Na Europa: Ex-alunas da Graduação em Enfermagem do Einstein compartilham suas experiências
As enfermeiras Daiana Ferro, que atua na Inglaterra, e Beatriz Araujo da Silva, na Alemanha, revelam detalhes desde o início do processo de validação do diploma até a conquista das vagas, com a consolidação das suas carreiras.
Cresce cada vez mais o interesse de jovens recém-formados em ingressar numa carreira internacional, o que se revela latente nos estudantes. A pandemia veio consolidar tal cenário, mostrando o papel do Enfermeiro em tantas frentes no mundo inteiro. Daí a importância de buscar, junto a ex-alunos, reflexões e compartilhamento das experiências, mostrando uma realidade possível e concreta. Mais que isso: que o conhecimento adquirido na Graduação Einstein é levado na bagagem e colocado em prática com louvor lá fora, destacando o papel de protagonismo da Enfermagem nunca visto antes.
Duas grandes profissionais relatam suas experiências vividas em outro continente, levando o nome da instituição. São elas: Daiana Ferro, enfermeira do University Hospital Southampton, em Southampton, na Inglaterra, e Beatriz Araujo da Silva, enfermeira da UTI do Bürgerhospital Frankfurt amMain, na Alemanha.
Daiana Ferro formou-se em 2016 na Graduação em Enfermagem da Faculdade Israelita de Ciência da Saúde Albert Einstein (FICSAE). Durante o curso, fez monitoria em Epidemiologia, trabalhando com fluxo de leitos, coleta de dados para pesquisa científica e gerenciamento de pacientes crônicos. No último ano da Graduação, fez estágio em Geriatria e na UTI. No hospital em Southampton, atua como pesquisadora, e, atualmente, trabalha com pesquisas voltadas novas vacinas e tratamentos para a COVID-19. Começou em agosto de 2020, entre as duas ondas da pandemia. Havia se cadastrado em várias vagas de emprego e na primeira delas foi aprovada, o que lhe trouxe grande alegria e emoção.
Beatriz Araujo da Silva, também ex-aluna e atuante na Alemanha, formou-se na Graduação em Enfermagem do Einstein em 2017 e está tendo oportunidade de colocar em prática tudo o que viu na faculdade, consolidando seu aprendizado. Durante o curso, investiu em várias oportunidades, fez iniciação científica com foco emoncologia pediátrica e estágio extracurricular em Oncologia. Participou também de um estágio internacional nos EUA, na área de Oncologia, durante um mês, além de um ano de Ciências sem Fronteiras, na Inglaterra. Está em Frankfurt há um ano, trabalhando como enfermeira numa UTI. Muitos elementos na formação das profissionais favoreceram suas carreiras. “A carga horária de estágios curriculares que tivemos na faculdade é maior do que as faculdades têm aqui, então isso já foi um diferencial na minha formação”, afirma Beatriz.
Daiana complementa lembrando que tanto a experiência teórica quanto prática a colocaram numa posição bastante sólida para começar, independentemente de onde fosse, no Brasil ou no exterior. “Quando cheguei aqui descobri que a Enfermagem só tem três anos de Graduação, com menos estágio monitorado se comparado ao que fazemos no Brasil. Quando fiz a validação do meu diploma, com entrega da documentação, houve agilidade e muito apoio do Einstein. Quanto à carga horária, tive a resposta aqui que é compatível com uma Graduação e uma Pós. Isso fez com que eu já começasse bem, com o reconhecimento de que o conteúdo e a base curricular do Einstein são fortes e sólidos. Isso me deu mais autoconfiança”.
Pré-requisitos e primeiros passos
Beatriz relata que para sua carreira internacional teve o respaldo de uma agência, que enviou toda a documentação requisitada, tanto no aspecto acadêmico como profissional. Também houve o processo de validação, com a avaliação do registro de Enfermagem, em relação à carga horária e conteúdo do curso. Com o parecer favorável, ela foi para a Alemanha, chegando já com o emprego e toda a documentação em ordem, passando por somente três meses de adaptação no hospital. Ao final desse período, fez uma prova, com uma discussão de caso com os enfermeiros avaliadores. Aprovada, já começou como Enfermeira de UTI.
Ambas as profissionais fizeram testes de proficiência nos idiomas oficiais, além de toda a documentação necessária para o processo, que inclui análise de currículo, entrevista, prova escrita e prática.
Mas com Daiana foi um pouco diferente. A partir do interesse em atuar fora do Brasil, ela aprimorou o idioma inglês e reuniu sozinha todos os requisitos necessários, incluindo registros e documentos, com aplicações on-line durante o período da pandemia.
