Cuidados Paliativos: conhecimento científico a favor da desconstrução de mitos
Baseado em princípios, boas práticas clínicas, comunicação e sensibilidade, o Cuidado Paliativo melhora qualidade de vida e de cuidado de indivíduos com alguma condição de saúde potencialmente grave, ameaçadora à sua vida
O Cuidado Paliativo no Brasil começou por meio de iniciativas isoladas e discussões clínicas na década de 1970. Entretanto, foi a partir da década de 1990 que os primeiros serviços voltados ao cuidado paliativo surgiram de forma mais estruturada, ainda que incipientes. Em outros países, como Inglaterra e Estados Unidos, o movimento paliativo é mais antigo, com serviços especializados e muitas vezes custeados pelo governo.
O que se deseja com o Cuidado Paliativo é promover atendimento de qualidade a pessoas de qualquer idade, desde que estejam em condições graves de saúde, principalmente nos contextos ameaçadores à vida, possibilitando condições dignas, de conforto e bem-estar, incluindo o apoia a seus familiares e cuidadores. “Nesses casos, podemos garantir que as equipes especializadas estejam próximas desse paciente, focando na melhor qualidade de cuidado”, explica a Médica Geriatra do Hospital Israelita Albert Einstein e Coordenadora da Pós-graduação em Cuidados Paliativos do Ensino Einstein, Dra. Ana Beatriz Galhardi Di Tommaso.
Ela conta que o profissional da saúde que atua nessa área deve estar preparado para lidar com um contexto amplo em diversas dimensões do cuidado, envolvendo saúde física, social, espiritual e psíquica. “No mundo ideal, a equipe de Cuidados Paliativos deveria ser composta por vários profissionais de especialidades diferentes. Mas se por algum motivo esse cenário não representar a realidade, é preciso identificar as necessidades e demandas do paciente para o direcionamento adequado”.
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Segundo a Psicóloga e Coordenadora da Pós-graduação em Cuidados Paliativos do Ensino Einstein, Juliana Gibello, o time ideal precisa ser transdisciplinar, composto por Médicos, Enfermeiros, Psicólogos, Assistentes Sociais, Fisioterapeutas, Terapeutas Ocupacionais, Educadores Físicos, Farmacêuticos, Odontólogos, Nutricionistas, além do capelão, entre outros. “Paciente e a família são avaliados precisamente e de uma forma multidimensional, sendo assim, a equipe deve ser interdisciplinar ou até transdisciplinar com responsabilidades técnicas, éticas, comunicacionais e socioemocionais. Não se trata de atendimentos isolados e sim da construção de um plano de cuidados de modo integral por todos os envolvidos”, pontua.
O Cuidado Paliativo vem resgatando a importância do olhar para o paciente e seus familiares, colocando ambos no centro do cuidado com intuito de promover a saúde e não apenas concentrar-se na enfermidade. “É indicado o cuidado precoce, seguindo ao longo de todo o processo do adoecimento até o fim de vida”, diz a Psicóloga.
A importância de descontruir mitos e ideias equivocadas
A visão distorcida e o desconhecimento acerca dos Cuidados Paliativos fazem com que mitos e ideias equivocadas sejam consideradas – havendo confusão até mesmo com a prática da eutanásia, crime previsto em lei brasileira como assassinato. Por isso, é tão importante o papel do profissional especializado. Ele ajudará a desmistificar e desconstruir ideias distorcidas e, ao mesmo tempo, contribuir para a informação, disseminação e consolidação do conhecimento sobre a assistência dessa área de atuação na saúde.
Receber assistência paliativa não significa desistência de tratamentos para salvar a vida ou pelo incentivo à morte. Cuidados Paliativos referem-se ao alívio da dor e do sofrimento pelos quais passam pacientes e familiares. São abordagens com foco nas necessidades de ambos durante todo o processo de adoecimento. “O paciente pode ser hospitalizado, receber a atenção necessária, voltar para casa e continuar a sua vida com qualidade. O processo pode durar muitos anos”, ressalta a Dra. Ana Beatriz.
O objetivo é também de aliviar o sofrimento e garantir o suporte para minimizar e controlar todos os sintomas identificados com base nos conhecimentos, ferramentas e tecnologias disponíveis. “Além disso, os Cuidados Paliativos não se encerram com a morte. Eles acompanham os momentos de luto da família. É um trabalho que leva em conta a individualidade de cada pessoa envolvida em todo o percurso da doença, desde o seu diagnóstico”, explica Juliana.
A formação do profissional de saúde em Cuidados Paliativos precisa ser bastante aprofundada em diversos saberes, pois ele deverá fazer a gestão do cuidado de modo linear, com ótima comunicação e a responsabilidade de incluir a promoção do conhecimento sobre todos os aspectos da situação em que estiver atuando. “Ele precisa disseminar naturalmente para a sociedade todas as atribuições dessa especialidade, assim como colaborar para transformar profissionais da saúde, levando as boas práticas e as estratégias de cuidados para além do atendimento clínico”, completa a Dra. Ana Beatriz.
A boa capacitação considera na equipe especialista as competências de comunicação e socioemocionais como fatores fundamentais, para oferecer o melhor cuidado e colaborar positivamente para o desenvolvimento da carreira. “O enfrentamento da progressão de uma doença ameaçadora da vida exige, do ponto de vista bioético, a defesa do princípio da beneficência para oferecer a melhor qualidade de vida dentro do quadro apresentado”, finaliza a Médica.