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Importância da assistência direcionada à saúde mental para alunos e profissionais durante a pandemia da COVID-19

​No Einstein, alunos e colaboradores de todas as áreas da saúde têm apoio psicológico durante a crise pandêmica causada pelo novo coronavírus.

O cenário mundial envolvendo a pandemia causada pelo novo coronavírus tem sugerido uma atenção especial direcionada aos profissionais da saúde atuantes na linha de frente da assistência à COVID-19, os mais afetados psicologicamente.

Com base nisso, o Ensino Einstein, que tem entre suas prioridades a preocupação com seus alunos, lançou, em meio à pandemia, a OUVID, uma plataforma para atender seus estudantes, os futuros profissionais da área. Trata-se de disponibilizar uma ferramenta dotada de recursos tecnológicos de ampliação de sua rede de apoio emocional diante da crise sanitária.

Disponível pela Intranet, a plataforma OUVID oferece ao usuário podcasts, vídeos, orientações e imagens fotográficas da natureza. Todos os materiais foram selecionados para fazer bem à mente, promovendo sensações de relaxamento, paz e tranquilidade.

Além disso, os usuários têm acesso a uma série de orientações para realizar, em casa, ações como meditação, yoga e exercícios físicos para os níveis iniciante, médio e avançado. Há também textos informativos, dicas de alimentação saudável com nutricionistas do Einstein – que também demonstram como cozinhar os alimentos -, atividades culturais e brincadeiras para crianças.

Além desses recursos da plataforma OUVID, os estudantes da Graduação em Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) têm acesso ao trabalho da Coordenadora de Pós-Graduação e Especialista em Prevenção e Promoção da Saúde e Psicóloga, Ana Cristina Procópio de Oliveira Aguiar. Ela tem atendido esses alunos para dar apoio psicológico por meio de ferramentas de videoconferência e WhatsApp.

Essa ação partiu de relatos de integrantes do Centro Acadêmico de Medicina sobre a preocupação dos alunos em relação à mudança de rotina, ao isolamento social e ao medo da contaminação. “É um momento que pode gerar muita angústia e é importante buscar a estabilidade emocional”, adianta a Coordenadora.

Ela diz que muitos sentimentos negativos foram gerados na fase inicial da pandemia. Entre eles a raiva, a tristeza, o abandono e a solidão, causando algumas vezes estados de confusão, agressividade, insônia e revolta, o que amplia ainda mais o medo. “Agora estamos na etapa da assimilação sobre o que de fato está acontecendo, envolvendo os riscos, alteração dos hábitos, de planos e criação de maneiras para lidar com a ansiedade, as incertezas e o temor, que deve perdurar até o fim da pandemia”.

Para atender os estudantes que a procuram, a Psicóloga lança mão de estratégias utilizadas pelos alunos para lidar com situações anteriores de crise e a maneira com a qual tiveram de enfrentá-las. Assim, eles têm conseguido organizar melhor as tarefas e pensamentos, de modo a exercitar a resiliência e a capacidade de preservar a saúde mental nesse momento.

NAE

O trabalho de Ana Cristina soma-se às diretrizes de cuidados aos alunos, os quais já contam com o Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE), uma iniciativa que está em prática há mais de dois anos e que tem como premissa a promoção de saúde e bem-estar, por meio de diversas ações.

Segundo o Psiquiatra e Coordenador do NAE, Dr. Fábio Pinato Sato, os alunos estão tendo tempo para se prepararem emocionalmente a fim de manejar situações como essas quando se tornarem profissionais da saúde. “No futuro poderão ser eles a atuarem na linha de frente de situações críticas, então, podem aproveitar essas ações para se conhecerem melhor e aprenderem a agir de maneira inteligente nesse momento”.

Conforme o Médico, para o profissional da saúde, a demanda é sempre o outro, mas tem de cuidar dele também, prestando atenção aos seus sentimentos e angústias, ao mesmo tempo em que busca alternativas para ajudar na superação de cenários negativos causados pelo novo coronavírus. “É importante promover espaços para falar, se adaptar e se sentir confortável para tomar as medidas que trarão o bem-estar”.

Ele também lembra que não é necessário ser produtivo o tempo todo. “Tem de continuar a rotina semelhante à que a pessoa tinha antes do coronavírus, mesmo dentro de casa. Além disso, é fundamental inserir atividades que fazem bem, como ver um filme, ler um livro, conversar com os amigos no formato online, sem excessos”.

Os dois profissionais destacam ainda a importância do acesso a notícias sobre a pandemia em fontes seguras e moderadamente. Ficar longe das fake news e de um número muito grande de informações é aconselhável. “A própria Organização Mundial da Saúde (OMS) orienta esse tipo de leitura e de visualização até duas vezes por dia”.

Segundo Ana Cristina, é fundamental tomar todas as medidas de biossegurança amplamente divulgadas pela mídia, tanto para não ser contaminado pelo vírus quanto para não transmiti-lo. Manter as redes socioafetivas e os grupos e associações dos quais o estudante já fazia parte antes do novo coronavírus compõe as suas recomendações. “Aceitar suporte tanto de especialistas como de pessoas disponíveis a ajudar também é relevante”.