Com o registro obtido, candidatou-se às vagas, conseguindo entrar rapidamente – vale lembrar que na Inglaterra há um déficit de aproximadamente 90 mil enfermeiros. Não foi simples, o processo demorou três anos. Com uma vaga disponível no hospital onde atuava, começou como assistente de pesquisa clínica, enquanto aguardava o registro para atuar à beira-leito. Conseguiu a vaga em outubro de 2018, em um núcleo que dava o suporte do laboratório de patologias para várias pesquisas. “Propus fazermos um grande banco de dados, todo eletrônico, um grande trabalho que enquanto enfermeira eu sabia que era essencial. Era o meu conhecimento de Enfermagem aplicado nesse banco de dados, porém, me possibilitando alçar voos, fazer networking, até de fato conquistar a vaga efetiva como Enfermeira, já com o registro.”
Na Graduação em Enfermagem do Ensino Einstein, lembram as ex-alunas, existem oportunidades importantes, como a monitoria, que são atividades desenvolvidas dentro da Instituição, desde o primeiro semestre do curso, não estando diretamente relacionada à assistência, num período fora do horário das aulas. Durante a Graduação existem os estágios curriculares, quando os alunos têm a chance de atuar em várias áreas, a depender do semestre em que se encontram, sendo um estágio que se caracteriza realmente pela prática, tanto no setor público quanto no privado. Outro ponto primordial é o estágio extracurricular, não obrigatório, que acontece a partir do terceiro ano, em período fora da grade curricular, desenvolvendo raciocínio clínico, tomada de decisões, habilidade técnica, interação com equipe, bem o papel do enfermeiro ao longo da sua carreira.
Diferenças de atuação e o dia a dia
Daiana comenta que no processo de transição para a carreira internacional, o conhecimento demonstrado é um facilitador. Na prática, o trabalho do profissional precisa ser conhecido para que se tenha segurança, além disto, com a percepção de outras competências do Enfermeiro como liderança e trabalho interprofissional, com um pacote de treinamentos necessários. Ela teve três dias de entrevista para a vaga conquistada e sua experiência foi primordial. Tudo é avaliado e somado. Beatriz reforça que, na Alemanha, o processo todo foi similar e o contato anterior com o paciente foi fundamental.
Beatriz trabalha em todos os horários, optando por essa flexibilidade de turnos. O salário mensal gira em torno de 3.500 euros, fora as horas extras, que chegam a acrescentar entre 500 e mil euros aos vencimentos. “Na minha unidade temos 39 dias úteis de férias. Já o papel do auxiliar ou técnico até existe, mas difere do que é visto no Brasil.”
Na Inglaterra, Daiana conta que trabalha de segundas a sextas-feiras, das 8h às 16h, somando oficialmente 37 horas e meia semanais. Um Enfermeiro de entrada tem um salário anual de 25 mil libras por ano, e as férias são discutidas com o empregador, sendo de bom tom e cultural na Inglaterra não ficar mais de duas semanas longe do trabalho, com a distribuição ao longo do ano.
Interação com estrangeiros
Beatriz revela que sua unidade tem aproximadamente 70% de estrangeiros, sobretudo espanhóis, colombianos e croatas, num ambiente multicultural. Já Daiana afirma a predominância de Enfermeiras Filipinas e muitos Médicos do Oriente Médio, com um excelente ritmo de trabalho, que flui muito bem, mesmo diante de culturas tão distintas.
A formação e a cultura de cada umcontribuem para um resultado melhor na atuação. “Ao mesmo tempo em que estamos fortes ali, acolhendo o paciente de uma forma humana, estamos certos de que damos o nosso melhor, mesmo às vezes não sendo o suficiente, nesta pandemia, com todo o aparato e as armas para que o próprio paciente lute contra a doença. Por baixo de todo o aparato, todo o EPI, preciso dar o meu coração, mostrando ao meu paciente que entendo a dor dele. Quem está ali é a Enfermagem, com conhecimento, amor e acolhimento fundamentais para que ele busque dentro de si a energia para reagir. É no momento que o paciente quer se entregar que eu, como boa latina e brasileira, estou ao seu lado, mostrando que estamos juntos. Nós enquanto brasileiros temos essa força, empatia, paixão, que não vejo muito nos britânicos, por uma questão cultural. Eu levo minha paixão pela Enfermagem, mas claro que existem dias difíceis e tristes.”
Beatriz complementa: “A gente sai do Einstein, mas o Einstein não sai da gente. É complicado viver esse momento da história, mas o importante é que estamos dando nossa contribuição, fazendo sempre o nosso melhor.”