Carreiras

Saber matemática é cada dia mais importante para os médicos

Profissionais que se desenvolvem em habilidades de cálculos e estatística ganham mais autonomia para cuidar de seus pacientes.

Quando procurado por alunos que desejam dicas sobre como se preparar para ser médico, Dr. Alexandre Holthausen Campos, cardiologista, diretor de Graduação em Medicina e diretor acadêmico de Ensino no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP), brinca: “estude menos biologia e mais matemática”.

A biologia é fundamental na Graduação de Medicina, pois ajuda a despertar e consolidar no aluno o conceito de integração entre meio ambiente, clima, vida animal e vegetal com a vida humana. Mas a matemática tem se mostrado tão importante quanto. O aprendizado da interpretação dos cálculos numéricos e de estatística permite aos futuros médicos ter uma abrangência maior do conhecimento em saúde e mais autonomia na tomada de decisões clínicas, além de ser essencial para os profissionais envolvidos em pesquisa. “É a matemática a ciência com a qual temos que trabalhar e precisamos entendê-la para montar e interpretar dados quantitativos sobre saúde”, enfatiza o pediatra e professor de Medicina no Einstein Dr. Carlos Augusto Cardim de Oliveira.

O uso da matemática pode aparecer na prática das diversas especialidades. Na cardiologia, é possível, por exemplo, correlacionar frequência cardíaca e função pulmonar; na nefrologia, a matemática auxilia a estimar a função renal de um paciente; na epidemiologia, ela é fundamental para sabermos, por exemplo, se está realmente ocorrendo um surto de doença, como sarampo ou catapora, ou se estamos diante apenas de variações sazonais.

Associada à física, a matemática tem sido importante na evolução do diagnóstico por imagem, como nos casos dos exames de ultrassonografia, tomografia computadorizada e ressonância magnética. Em economia da saúde, cálculos e modelos matemáticos sugerem as melhores opções de escolha na alocação dos recursos destinados aos cuidados da saúde de populações.

Matemática no diálogo com pacientes

Quando um paciente procura seu médico e pergunta se está saudável, se tem ou não um risco aumentado para alguma doença, o que ele quer saber é a probabilidade de adoecer para alguém com sua idade, seus hábitos de vida e histórico familiar. “Para responder a isso, consideramos resultados de estudos clínicos com cálculos estatísticos que estimam probabilidades”, explica Dr. Cardim de Oliveira. De modo semelhante, ao solicitar um exame diagnóstico a um paciente, o médico quer saber, para si e para informar ao paciente, qual a probabilidade de o teste detectar a doença e, no caso de seu resultado ser positivo ou negativo, quanto é possível confiar que o paciente tenha ou não a doença, reflete o médico.

Para Dr. Cardim de Oliveira, a comunicação de risco para pacientes envolve números, cálculos e a correta interpretação de estimativas de risco. “Se estivermos doentes, qual a chance de que ocorram complicações? Qual a probabilidade de que o tratamento resulte em cura ou em efeitos indesejáveis? Há risco de morte? Todas essas e outras perguntas têm suas respostas apoiadas em conhecimentos matemáticos”, diz.

Cálculos de doses de medicamentos são muitas vezes feitos em função do peso ou da superfície corpórea do paciente. Mas as respostas individuais aos tratamentos, medicamentosos ou cirúrgicos, não são as mesmas em todos os pacientes. Pessoas diferentes podem responder de modo diverso a tratamentos semelhantes. Este é um dos motivos de se dizer que a medicina é uma ciência quantitativa, mas não exata.

Matemática na Graduação de Medicina

Na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, o currículo do curso de Graduação em Medicina foi planejado com um reforço extra para o desenvolvimento da matemática na prática médica. Enquanto na maioria das outras instituições há apenas um ou dois semestres com disciplinas sobre cálculos e estatísticas, no Einstein há três, que integram o eixo temático “Conhecimento Médico” e estão presentes no currículo dos 2o, 3o e 4o semestres.

Doutora em Estatística e professora assistente de Medicina no Einstein, Ângela Tavares Paes conta que a maioria dos alunos que passa pelo processo de seleção já tem grande conhecimento sobre matemática. Mas, na faculdade, eles aprendem a aplicá-la na prática médica sob um raciocínio estatístico. “As disciplinas ensinam a analisar dados e interpretar resultados de artigos científicos”, diz. “Biologia, matemática, estatística e computação são ciências que estão relacionadas e andam juntas na medicina”, completa.

​Saber analisar e interpretar dados é um grande diferencial na medicina, avalia a professora. “Aqueles que se desenvolvem nessa área, além de ampliar o mercado de trabalho, tornam-se mais independentes, pois não precisam de outros profissionais para fazer isso por eles”, ressalta.

Notícias relacionadas