Hospital

Os profissionais da saúde também estão sendo amplamente cuidados. “É fundamental que eles cuidem tanto da saúde mental quanto da física, até para não correr o risco de apresentar doenças crônicas ou outras enfermidades que possam fragilizar o sistema imunológico”, explica a Gerente Médica de Saúde Populacional do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), Dra. Raquel Dilguerian de Oliveira Conceição.

Segundo a Coordenadora Médica de Saúde Populacional do HIAE, Dra. Dulce Pereira de Brito, uma pesquisa realizada com 1.200 profissionais da saúde em 34 hospitais da cidade chinesa de Wuhan, durante a assistência a casos da doença, aponta que mais de 70% deles tinham sentimentos de angústia muito importantes. Outros 50% desenvolveram depressão. Mais de 40% tiveram de lidar com transtornos ansiosos como crise de pânico e de choro e 34% passaram a ter insônia.

Visando cuidar de seus colaboradores, o Einstein, que já possui o Programa Cuidar, um benefício para os funcionários integrados ao plano de saúde corporativo, também implantou para esse público a plataforma OUVID. A iniciativa que começou em março também conta com a hotline, psicoterapia e ações in loco (chamadas Momento OUVID).

Desde sua criação, além dos alunos, a plataforma também tem estado disponível para atender os 30 mil colaboradores, atuando ou não na linha de frente, incluindo seus respectivos familiares. “Todos eles precisam se sentir acolhidos, pois esse acompanhamento psicológico é de total importância nesse momento”, enfatiza a Dra. Dulce de Brito.

Os profissionais da saúde sofrem o mesmo tipo de pressão que qualquer outra pessoa, as mesmas inseguranças, incertezas e medos. A diferença é o grau de exposição, principalmente nos casos de médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, maqueiros, camareiros, copeiros e faxineiros. Todos eles estão mais expostos, conforme esclarece a Dra. Raquel Dilguerian.

Ela também alerta para o fato de que hábitos de dormir pouco, comer inadequadamente e não praticar atividade física podem permitir um quadro mais grave diante das infecções atribuídas ao coronavírus.

Em relação à saúde mental tanto dos colaboradores quanto dos futuros profissionais de saúde, a Gerente Médica defende a importância de aproveitar o período da pandemia para ressignificar a escolha, permitindo fortalecer as convicções e a vocação para o cuidado.

Momento OUVID
No Einstein, duas vezes por semana há a promoção de rodas de conversas comandadas por um psiquiatra, além de sessões de meditação, técnicas de respiração, dicas de hábitos de vida saudável e exercícios laborais nas chamadas áreas quentes do Hospital, que são espaços de mais exposição ao vírus como Unidades de Terapia Intensiva (UTI), de Pronto Atendimento (UPAs) e salas de observação.

Dessa forma, já estão sendo reforçados: o trabalho em grupo, relacionamentos colaborativos e de confiança e, principalmente, o reconhecimento sobre a importância de se fazer pausas durante o dia para ressignificar esse momento de grande preocupação, explica a Dra. Raquel Dilguerian.

Com isso tem se trabalhado a gestão do estresse, do medo e a comunicação não violenta dentro e fora da Instituição. Conforme ela, especificamente para os profissionais da limpeza, camareiros, copeiros e cozinheiros foi estruturado um projeto chamado “Jornada do Propósito”, que reúne 400 pessoas na realização de oficinas específicas e as demais atividades contidas na OUVID.

De acordo com a Dra. Dulce de Brito, a plataforma OUVID tem a missão de promover a calma, aumentar a resiliência e restaurar a esperança. “Com esse tripé, esperamos nos preparar para um novo estilo de vida, além de trabalharmos para ter mais empatia e paciência um com o outro para chegarmos ao final bem estruturados emocionalmente”.

Hotline e outras terapias
hotline do Hospital é voltado à preservação e fomento à saúde mental de seus colaboradores e foi expandido para atender pessoas com diferentes situações causadas pelo novo coronavírus. Com isso, esses profissionais também podem ligar e conversar sobre os temas que estão latentes no momento. Do outro lado da linha sempre terá um especialista em psicologia e psiquiatria para atendê-los.

Além disso, foram disponibilizadas até seis sessões presenciais com psicólogos da Instituição, a fim de dar direcionamento a casos mais específicos, inclusive aos que necessitarem de encaminhamento com médico de família ou psiquiatra. “Nós vamos ajudar a lidar com as limitações, seja qual for a dor da pessoa”, completam as Médicas.

Dessa forma, diante desse contexto pandêmico, todos os assuntos que envolvem o novo coronavírus causam preocupações da sociedade como um todo. Por isso, o principal foco é cuidar primeiro das pessoas, para que possam enfrentar essa fase da melhor maneira possível, com todo o suporte necessário.

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