Eu sou Einstein

Formações na área da saúde têm ajudado a dar mais autonomia às mulheres, avalia enfermeira

Bruna Massa acredita que abertura do setor da saúde às mulheres contribui para diminuir desigualdade de gênero no mercado de trabalho.

A paulistana Bruna Massa, de 36 anos de idade, diz ter “grande aptidão para cuidar”. Graduada, primeiramente, em Medicina Veterinária, ela chegou a trabalhar por oito anos na área, mas aos poucos foi se sentindo frustrada com o que fazia profissionalmente e decidiu procurar outra formação. “Queria algo que me desse realmente prazer e motivação”, lembra. “Tinha muito afeto por animais, mas meu interesse era mais para a saúde humana”, explica.

Com a orientação de uma psicóloga especializada em carreiras, Bruna escolheu a Graduação em Enfermagem. “Eu brinco que não sei se fui eu que escolhi a Enfermagem ou se foi a Enfermagem que me escolheu, mas o fato de ser uma profissão com amplo mercado de trabalho acabou me atraindo”, conta.

Bruna foi a melhor classificada no processo seletivo da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e recebeu uma bolsa de estudos integral para o primeiro ano do curso, iniciado em 2015. Com poucas semanas de aula, ela já constatou que estava na área certa e, a partir do segundo ano da Graduação em Enfermagem, começou a fazer iniciação científica, com uma bolsa de estudos da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), com o objetivo de pesquisar o uso do transplante autólogo no tratamento oncológico.

No final de 2018, Bruna terminou sua pesquisa da Fapesp e a Graduação em Enfermagem e decidiu se especializar. “Comecei na semana passada a Residência Multiprofissional em Oncologia, também no Einstein. E, para minha surpresa, consegui a única vaga disponível”, informa.

Em defesa da igualdade de gênero

Com a mesma empolgação que conta sobre suas experiências exitosas na Graduação em Enfermagem, Bruna defende a igualdade de gênero. “É uma questão que me interessa bastante. Leio muito a respeito, acompanho diversas discussões sobre esse assunto”, enfatiza. “Não sou a favor do predomínio das mulheres em nenhuma profissão, mas sim de um maior equilíbrio em todas elas, sem exceção”, completa.

Neste 8 de março, Dia Internacional da Mulher, Bruna reflete sobre os avanços e desafios da população feminina no mercado de trabalho, em especial na área da saúde.

Para ela, o predomínio de mulheres na enfermagem, que, segundo estimativas do Conselho Federal de Enfermagem (Cofen), representam aproximadamente 84% da mão de obra no setor, tem ajudado a inserir milhares de mulheres no mercado de trabalho, dando assim maior independência e autonomia para muitas delas.

Bruna, no entanto, defende que a enfermagem passe a ser vista de forma mais completa e não apenas associada ao cuidado assistencial. “É claro que se trata de uma função em que o carinho e o cuidado são fundamentais, mas antes de tudo isso existe muita técnica e pesquisa em saúde”, afirma.

Mesmo percebendo há vários anos que tinha aptidão para cuidar, ela lembra que teve que se preparar bastante para exercer a função de enfermeira. “Foram quatro anos intensos de Graduação, agora serão mais dois anos de Residência”, diz. “Tenho estudado e me dedicado muito para me tornar uma profissional especializada”, acrescenta.

Bruna aproveita o Dia Internacional da Mulher para lembrar que a população feminina tende a ser menos valorizada financeiramente no mercado de trabalho. Ela pede ainda sororidade entre as enfermeiras e outras profissionais da saúde e maior participação das mulheres no campo da pesquisa. “Algumas conquistas já vieram, mas muitas outras ainda são necessárias”, avalia.

Dados sobre a participação das mulheres no setor da saúde

Em um dos levantamentos mais amplos sobre uma categoria profissional já realizado no país, o estudo Perfil da Enfermagem no Brasil, a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e o Cofen observaram, em 2015, que cerca de 80% dos profissionais da enfermagem tinham formação de Pós-Graduação. Em relação à equipe de enfermagem, que envolve profissionais técnicos e graduados, 91,8% estavam ativos no mercado de trabalho.

Na pesquisa “A Força de Trabalho do Setor de Saúde no Brasil: Focalizando a Feminização”, divulgada pela Fiocruz em 2010, mas até hoje usada como referência no assunto, os autores observam que embora esteja ocorrendo uma redução das desigualdades profissionais entre os gêneros, a maior parte dos empregos femininos ainda está concentrada em alguns setores de atividade, como o da saúde.

​Segundo essa pesquisa, a participação das mulheres representava quase 70% do total de profissionais na área da saúde, sendo 62% da força de trabalho das categorias profissionais de nível superior, e 74% nos estratos profissionais de nível médio.

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