Ciência e Vida

Parto Adequado: programa busca mudança de cultura na obstetrícia

Einstein comemora dez anos de parceria estratégica com o Institute for Healthcare Improvement (IHI), atuando em ações focadas em melhorias na saúde populacional

Cerca de 55% dos partos realizados no Brasil são cesáreas, conforme dados da PNS (Pesquisa Nacional de Saúde) realizada pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), entre julho de 2017 e julho de 2019. Esse número destaca o país como o segundo no mundo com mais nascimentos a partir dessa intervenção cirúrgica, atrás apenas da República Dominicana. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda um índice variável entre 10% e 15% como ideal para esse procedimento.

Com a intenção de contribuir para a queda do número de cesáreas desnecessárias e a melhora em outros índices preocupantes para o sistema de saúde brasileiro, há dez anos o Einstein firmou uma parceria estratégica com o Institute for Healthcare Improvement (IHI). Com isso, nasceu o Programa Parto Adequado.

Parto Adequado

Pesquisadores do IHI criaram, em 2014, uma metodologia disposta a melhorar os desfechos envolvendo a saúde e a segurança de mães e bebês, com o propósito de reduzir o alto índice de parto cesariana na saúde suplementar. A ideia era aumentar a sobrevida e garantir o parto mais adequado.

O tempo trouxe aprimoramento e, hoje em dia, hospitais privados brasileiros somam-se ao Einstein para proporcionar encontros com valiosos conteúdos, em que todos os integrantes ensinam e aprendem com o programa, que tem como proposta a mudança de cultura na obstetrícia.

No Brasil de 2014 existia um alto índice de cesarianas e, no setor privado, a situação era ainda mais alarmante. O resultado é da pesquisa Nascer no Brasil, coordenada pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), em parceria com outras instituições científicas brasileiras. O estudo apontava que a cesariana era realizada em 52% dos nascimentos, sendo que, no setor privado, o índice era de 88%. Hoje, a recomendação da OMS é a de que somente 15% dos partos sejam feitos por meio desse procedimento cirúrgico.

Os esforços do Einstein e de outras instituições de saúde de excelência visam resultados positivos. “O trabalho é intenso e leva tempo para chegarmos aos índices desejados de 15% a 20%, mas estamos otimistas em alcançar todas as metas”, diz o Superintendente e Diretor Médico na Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Dr. Miguel Cendoroglo Neto.

Cada um desses hospitais adota a mesma metodologia, buscando as melhores práticas. “Nas reuniões colaborativas para trocas de experiências, criamos processos assistenciais que garantem desfechos positivos para essa problemática”, explica. Segundo ele, o envolvimento do Sistema Único de Saúde (SUS) é muito importante, pois aumenta o número de pessoas beneficiadas e contribui para a compreensão e sustentação do programa mediante o maior número de atendimentos.

A pedido do Ministério da Saúde, a campanha do Programa Parto Adequado foi levada para hospitais públicos Brasil afora. No Nordeste, por exemplo, a referência é o Hospital Agamenon Magalhães, localizado em Pernambuco, para onde todos os estabelecimentos hospitalares e redes de ambulatórios e clínicas de vários estados da região encaminham gestantes em situações mais complexas.

Esse resultado comprova que a metodologia que o IHI criou de fato transforma o conceito e o entendimento sobre a prestação de assistência. Os hospitais do Brasil são elogiados por profissionais desse Instituto, devido ao engajamento e ao grande número de pacientes alcançados.

É fundamental que os profissionais da saúde compreendam a importância de informar às pacientes as situações em que a cesariana é indicada. “O comum é realizarmos o parto natural. A cesariana é considerada uma medida para alguns casos de gestantes que apresentam complicações, gerando riscos para elas e para seus bebês. Essa prática deve ser decidida a partir das condições de saúde dos envolvidos”, alerta o Dr. Miguel.

O Programa Parto Adequado deve atingir melhores índices no Brasil nos próximos anos. Os Médicos, Enfermeiros e equipes multiprofissionais estão sendo encorajados a orientar mais gestantes e familiares, a fim de ajudar a combater a cesárea não indicada. “A recomendação do Médico é investir nas condutas relacionadas ao pré-natal de modo a preparar essas pacientes durante os nove meses de gestação para o melhor procedimento de cada caso”, explica.

A capacitação no Einstein

O Escritório de Excelência do Einstein capacita cerca de 120 colaboradores em treinamento avançado em conjunto com o IHI, focando no fortalecimento da cultura de melhorias na qualidade e segurança do paciente. Além disso, essa área coordena todas as ações dessa colaborativa implementadas nas suas 22 unidades privadas e nas 28 ligadas ao SUS, as quais administra.

Além das iniciativas de capacitação dentro dos hospitais que participam do Programa Parto Adequado, o IHI costuma realizar fóruns que promovem debates para trocar conhecimentos e gerar engajamento de profissionais da saúde.

Em 2022, o 7º Fórum IHI foi realizado no novo Centro de Ensino e Pesquisa Albert Einstein – Campus Cecilia e Abram Szajman, tendo como foco a importância da tomada de decisões nas instituições de saúde de forma integrada nas dimensões ambiental, social e governança de operação. Alunos das Graduações do Ensino Einstein, assim como da Escola Técnica da Instituição, somados a seus colaboradores da assistência, pesquisa e educação, participaram de diversas atividades do evento.

Este ano, o 8º Fórum Latino-Americano de Qualidade e Segurança na Saúde Einstein/IHI será realizado em Santiago, no Chile, nos dias 17 e 18 de outubro, com o tema ‘Quadrupla Meta: experiência do cuidado, a saúde populacional, a redução de custos per capita, saúde e bem-estar e saúde e equidade’. Esse evento, nos formatos presencial e on-line ao vivo, tem o objetivo de fortalecer as ações do Programa Parto Adequado, além de outras iniciativas voltadas à saúde mundial.

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