A repercussão dos últimos anos na área da saúde é inquestionável. Por isso, projetar as perspectivas desse setor para 2023 requer entender como o sistema de saúde no Brasil se desdobra no atual momento, o que inclui uma profunda compreensão dos gargalos do passado, buscando a assertividade nas tomadas de decisões, com foco em resultados positivos no presente e no futuro.
O docente do Ensino Einstein nos programas de MBA e Gestão em Saúde da Instituição e sócio-líder da Indústria de Life Sciences & Health Care na Deloitte Brasil – líder em serviços de Auditoria, Consultoria, Assessoria Financeira, Risk Advisory e Consultoria Tributária -, Luís Fernando Vieira Joaquim, reconhece cinco grandes fatores importantes neste planejamento. Ele aconselha olharmos com atenção cada um deles, no sentindo de estudá-los o mais profundamente possível.
Equidade
O primeiro consiste na equidade em saúde. “O que contribui para as desigualdades na área da saúde são as falhas estruturais no caráter sistêmico do sistema de saúde”, diz o especialista.
Conforme o docente, a empresa Deloitte está delineando os passos que os líderes podem tomar para definir uma estratégia de equidade em saúde a fim de impulsionar mudanças e impactos nas comunidades. São eles:
- Entender a sua organização e mercado
- Definir a visão de equidade em saúde
- Desenvolver um roteiro para o futuro
Mudanças climáticas
As crises provocadas pelas mudanças climáticas, segundo Luís Joaquim, dizem respeito a fatores ambientais de segurança e questões preponderantes que ameaçam a saúde populacional como um todo.
“O nosso país gera muito resíduo em todos os setores da economia e isso impacta diretamente e negativamente na área da saúde, que também está inserida nesse processo. É importante entendermos qual é o nosso papel enquanto setor na colaboração com soluções para esse problema”.
O docente cita um estudo do Conselho Natural de Defesa dos Recursos (NRDC, na sigla em inglês), nos Estados Unidos, o qual mostrou que a poluição do ar provocada pela emissão de combustíveis fósseis custa US$ 2.500 anuais em média para cada norte-americano em tratamentos médicos decorrentes de doenças respiratórias. No total, os custos chegam a US$ 820 bilhões por ano. Além dos prejuízos financeiros, a pesquisa alerta que a poluição do ar mata prematuramente 107 mil pessoas por ano.
Saúde mental
A saúde mental está se revelando um problema cada vez maior a ser enfrentado por todo o sistema de saúde. “Ele é complexo e significativamente pouco reconhecido por muitas organizações”, alerta Luís Joaquim.
Entre as consequências negativas do isolamento provocado pela pandemia do novo coronavírus que criaram ou agravaram problemas desse nível estão: óbitos, desemprego, falta de socialização e estresse financeiro.
“A falta de acesso a tratamentos envolvendo diferentes tipos de distúrbios mentais é um fator a merecer mais atenção em 2023, para que essa necessidade seja gerida com mais eficiência. É um desafio essencial para todas as camadas da sociedade e todas as idades, incluindo crianças e adolescentes”.
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Transformação Digital
“Eu acredito que a transformação digital deva ser o futuro modelo de prestação de cuidado de todo o sistema da saúde”, afirma o docente sobre a quarta temática, ressaltando os pontos positivos que oferece.
De acordo com ele, o melhor uso dos dispositivos, equipamentos e soluções digitais pode colaborar com mais eficiência, maximizando a maturidade tecnológica nas organizações de saúde. “Esse tópico permite avançar no objetivo de promover a saúde ao invés de cuidar da doença”. Em especial nos próximos anos é esperada uma gestão mais eficiente com profissionais preparados para tomar as decisões mais acertadas.
A pandemia colocou o modelo de assistência médica sob pressão. Por outro lado, foram acelerados aspectos tecnológicos, como computação em nuvem, tecnologia 5G, Inteligência Artificial e interoperabilidade de dados, entre uma série de elementos que vêm ajudando a maximizar o olhar sobre essa quantidade enorme de dados e a pouca informação que se tem do setor.
Entre os grandes desafios na saúde apontados por Luís Joaquim, estão: trabalhar a maturidade digital de modo efetivo e compreender como os estabelecimentos podem se beneficiar usando a habilitação das camadas digitais, “rumo à eficiência que tanto se busca, já que pesquisas apontam uma ineficiência em cerca de 30% no setor”.
Para a solução de problemas enfrentados e acelerados devido à pandemia, ele aponta como solução potencial a convergência para o modelo de transformação digital e de prestação do cuidado. “Jogadas ousadas no digital podem ajudar os sistemas de saúde a resolver uma série de desafios clínicos e operacionais e desembrulhar oportunidades para movê-los ao longo do caminho para o futuro do setor. Sugerimos uma abordagem de três pontas:
- Use o que tem
- Compre ou seja parceiro para o que você precisa
- Automatize processos repetitivos
Além do surgimento das startups em saúde, a ciência médica está atualmente sendo transformada por descobertas científicas que irão avançar drasticamente na forma como diagnosticamos e tratamos diferentes doenças, como:
- Medicamentos digitais – terapêutica digital (como VR) e acompanhantes digitais (aplicativos baseados em telefone para suportar dispositivos como testes de glicose e inaladores)
- Nanomedicina – entrega de medicamentos direcionados, nano-robôs, terapia genética
- Genômica – testes genéticos diretos ao consumidor, diagnósticos e testes, edição de genes
- Inteligência Artificial/Big Data – transformando o processo e possibilitando o desenvolvimento de tratamentos direcionados mais precisos. Exemplo: o rastreamento de sintomas da doença COVID-19 está fornecendo dados que estão contribuindo para a ciência do desenvolvimento e aperfeiçoamento de vacinas em tempo real.
Consolidação do mercado de saúde
O movimento chamado ´tempestade perfeita´ – que inclui o forte uso dos serviços de saúde, o agravamento de problemas durante a pandemia e o alto custo de insumos e das operações – tem impactado fortemente certos players do ramo.
Na opinião do docente, o sistema de saúde deve trabalhar para consolidar cada vez mais a área, que ainda se apresenta fragmentada. “Eu opto por aconselhar a tratar das tensões em 2023. É um setor em que houve diversas fusões de 2019 a 2021, sendo desaquecidas em 2022, além de temas políticos, econômicos e financeiros que colaboraram para a instabilidade do mercado. Eu entendo que a sustentabilidade pode revigorar as finanças”, conclui.
E para enfrentar essa grande complexidade que é o ecossistema da saúde, o profissional, os docentes e alunos precisam estar atentos às melhores capacitações, treinamentos e atualizações. Afinal, são os mais relevantes agentes de mudança do setor. “Somente assim terão conhecimento, segurança e condições reais para colaborar com o enfrentamento de problemas que precisam ser resolvidos”, finaliza.
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