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Estudo demonstra benefícios da atividade física para o aprendizado

​Segundo pesquisadores europeus, efeitos no cérebro são melhores quando exercício físico é feito exatamente quatro horas depois de parar de estudar.

Em períodos de estudo intenso, como nas semanas que antecedem as provas da faculdade, o vestibular ou a entrega de um trabalho de conclusão de curso, a prática de atividade física nem sempre é prioridade, mas deveria ser. Segundo pesquisa feita em parceria pelas Universidades de Radboud, na Holanda, e de Edimburgo, na Grã-Bretanha, exercícios físicos ajudam a reter o conhecimento.

Publicada na revista científica Current Biology em 2016, essa pesquisa é uma das referências no assunto porque conseguiu demonstrar que a melhor maneira de se utilizar a atividade física como aliada do aprendizado é fazê-la exatamente depois de quatro horas dos estudos.

Para se chegar a essa conclusão, os pesquisadores selecionaram 72 pessoas e as separaram, aleatoriamente, em três grupos. Solicitou-se a todas elas que memorizassem 90 associações entre imagens e lugares durante 40 minutos. No primeiro grupo, os participantes fizeram 35 minutos de bicicleta ergométrica logo depois do exercício de memorização; no segundo, depois de quatro horas; no terceiro não houve prática de atividade física.

Dois dias depois, eles foram avaliados para verificar quanto lembravam do que haviam aprendido, enquanto tinham imagens de seus cérebros captadas por ressonância magnética.

De acordo com a análise, aqueles que fizeram a atividade física quatro horas depois do exercício de memorização foram os que apresentaram o melhor desempenho de aprendizado. As imagens cerebrais deles também mostraram que a atividade física realizada nesse período estava associada a representações mais precisas no hipocampo, uma área importante do cérebro para a memória.

Embora não saibam exatamente de que forma a atividade física contribui para a consolidação do aprendizado, os pesquisadores acreditam que possa ter algum tipo de relação com a produção de neurotransmissores. Ou seja, o estímulo de substâncias como a dopamina e a noradrenalina, por meio de exercícios físicos, pode contribuir mais para a consolidação da memória, quando realizado nesse intervalo de quatro horas.

Estudantes observam efeitos positivos da atividade física no aprendizado

Aluno do 6o semestre de Medicina na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, Caio Valente, de 24 anos de idade, não conhecia essa relação temporal entre a prática de atividade física e a memorização, mas conta que se sente melhor para estudar quando se exercita. “Apesar de cansarmos o corpo no exercício físico, parece que ele ajuda a descansar a mente”, comenta. “É nítida a melhoria no bem-estar quando me exercito fisicamente”, acrescenta.

Caio, que vai à academia pelo menos três vezes por semana, diz que não vê benefícios na substituição do tempo que seria destinado à atividade física para estudar. “Não é uma troca válida. As duas ações se somam. Os exercícios físicos têm a sua importância também para os estudos e, se nos programarmos bem, é possível praticar algum esporte ou qualquer outra atividade física sem prejudicar os estudos”, afirma.

Mylena Casarin de Moraes Lopes, de 22 anos de idade e aluna do 7o semestre da Graduação em Enfermagem do Einstein, faz aulas de muay thai e MMA (sigla em inglês para artes marciais mistas) de segunda a sexta-feira. Ela conta que no primeiro ano do curso, quando ainda não praticava essas lutas, sentia-se bem mais cansada do que atualmente. “Eu tinha menos atividades para fazer, mas me sentia sempre mais exausta”, lembra. “Hoje, depois da aula e da monitoria, vou para a aula de luta e ainda tenho disposição para chegar em casa e estudar”, compara.

A futura enfermeira considera que a atividade física é uma “ótima válvula de escape” para as rotinas intensas na área da saúde. “Muitas vezes, saio do hospital tensa, mas relaxo ao me exercitar fisicamente”, afirma.

Diversas pesquisas indicam que transtornos mentais, como a síndrome de burnout, caracterizada pela sensação de esgotamento físico e emocional, tendem a ser mais comuns em profissionais da saúde. Dados de um importante estudo de revisão (metanálise), publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) no final de 2016, apontam que em torno de 27% dos alunos de Medicina têm um quadro depressivo. No Brasil, estudos publicados nas revistas científicas Plos One e BMC Nursing identificaram, respectivamente, sinais dessa síndrome em 45% dos alunos de Medicina e 64% dos alunos de Enfermagem.

Atividade física para promoção do bem-estar

Foi justamente pensando na prática de atividade física e no convício social dos alunos que o Einstein inaugurou no ano passado o Centro Einstein de Esportes e Bem-Estar (CEEBE), lembra o fisioterapeuta e educador físico Márcio Marega. “A ideia é proporcionar aos alunos da área da saúde, que muitas vezes passam por rotinas intensas de estudo, um local de prazer”, enfatiza.

O espaço conta com academia, quadras poliesportivas, área para confraternização, salão de jogos e solário, e é frequentado por alunos de Graduação em Enfermagem e Medicina, residentes e até por alguns médicos do Einstein. “Além de fazerem atividade física e relaxarem, os usuários do CEEBE acabam interagindo entre si, criando vínculos profissionais importantes”, comenta Marega.

Para Caio, a proposta do CEEBE de ser um espaço também de sociabilização é um atrativo importante para os alunos. “Quando sentimos vontade de ir para um lugar, sem que pareça que estamos indo apenas pelo compromisso de fazer atividade física, é muito mais prazeroso”, avalia.

Mylena conta que conheceu vários alunos de Medicina e de outros semestres da Enfermagem no CEEBE. “Os jogos de vôlei de praia e pingue e pongue, principalmente, ajudaram a unir mais as turmas”, exemplifica.

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