Docentes Einstein contribuem na implementação da Unidade de Atenção Primária Indígena voltada à Covid-19 para os Wajãpi
Durante a pandemia ocasionada pelo novo coronavírus, duas Médicas e docentes do Ensino Einstein contribuíram para o Projeto Wajãpi, que há 20 anos atua nessa comunidade indígena.
Nesse momento de pandemia devido ao novo coronavírus, muitas desigualdades ganham força em todo o país, principalmente as que envolvem pessoas em situações de alta vulnerabilidade. Aquelas que estão mais expostas à contaminação pelo vírus são, muitas vezes, as que têm mais dificuldade no acesso a tratamentos médicos, a exemplo do povo Wajãpi, o público-alvo do Programa Wajãpi, realizado pelo Iepé (Instituto de Pesquisa e Formação Indígena).
Trata-se de uma organização não governamental, sem fins lucrativos, fundada em 2002 por antropólogos, biólogos e educadores, que atua junto às comunidades indígenas localizadas nos estados do Amapá e Pará.
Ao longo da existência do Programa, criado há mais de 20 anos, portanto antes da fundação do Instituto, destacam-se: as ações em prol da demarcação e permanente fiscalização da terra indígena Wajãpi, a formação de Professores, Pesquisadores e de Agentes Indígenas de Saúde, o fortalecimento político e a gestão de associações. Essa iniciativa ainda conta com discussão sobre gestão ambiental e territorial, fator decisivo para a manutenção da qualidade de vida e conservação ambiental do território.
O trabalho voltado à formação dos Agentes Indígenas de Saúde conta com a participação da Dra. Mariana Maleronka Ferron, docente da Graduação em Medicina do Einstein, que há dez anos dedica-se à capacitação desses profissionais.
Com os apoios do Iepé e do Distrito Sanitário Especial Indígena (DSEI), responsável pela Atenção Primária nessas áreas indígenas, ela tem visitado os Povos Wajãpi de duas a três vezes por ano, tanto para formar novos Agentes, quanto para atualizar os conhecimentos e protocolos de atendimento dos que já atuam na comunidade.
Com a chegada do novo coronavírus ao Brasil, o Programa Wajãpi tem feito parte de um plano multissetorial de ações em conjunto com o DSEI, a Fundação Nacional do Índio (Funai) e o Ministério Público, entre outros atores. Juntas, as instituições desenharam, implementaram e estão coordenando iniciativas que promovem o cuidado à saúde dos Wajãpi.
No primeiro momento em conjunto com os indígenas, a opção foi por implantar medidas de isolamento. “Entre elas, a criação de barreiras sanitárias, como a instalação de um portão na entrada de suas terras para conter a circulação de pessoas e limitar o acesso”, explica a Dra. Mariana Ferron.
Somado a isso, a partir de uma articulação entre o Iepé, Funai e DSEI, foi possível conseguir subsídios para disponibilizar aos Agentes Indígenas de Saúde medicamentos básicos, testes de detecção da malária, máscaras e oxímetros, além de garantir alimentação para que a comunidade pudesse ficar isolada com segurança.
Nesse sentido, o segundo momento foi investir em informar os Agentes Indígenas de Saúde sobre todo o conhecimento e descobertas relativas ao novo coronavírus e à Covid-19, até então. Dessa forma, as informações, gravadas em áudios via Whatsapp, eram repassadas aos Agentes Indígenas de Saúde, que por sua vez as retransmitiam por radiofonia para toda a comunidade.
Assim, criou-se uma rede de comunicação interna capaz de disseminar também os cuidados e restrições para o combate à pandemia. “O fato de trabalharmos lá há muitos anos facilitou a interação, que teve total apoio das instituições envolvidas”, completa a Docente do Ensino Einstein.
Como ação complementar às medidas de isolamento, foi instalada por meio da parceria entre Iepé, DSEI e a ONG Expedicionários da Saúde, uma Unidade de Atendimento Primário Indígena (UAPI), no Posto Aramirã, permitindo o atendimento de pacientes com Covid-19, de leve e moderada complexidade, fornecendo tratamento medicamentoso e ventilatório, materiais, testes e demais orientações sobre a pandemia.
Primeira vez
De acordo com o cenário relacionado ao novo coronavírus, a Dra. Mariana Ferron convidou a docente da Graduação em Medicina do Einstein e Infectologista, Dra. Vivian Avelino-Silva, para colaborar com a atenção à saúde dos Wajãpi. “Foi uma experiência única”, conta ela, que chegou ao território indígena para contribuir com as orientações, testagem rápida, discussões de protocolos e capacitação da equipe multiprofissional de saúde local.
As duas embarcaram no dia 30 de junho e voltaram a São Paulo em 13 de julho. O convite e a autorização para entrarem em terras indígenas partiram do Coordenador e Gestor local do DSEI Amapá e Norte do Pará, Dr. Roberto Wagner Bernardes, e da antropóloga e Coordenadora de Formação dos Agentes Indígenas de Saúde pelo Iepé, Dra. Juliana Rosalen.
O trabalho foi intenso e muito compensador, segundo a Dra. Vivian. “Detectamos apenas cinco casos de contaminação, mas já com anticorpos contra o novo coronavírus e a não existência de transmissão comunitária. “Um grande alívio, principalmente considerando que a área teve uma situação de contágio e desenvolvimento da Covid-19 preocupantes”.
Parte dessa etnia vive próxima à estrada BR-210. E para chegar lá, elas foram de avião até Belém, embarcaram em um outro voo para Macapá e em mais um carro de tração nas quatro rodas, totalizando sete horas e meia de percurso. “Numa das visitas que fizemos, usamos um pequeno barco para chegar a uma aldeia mais remota, onde também fomos muito bem recebidas”, conta a Dra. Vivian.
Apesar de se interessar por estudos em diversos tipos de comunidade, ela não havia tido contato com nenhuma outra população indígena. “Foi inesquecível e muito enriquecedor tanto do ponto de vista profissional quanto pessoal. Eu sempre admirei a interação e respeito que eles têm pela natureza, além da rotina simples de vida”.
Conforme a docente, o seu trabalho não acabou. Juntamente com a Dra. Mariana, ela pretende continuar apoiando ações de monitoramento e comunicação direcionados aos Agentes Indígenas de Saúde, assim como contribuir com seus alunos sobre esse tema específico em uma de suas disciplinas da Graduação em Medicina.
Os trabalhos nas terras indígenas são permanentes e, além do foco em saúde, o Iepé mantém os Programas Tumucumaqui e Oiapoque, voltados, entre outros temas, à preservação da cultura indígena, sustentabilidade ambiental e saúde.
Programa de extensão
A participação da Dra. Mariana Ferron no Programa Wajãpi promoveu a criação, desde janeiro deste ano, do Projeto de Extensão Universitária junto aos alunos da Graduação em Medicina do Ensino Einstein. “Já levamos a Mariana Elias Lipay e o Bernardo Ferreira Camilo, ambos da turma IV, os quais colaboraram com aulas de formação dos Agentes”, conta a Dra. Mariana.
De acordo com ela, essa extensão tem por objetivo incentivar os alunos a prepararem materiais para as aulas que os Agentes receberão, além de ajudar na organização e discussão de conteúdo específico durante os treinamentos. “Muito entusiasmados, eles também entraram em contato com uma cultura e comportamento completamente diferentes dos que estão acostumados”, acrescenta.
Atualmente o Programa com os alunos está paralisado devido à pandemia, mas a Dra. Mariana continua estruturando as futuras visitas. “Retomaremos assim que possível”, finaliza.