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Robôs e atores simulam rotina de trabalho nos treinamentos da saúde

A aprendizagem na prática e com segurança elimina espaços para erros, uma finalidade em qualquer curso e capacitação na área da saúde

Aprender na prática e com segurança, sem espaço para erros. Esse é o propósito de qualquer curso na área da saúde. Mas como praticar uma técnica complexa, como a de ressuscitação cardiopulmonar (RCP), ou saber como agir ao atender um caso de infarto do miocárdio, sem colocar o paciente em risco? Como integrar habilidades de comunicação e liderança durante o atendimento de uma situação grave?

Só há uma maneira: praticando. “É durante a prática que ocorre o desenvolvimento pleno de todas as habilidades, principalmente para o profissional da saúde”, explica o Médico e Especialista em Simulação do Ensino Einstein, Dr. Thomaz Bittencourt. “Mas sabemos que, na prática, erros, mesmo que pequenos, podem gerar grandes consequências”.

Estudo recente do Instituto de Estudos de Saúde Suplementar da Universidade Federal de Minas Gerais mostra que, das 19,4 milhões de pessoas tratadas em hospitais no Brasil, 1,3 milhão sofrem algum tipo de negligência ou imprudência durante o tratamento.

Para minimizar ou até evitar erros na saúde, por falta de experiência, foi adaptada de outras indústrias a simulação realística, que encena diferentes situações possíveis no dia a dia do ambiente hospitalar. A metodologia possibilita ao aluno aprender a prática de forma segura e eficiente e vem sendo cada vez mais utilizada na área da saúde.

O Especialista em Simulação explica que essa é uma metodologia de ensino que substitui uma experiência real por uma vivência simulada de maneira interativa, com o auxílio de robôs e atores profissionais. “Dessa forma, o aluno ou profissional que está sendo treinado consegue aplicar a prática bem próxima dos procedimentos reais de maneira segura”.

Ele reforça que a simulação é a principal maneira de ensinar os procedimentos práticos mas sem o risco inerente do ‘aprender fazendo’. “Ainda mais quando falamos de habilidades de processos de saúde. Treinar um profissional da saúde pela primeira vez em um atendimento diretamente no paciente pode gerar riscos”, alerta.

Os benefícios da simulação realística são comprovados. “Estudos mostram que treinar a passagem de cateter central guiado por ultrassom diminui a taxa de infecção relacionada a esse dispositivo, uma métrica importante para o hospital. Também há estudos apontando para o treinamento de equipes nas habilidades de ressuscitação como fator de melhora na sobrevida de parada cardiorrespiratória”, assegura.

O Dr. Thomaz ainda destaca a queda na quantidade de erros observados no Pronto Atendimento, quando treinadas equipes em habilidades não-técnicas.

O impacto de treinar com simulação realística não é só curricular. É, também, clínico. Por isso, o seu uso cresceu rapidamente ao longo da última década, conforme afirma o artigo The Global Healthcare Simulation Economy: A Scoping Review, publicado em 26 de fevereiro de 2022 na revista científica Cureus.

Conforme o texto, esse mercado de simulação experimentou a entrada de novos players nos últimos anos, com a maioria dos negócios focados na América do Norte, Europa e Ásia-Pacífico. Espera-se que ele atinja entre US$ 3,19 e US$ 7,7 bilhões até 2027, com uma taxa de crescimento anual entre 14,6% e 17,8%.

Isso pode significar não somente um bom negócio, como também mais atenção e promoção à saúde. “Temos uma preocupação crescente com a segurança e essa é uma ferramenta importante para conseguirmos manter os pacientes e profissionais seguros”, ressalta Dr. Thomaz.

COVID-19

O Centro de Simulação Realística (CSR) do Ensino Einstein foi usado intensamente desde o início da pandemia causada pelo novo coronavírus. “Muitos centros de simulação pararam durante esse momento, mas isso nunca aconteceu com a gente no Einstein”, diz o Médico. Pelo contrário. Em 2020 foi mantido o número de pessoas treinadas no CSR: em torno de 14 mil. “E, no ano passado, capacitamos ainda mais. Foram cerca de 15 mil pessoas treinadas”.

Há também aulas ministradas no CSR relacionadas a cursos do Ensino Einstein, além de treinamentos de profissionais. Porém, segundo o especialista, a pandemia estimulou a mudança do público-alvo que recebeu a capacitação. “Treinamos menos os alunos e mais os profissionais com grande foco na paramentação. Nós, profissionais da saúde, precisamos nos habituar a fazer”, diz, destacando as instruções práticas do procedimento de via aérea, um dos grandes desafios da COVID-19.

“Fizemos muito treinamento de parada cardiorrespiratória de paciente com COVID-19 e de pronação. Fomos criando os treinamentos na mesma velocidade em que os especialistas estabeleciam os protocolos para a doença, por vezes, quase que concomitante”.

15 anos de CSR

O Centro de Simulação Realística (CSR) do Ensino Einstein é pioneiro no Brasil e está completando 15 anos. “O aumento da demanda por esse tipo de espaço vem crescendo tanto que existe um plano do Ensino Einstein de construir um prédio só de simulação”, afirma Dr. Bittencourt.

Estrutura

O CSR do Einstein conta com ambientes e técnicas que replicam as situações e desafios de um hospital. Há dois tipos de simuladores de pacientes: robôs de alta fidelidade que se aproximam bastante do ser humano (pisca, tem resposta pupilar, recebe manobras de ressuscitação e até injeção e intubação) e atores profissionais que contribuem para que o treinamento seja o mais fiel possível à realidade.

Uma equipe especializada é responsável pela montagem do cenário, teste nos equipamentos e preparo dos simuladores. O CSR possui diversos cursos em que o aluno, além de treinar técnicas, também pode desenvolver habilidades como raciocínio clínico, trabalho em equipe, comunicação e liderança. “Os treinamentos englobam aulas e discussões teóricas, práticas monitoradas de habilidade e cenários de simulação realística”, explica o Especialista em Simulação.

O CSR do Ensino Einstein é certificado pela Society for Simulation in Healthcare e a expectativa para 2022 é capacitar 18 mil alunos.

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