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Você sabe o que é Medicina de Precisão?

Muito além do enfoque genético, a Medicina de Precisão busca adaptar as intervenções médicas de acordo com as características específicas de cada paciente

A Medicina de Precisão nasceu nas últimas décadas do século XX e tem evoluído gradualmente, acompanhando os avanços na genômica, na biologia molecular, na medicina baseada em dados e nas tecnologias de diagnóstico.

Um marco fundamental para o entendimento sobre o papel dos genes na saúde é o Projeto Genoma Humano. Trata-se de um esforço internacional de pesquisa científica, lançado em 1990 e concluído em 2003, que teve como objetivo mapear e sequenciar o conjunto completo de material genético que compõe os seres humanos.

Já o termo Medicina de Precisão passou a ser amplamente utilizado nos últimos 20 anos, à medida que as tecnologias de sequenciamento genético e de análise molecular se tornaram mais acessíveis e avançadas, sobretudo em especialidades como a Oncologia e a Farmacologia.

A Médica Oncologista do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e do Hospital Municipal Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho – Vila Santa Catariana, Dra. Patrícia Taranto, cujas principais áreas de atuação são em tumores de mama e de pulmão, diz que graças à Medicina de Precisão é possível avaliar a presença de mutações relacionadas a diversos tumores, possibilitando direcionamento e personalização do plano terapêutico, além de aconselhamento genético em caso de alterações germinativas.

Nesse contexto aplicado à Oncologia, as chamadas imunoterapias e terapias-alvo são as medicações direcionadas aos tumores com comportamentos genéticos específicos, “a fim de melhorar os desfechos das doenças e aconselhar familiares dos pacientes nessa situação sobre a personalização do tratamento do câncer e o risco hereditário”, explica a Dra. Patrícia.

Evolução da Medicina de Precisão

Um ponto importante a ser esclarecido, conforme a Médica Oncologista Clínica do HIAE, Dra. Juliana Rodrigues Beal, que atua com foco em câncer de mama, é o fato de que atualmente a Medicina de Precisão não significa somente usar uma medicação guiada por algum alvo molecular ou genético de uma doença que já esteja instalada no corpo. “No contexto da saúde populacional, ela começa antes de qualquer enfermidade. Ou seja, inicia-se com medidas preventivas, mudança no estilo de vida e, em alguns casos, avaliação genética molecular no DNA, para saber se há predisposição considerável a desenvolver qualquer tipo de patologia, de forma que possamos evitar o adoecimento”.

A Medicina de Precisão enquanto ciência é baseada em quatro pilares: Predição de risco, adoção de medidas Preventivas, Personalização do cuidado e Participação ativa de cada pessoa com a própria saúde e a da comunidade, para que profissionais especializados possam tratar de maneira integrada e adaptada a cada indivíduo, inclusive em etiologias comuns.

Uma frente da Medicina de Precisão que deve progredir, segundo as especialistas, é a medicina baseada em dados. Por meio da coleta de determinadas informações clínicas de um grupo de pacientes , consegue-se avaliar retrospectivamente como uma patologia específica evoluiu em relação a fatores epidemiológicos e seus desfechos. “A partir desse levantamento, podemos entender melhor aspectos consistentes sobre a população que estamos analisando”, completa a Dra. Patrícia.

Desse modo é possível gerir orientações voltadas à prevenção de enfermidades, compreendendo as demandas e as necessidades daquela população, com o intuito de planejar e executar diferentes medidas de atuação, englobando diversas especialidades da Medicina de Saúde de Família e Comunidade, para o grupo ou de forma individual. “Também inclui o cuidado de baixa complexidade, que pode ser preciso, direcionado e inclusivo”, acrescenta a Dra. Juliana.

Programa de Medicina de Precisão

As Médicas contam que o Einstein tem um abrangente Programa de Medicina de Precisão com participação de grupos de diferentes Médicos, como Radiologistas, Patologistas, Cirurgiões, Clínicos, Pediatras, Neurologistas, Cardiologistas, Oncologistas, Radioterapeutas e Hematologistas, entre outros das mais diversas áreas. O objetivo é desenvolver e incorporar conhecimentos em medicina personalizada aplicável no cotidiano assistencial. É composto pelas principais frentes:

  • Centros de Excelência em Medicina Personalizada, os quais integram os segmentos da clínica-assistencial, com desenvolvimento de protocolos e recomendações de tratamentos e diagnósticos. Por exemplo, indicações de testagens, somáticas e ou germinativas.
  • Incorporação de tecnologias, como os radiofármacos para o diagnóstico e tratamento oncológico em Medicina Nuclear, Terapia Celular com Car-T Cells, algoritmos e Inteligência Artificial, entre outras.
  • Laboratório de Genômica, que possui diversos métodos de exames e tipos de amostras, como biópsia líquida em sangue e secreções, autocoleta Predicta One em saliva, peças de biópsia em biobanco etc.
  • Educação Continuada, focada no aprimoramento dos profissionais da saúde, expondo conhecimentos sobre as principais técnicas e tecnologias disponíveis em Medicina de Precisão, como protocolos clínicos, indicações de testagem, portfólio de exames e métodos de avaliação de resposta clínica e menores toxicidades, por exemplo.
  • Centro de Medicina Genômica Einstein, sendo um ambulatório de aconselhamento genético adulto e pediátrico em oncogenética, cardiogenética, neurogenética, planejamento familiar, genética neonatal ou para pacientes saudáveis com alto risco hereditário.

Esses conhecimentos e experiências, juntamente com as palestras de especialistas nacionais e internacionais, serão abordados no III Simpósio Internacional Einstein de Medicina de Precisão, que ocorrerá nos dias 29 e 30 de setembro deste ano.

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