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Aprendizagem baseada em projetos estimula alunos na prática

A Aprendizagem Baseada em Projetos contribui para a aplicação prática de propostas da Engenharia Biomédica, visando o melhor desempenho de alunos do Ensino Fundamental

O Project Based Learning (PBL) ou Aprendizagem Baseada em Projetos diz respeito a uma metodologia de aprendizagem ativa, com o objetivo de associar ‘o aprender ao fazer’. Ela é fundamentada na construção do conhecimento de forma coletiva, em que o professor estimula a aplicação prática das teorias aprendidas.

Dessa forma, o docente apresenta aos alunos um desafio baseado em situações reais, oferece uma contextualização do problema e solicita que estudem o assunto e desenvolvam propostas para soluções inovadoras e impactantes para o tema em questão, a partir das seguintes etapas:

1 – Apresentação de um desafio real e seu contexto social;

2 – Imersão dos alunos no ambiente em que ocorre o problema ou desafio e interação com as pessoas e profissionais envolvidos;

3 – Estudo de literatura e banco público de dados;

4 – Coleta e análise de dados;

5 – Produção de um relatório parcial com análise do desafio e propostas de soluções;

6 – Execução do projeto para a produção de um protótipo de solução;

7 – Apresentação final do projeto ou produto;

8 – Avaliação da aprendizagem.

A metodologia tem o propósito de incentivar o protagonismo e a autonomia dos alunos. Por isso, eles são convidados a participar e a investir no desenvolvimento e ampliação de competências.

Engenharia Biomédica contribuindo com a saúde e o aprendizado

Utilizando a Aprendizagem Baseada em Projetos, entre outras metodologias de ensino, no começo deste ano os alunos do primeiro semestre da nova Graduação de Engenharia Biomédica da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) fizeram uma imersão.

O ambiente escolhido faz parte do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP), que tem a missão de promover a justiça social, desenvolvendo ações responsáveis e fundamentadas em princípios, valores de ética e cidadania.

Fundado e gerido por Telma Sobolh, o PECP existe desde 1998 e oferece aos moradores dessa comunidade atividades relacionadas à educação, esporte e saúde de forma integrada. Desse modo, os alunos da Engenharia Biomédica puderam exercitar suas capacidades de assumir desafios e propor soluções inovadoras para melhorar o aprendizado de crianças que frequentam o Programa no contraturno escolar.

O grupo ficou sensibilizado ao perceber certas dificuldades de aprendizado, devido principalmente a comportamentos de hiperatividade das crianças. “Com a mentoria dos docentes, os universitários ao longo do primeiro semestre fizeram um estudo aprofundado e começaram a usar conhecimentos de matemática e física, entre outros que estão aprendendo, para propor soluções ao problema”, detalha o Coordenador da Graduação de Engenharia Biomédica da FICSAE, Welbert Pereira.

Segundo ele, os alunos formaram nove equipes e cada uma desenvolveu um projeto. Um dos grupos percebeu crianças com dificuldade de concentração nas aulas de reforço escolar e nas atividades esportivas e resolveu criar um dispositivo eletrônico.

Baseado em câmeras de infravermelho que filmariam as crianças sem revelar suas faces, esse aparelho conseguiria – por meio da Inteligência Artificial – classificar o padrão de inquietude dos pequenos. “Com dados associados à literatura, foi possível realizar uma espécie de triagem de crianças que estariam supostamente com sinais do Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH) ou a hiperatividade”, explica o Coordenador.

Com foco nesses dois temas, um jogo com várias etapas a ser realizado em aparelhos digitais foi proposto. Esse game conduziria a garotada a diversas fases de coleta de dados para, no fim do exercício de sete minutos, apontar tendências de desenvolvimento do TDAH ou da hiperatividade.

A finalidade, conforme Welbert, é a de auxiliar os professores a mapear o comportamento dessas crianças, a fim de oferecer informações sobre a necessidade ou não de encaminhá-las a Médicos e especialistas dessas áreas, para o diagnóstico de tais problemas.

Um outro time de alunos, dialogando com os professores da área esportiva do PECP, notou a oportunidade de ajudá-los a mensurar parâmetros importantes no desenvolvimento locomotor, como flexibilidade e força. “Existem equipamentos para isso. Mas seria relevante ter algo simples e lúdico para conquistar a adesão das crianças. Assim, os educadores poderiam aprofundar suas verificações sobre os aspectos físicos de acordo com cada atividade proposta”, diz Welbert.

Então esse grupo de alunos desenvolveu um dispositivo de equilíbrio, em que os pequenos poderiam ser observados sobre uma plataforma tendo uma série de sensores distribuídos estrategicamente, os quais gerariam dados a serem mensurados como força nas pernas e o equilíbrio corporal.

Uma segunda solução para esses mesmos parâmetros foi a proposta de criar um software que faria a análise dos dados coletados pelos professores da área esportiva, cruzando essas informações a partir do uso da Inteligência Artificial com referências padronizadas contidas na literatura da área. “A ideia seria gerar sinais de alerta quanto aos indicadores considerados acima da média da normalidade”.

Inclusão na grade curricular

Instituições de engenharia nos Estados Unidos vêm amplamente utilizando a Aprendizagem Baseada em Projetos. “Nós aprendemos essa metodologia com o Massachusetts Institute of Technology (MIT) e implementamos inicialmente na Engenharia Biomédica para, em seguida, expandir aos demais cursos do Einstein. Somos pioneiros na implementação de PBL na área da saúde”, orgulha-se Welbert.

Esse recurso está inserido na grade de extensão curricular da Graduação de Engenharia Biomédica da FICSAE, visando exercitar o conteúdo de uma série de matérias de modelagem, metodologia científica e ética em situações reais. “É uma experiência enriquecedora que considera o conhecimento e as práticas das vivências acadêmicas dos alunos diretamente ligadas a uma devolutiva favorável para a sociedade”, enfatiza o Coordenador.

Ao final do primeiro semestre deste ano, nove projetos em formato de texto, acompanhados de seus respectivos protótipos, foram entregues ao PECP, que pode buscar maneiras de implementá-los.

Welbert adianta que no próximo semestre os mesmos alunos farão projetos com abordagem computacional para o desenvolvimento de novos medicamentos voltados ao câncer. Dessa vez, o beneficiário a participar das possíveis inovações, além dos pacientes, será a indústria farmacêutica. “Vamos dialogar também com o setor de Oncologia do Einstein, que atende também o Sistema Único de Saúde (SUS)”, alegra-se.

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