A discussão sobre a importância de promover um ambiente corporativo mentalmente saudável tem se tornado prioridade no mundo todo, particularmente após o período de pandemia, iniciado em 2020. Pessoas emocionalmente equilibradas colaboram para a diminuição de estresse e convívio não violento nas empresas, ampliando a produtividade.
Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), para cada um dólar investido por companhias para tratamento psicológico de seus colaboradores, quatro dólares retornam traduzidos em melhoria de sua saúde física e mental, além da eficiência operacional.
A OMS estima o custo de um trilhão de dólares por ano à economia global devido à perda de produtividade, medida em decorrência de distúrbios mentais de colaboradores, que contribuem para a elevação de reações negativas diante de circunstâncias desafiadoras.
Liderança e a saúde mental nas organizações
Mais do que nunca, os líderes precisam da habilidade de autogestão para lidar com cenários cada vez mais voláteis, além das transformações tecnológicas, desastres ecológicos e surgimento de novas doenças, entre outros fatos do cotidiano. “Essas circunstâncias geram instabilidade emocional e, com isso, o grau de adoecimento mental tem crescido nas organizações. Quanto mais autoconhecimento o líder tiver, melhor saberá lidar com as adversidades”, afirmam as Coordenadoras da Pós-graduação em Gestão Emocional nas Organizações – Cultivating Emotional Balance do Ensino Einstein, Jeanne Pilli e Elisa Kozasa.
Em um ambiente corporativo mentalmente saudável, no qual as pessoas desenvolvem o autoconhecimento, cresce o índice de autogerenciamento. “Esse estado ajuda na promoção de um ambiente minimamente estável emocionalmente, o que é muito importante para todos que fazem parte dele”, defende Jeanne.
Ela observa que hoje em dia dificilmente as pessoas têm sido demitidas por falta de qualificação técnica. As competências socioemocionais e habilidades interpessoais estão sendo consideradas em maior proporção nesse sentido. “Um dos pontos importantes é o líder aprender a criar um ambiente de segurança psicológica, onde é possível disseminar a confiança entre os colaboradores”, completa Elisa.
Essa atmosfera colaborativa e de segurança gera a percepção de que todos estão juntos para alcançar os melhores resultados, sem culpabilização em caso de insucesso de projetos entre pessoas de um mesmo time ou de outras equipes. “É essencial ter a compreensão de que cada um deve executar bem suas atividades, entendendo que o líder estará presente para apoiar o grupo e promover a saúde mental”, explica Elisa.
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Líder preparado emocionalmente
As duas Coordenadoras concordam que o melhor clima para um ambiente corporativo mentalmente saudável é aquele que permite o diálogo e a exposição de opiniões de forma pacífica. O surgimento de um episódio conflituoso deve ser muito bem observado e imediatamente compreendido como oportunidade de conduzir os acontecimentos de forma construtiva.
As relações emocionais estão ligadas às formas como as pessoas são consideradas. “Os colaboradores devem ser tratados com equidade e respeito à diversidade. Por isso, é importante o líder estar preparado e equilibrado internamente para lidar com qualquer situação que fuja dessas premissas”, diz Elisa. É fundamental agir antes que as pessoas cheguem a um grau importante de esgotamento físico e mental.
Trata-se de criar e colaborar para que o ambiente corporativo seja psicologicamente seguro, empático e, na medida do possível, sem estresse. Além disso, é essencial que o local tenha um clima amigável para que o colaborador possa expor problemas e pedir apoio, se necessário. “Caso contrário, ele poderá se isolar completamente e acabar despersonalizando sua relação com o trabalho. Isso a longo prazo leva ao afastamento por não ver mais sentido em suas atividades e carreira. Assim, é fundamental haver a negociação de limites entre todos”, explica Jeanne.
Ações para o equilíbrio
A percepção aguçada do nível de saúde mental favorece ações condizentes com o bom convívio. “Quem vive em locais geradores de conflitos, dificilmente obterá alto grau de controle psíquico e consequentemente não conseguirá transferir a segurança psicológica necessária”, esclarece Elisa, que aconselha a busca por profissionais da área da saúde mental sempre que necessário. “Mas antes disso estão: lazer, práticas meditativas, exercícios físicos e alimentação saudável”, completa. Boa convivência entre familiares e amigos também beneficia a estabilidade das emoções.
O líder que pensa em cuidar das pessoas apenas pela produtividade não terá bons resultados. Exercitar o autocuidado, focar na capacitação técnica de sua equipe, ter metas e objetivos claros e possuir boa comunicação irão ajudá-lo a obter o cenário desejado. “Essas ações vêm em primeiro lugar, e a resposta positiva representa a consequência delas. Uma pessoa mentalmente saudável produz mais do que se estivesse desequilibrada”, diz Elisa.
É recomendável que não haja abuso da resiliência, mas sim que realmente o limite e a estrutura psíquica de cada pessoa sejam respeitados. De fato, ações para promover a estabilidade de uma equipe precisam partir da alta liderança e da cultura da organização. “É muito palpável construir um ambiente corporativo mentalmente saudável sem opressão e com alto grau de produtividade”, acrescenta Jeanne.
Por isso, algumas empresas já têm criado cargos como Diretores e Superintendes de Bem-Estar. “Eles estão voltados a criar ambientes adequados para o desenvolvimento de tarefas, com metas realistas a serem cumpridas, com respeito e equidade. Inclusive, na Europa, a tendência é diminuir a carga horária de trabalho. A pessoa fica tão feliz em saber que terá um dia a menos de trabalho, que quatro dias podem render mais produtividade do que os costumeiros cinco”, sinaliza Elisa.
Na área da saúde, promover um ambiente corporativo mentalmente saudável é um imenso desafio. “Porém, é absolutamente real estruturar espaços e gerir conflitos de modo a levar ao colaborador ações positivas para o seu crescimento e evolução tanto profissional como pessoal”, finaliza Jeanne.