Como o profissional de saúde pode influenciar no desenvolvimento cognitivo infantil
Longos períodos diante de telas sem supervisão podem expor a criança a conteúdo prejudicial às fases de seu desenvolvimento, afetando negativamente sua compreensão do mundo
Historicamente, a saúde mental é responsável por promover o desenvolvimento humano equitativo e sustentável. De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde (OMS), “o bem-estar leva ao indivíduo a capacidade de potencializar suas habilidades, recuperar-se do estresse rotineiro, ser produtivo, ter equilíbrio emocional e ainda contribuir com pessoas”.
A prevenção de problemas na saúde mental começa na fase uterina, com acompanhamento da gestante e do bebê, na oferta de ambientes emocionalmente saudáveis. Prolongados durante toda a infância, esses cuidados tendem a gerar resultados bastante satisfatórios.
Cuidados com desenvolvimento cognitivo
O desenvolvimento cognitivo da criança é um processo complexo, que ocorre de forma progressiva conforme sua interação com o ambiente, recebendo estímulos e tendo experiências paralelamente à evolução do Sistema Nervoso Central (SNC).
A Médica Neuropediatra, especialista em Desenvolvimento Neuropsicomotor da Infância do corpo clínico do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), Dra. Rejane de Souza Macedo Campos, explica que o desenvolvimento cognitivo da criança conta com estímulos positivos desde os primeiros meses de vida. “É importante oferecer condições para ela alcançar os melhores resultados de seu potencial, de modo a sentir-se protegida e amada”.
A especialista enfatiza a relevância de a criança crescer em um lar saudável, considerando os aspectos socioemocionais e culturais. “Além da estruturação genética, as crianças precisam sentir o amor e a atenção da família, assim como receber uma alimentação adequada, bons exemplos envolvendo princípios de cidadania, valores e direitos humanos, comunicação não violenta, musicalização e brincadeiras que promovam a interação social”.
Esses fatores integrados contribuem para o melhor desenvolvimento neuropsicomotor nos estágios de aperfeiçoamento cognitivo durante a infância, de acordo com cada faixa etária. “A forma conceitual que a criança tem de aprendizado é a brincadeira. Para cada idade existem tipos de entretenimento tanto ligados ao intelecto quanto ao exercício do corpo”, ressalta a Médica.
Ela também aconselha evitar a exposição exagerada às telas e dispositivos digitais, como televisão, celular, tablet, computador etc. O tempo excessivo de tela, especialmente para crianças pequenas, tem sido associado a potenciais efeitos negativos em seu bem-estar físico e mental.
Os profissionais da saúde também podem orientar pais, familiares e cuidadores sobre o fato de que passar muito tempo na frente das telas pode prejudicar o desenvolvimento de habilidades essenciais às crianças, como: aquisição da linguagem, interação social e capacidades motoras finas.
Além disso, as horas desmedidas diante das telas, principalmente antes de dormir, podem interromper os padrões de sono; contribuir para um estilo de vida sedentário, aumentando o risco de obesidade infantil; estimular ansiedade e depressão; além de prejudicar a interação social, entre outros comportamentos. A Academia Americana de Pediatria (AAP) e outras organizações recomendam:
- Menores de 18 meses: evite o uso de telas que não sejam de bate-papo por vídeo
- De 18 a 24 meses: tempo limitado e supervisionado com conteúdo educacional de alta qualidade
- De 2 a 5 anos: máximo de 1 hora por dia de programação de alta qualidade, com supervisão
- Acima de 6 anos: defina o período gasto com temática apropriada à idade.
Fases do desenvolvimento cognitivo da criança
O desenvolvimento cognitivo da criança é um assunto recomendado para todos os profissionais e alunos do setor de saúde, além dos pais, cuidadores e familiares. Além da Medicina, o tema que engloba também o comportamento e o bem-estar emocional e físico tem intersecção com atividades ligadas a profissionais de: Enfermagem, Farmácia, Biomedicina, Odontologia, Educação Física, Fisioterapia, Fonoaudiologia, Psicologia e outras áreas do conhecimento.
Por isso, compreender de modo geral os quatro estágios básicos e mais comuns do desenvolvimento infantil pode ajudar em diagnósticos, tratamentos e colaborar com mais saúde mental e física:
Estágio sensório-motor-linguagem (do nascimento aos 2 anos):
A criança começa a ter a noção de permanência dos objetos, observar sons, temperaturas, tato, paladar, cores, espaços físicos etc. A coordenação motora progride, permitindo que ela alcance e manipule coisas, ganhando mais equilíbrio e sustentação corporal, andando sem apoio. A fala, emoções e a memória também estão se desenvolvendo nessa fase.
Estágio pré-operacional (dos 2 aos 7 anos):
Uso de símbolos para representar objetos e eventos. A linguagem se desenvolve rapidamente, bem como a imaginação e o jogo simbólico, com importante papel no aprendizado.
Estágio operacional concreto (dos 7 aos 11 anos):
Capacidade de pensar mais logicamente. Há o entendimento de conceitos de conservação (por exemplo, que a quantidade de líquido não muda, mesmo que seja colocado em copos de formas diferentes). Ela também aprende a resolver problemas matemáticos simples.
Estágio operacional formal (dos 11 anos em diante):
Capacidade de pensar de forma mais abstrata e lógica, conseguindo lidar com hipóteses, realizar raciocínios complexos e refletir sobre possibilidades futuras. O pensamento crítico e a resolução de problemas mais elaborados tornam-se acessíveis.
A Dra. Rejane ressalta que essas progressões não são lineares, já que pode haver retrocessos e avanços em algumas áreas. “O cérebro é o órgão mais importante e sofisticado do nosso corpo. Quando a criança passa por profundas transformações estruturais – no primeiro ano de vida, por exemplo -, formam-se novas redes de conexões neurais. A partir daí, inicia-se o desenvolvimento de habilidades cognitivas superiores, conclui”.
A especialista foi convidada para discutir o assunto na Academia Digital. Assista ao vídeo .