuniu 24 profissionais, entre Médicos, Enfermeiros, Dentistas, Fisioterapeutas, Psicólogos e Nutricionista, além de 49 alunos das Graduações para acompanhar os atendimentos. A Docente responsável pela Expedição foi a Dra. Helena Hachul, com apoio de outros Professores dos cursos.
No total foram mais de 1.000 atendimentos, sendo 491 de Medicina, abrangendo Dermatologia, Ginecologia, Cardiologia, Neuropediatria, Pediatria e Ultrassonografia, além de 98 em Enfermagem, 228 de Odontologia, 60 de Nutrição, 103 de Fisioterapia e 53 de Psicologia.
O nome Maria Felipa é uma homenagem à pescadora nascida em Itaparica, que teve papel importante na região no período da independência do Brasil.
Logística de atendimento
A Expedição envolveu uma estrutura complexa de transporte, alimentação e hospedagem, com sete dias de serviços em Unidades Básicas de Saúde de diversas localidades, para abarcar toda a extensão da ilha. Foram cerca de 200 atendimentos por dia.
Segundo a aluna e voluntária da Graduação de Medicina, Mirella Garcia, a equipe reuniu os Médicos das especialidades e incluiu profissionais da Pediatria do Hospital Einstein de Salvador, para o atendimento a pessoas que não têm acesso ao tratamento qualificado.
“Muitas vezes os pacientes esperam três, quatro ou até cinco anos para conseguir acesso a uma especialidade, pela falta de profissionais no local”, comenta a graduanda, que vai para o sétimo semestre da faculdade.
Agendamentos e prioridades
O objetivo, pontua Mirella, foi levar profissionais até esses pacientes. Por meio de uma parceria com a equipe de saúde local, os agendamentos priorizaram quem estava há mais tempo na fila, com histórico prévio, que precisava com urgência daquele especialista.
“Tivemos casos complexos, levando um tempo maior em consulta, para garantir mais qualidade e explorar o paciente que estávamos conhecendo naquele mesmo dia, da melhor maneira possível”, relata a voluntária.
A equipe de Odontologia realizou a triagem e os atendimentos para os pacientes de unidades satélites, onde a população não possui uma equipe de saúde bucal e não tem acesso a essa assistência. Foram realizados procedimentos como restaurações, exodontias e raspagens.
Enfermeiros atuaram juntamente à Equipe de Estratégia da Saúde de cada Unidade Básica atendida, mapeando e acolhendo pacientes com doenças crônicas não aderentes ao tratamento medicamentoso pertinente. O principal objetivo foi promover conscientização e suporte para usuários hipertensos e diabéticos.
Assistência, educação e pesquisa
Em educação e saúde, o destaque foi o programa Escola de Portas Abertas, no qual cada curso separou momentos do dia para falar sobre os temas baseados nas queixas apresentadas pelos pacientes.
Os estudantes observavam os atendimentos até o momento em que estavam aptos a prestar os serviços, sob a supervisão profissional. “Cada um atendia em sua sala, com a discussão dos casos”, comenta Mirella.
Ela cita, como ponto de atenção, uma demanda considerável de crianças com Transtorno do Espectro Autista. “Na equipe, conseguimos juntar no mesmo Centro de Atenção Especializada a Neuropediatra, a Fisioterapeuta e as Psicólogas, com especialização em neurodesenvolvimento”.
Também foram realizadas oficinas para gestantes e pacientes com diabetes, além de rodas de conversas para mulheres na menopausa e com filhos especiais. Atendendo ao máximo a população local, a programação teve como foco ampliar o alcance de pessoas na ilha.
Alunos de Odontologia aplicaram a Escala de Vulnerabilidade Odontológica (EVO) e foi oferecido um curso de capacitação em urgências odontológicas para profissionais da cidade, com o objetivo de aprimorar os conhecimentos técnicos e fortalecer o atendimento.
Além das consultas, com foco em reeducação alimentar e criação de um plano alimentar individualizado, realizadas pela Docente Roberta Marcondes Machado, responsável pela área da Nutrição, as alunas, junto a ela, fizeram oficinas sobre o consumo de sódio, açúcar, gordura e alimentos industrializados.
Também houve a demonstração de como higienizar frutas, legumes e verduras para o consumo. Foi realizado ainda um curso de capacitação sobre Tratamento Nutricional no Diabetes e Hipertensão, para os profissionais da ilha.
A equipe de Fisioterapia, além de atuar nos atendimentos, proporcionou aulas sobre temas levantados pelos Fisioterapeutas locais, dentre eles diagnóstico e tratamento de TEA, manejo de pacientes com AVC e o uso de escalas de avaliação fisioterapêuticas.
O contato com profissionais locais, como auxiliares, técnicos e Enfermeiros, permitiu capacitações sobre atualização da carteira vacinal nacional, amamentação e cuidados com recém-nascidos, manejo de úlceras venosas e feridas em pessoas diabéticas, fortalecendo ainda mais os momentos de troca em prol da população local.
Em iniciações científicas, um grupo de alunos fez pesquisas a partir da coleta de dados epidemiológicos da região, em Ginecologia e Nutrição, buscando as relações dessas áreas na análise de qualidade de vidas das mulheres. Foram observadas informações sobre alimentação, sono e menopausa, entre outras.
Uma gota de Einstein a cada paciente
“Conseguimos reduzir as filas de espera, com atendimento de excelência, levando uma gotinha do Einstein a cada cidadão. É o que prezamos em cada contato com o paciente”, ressalta a estudante.
Um dos critérios para identificar as necessidades foi buscar um líder da própria comunidade. Foi assim que as equipes conseguiram fontes que mostrassem o que as pessoas de lá precisam e como era possível ajudar.
Mirella lembra que foi uma experiência inédita para a maioria dos alunos participantes. “Foi único, desafiador e enriquecedor. Levarei para a vida, principalmente pelo grande diferencial de unir assistência, educação e pesquisa, o que sempre almejamos no Projeto”, finaliza a voluntária.