As Comunidades Práticas como um Diferencial Competitivo
Confira o artigo da Gerente de MBA e Programas de Gestão do Ensino Einstein, Flavia Angeli Ghisi Nielsen, sobre os Centros de Referência
Em 2020, dois anos após eu entrar no Einstein e assumir a área de Programas de Gestão dentro do Ensino da instituição, já havia vivenciado um pouco do comprometimento dos profissionais de saúde com o seu desenvolvimento pessoal. Em um setor complexo e em que o erro muitas vezes é oneroso, conheci pessoas sérias, competentes e que buscavam constantemente a qualificação. No entanto, os desafios do setor ainda pareciam muito maiores do que a educação formal, sozinha, podia endereçar. A cada conversa com gestores do Einstein, mais evidente ficava: os complexos problemas de saúde precisavam de articulação, parcerias e desenvolvimento em diferentes frentes. Essa questão se tornava ainda mais inquietante quando víamos as disparidades de qualidade entre diferentes instituições e o longo caminho de formação de líderes.
Foi aí que me despertou a vontade de criar uma comunidade de prática para profissionais de saúde. Mas qual temática seria mais urgente? Como reunir pessoas preocupadas com o futuro, mas que precisem construir hoje as soluções? Nas conversas com esses executivos, temáticas como saúde digital, inovação, governança e saúde mental também eram latentes e denotavam o quanto seria relevante unir líderes dessas áreas em uma comunidade de praticantes. nas conversas e trocas, frequentemente aparecia uma questão: o que é uma Comunidade de Prática e como ela pode contribuir para a transformação do setor?
O conceito de comunidade de prática (CoP) foi introduzido no início da década de 1990 por Jean Lave e Etienne Wenger em seus estudos sobre a teoria da aprendizagem situacional. O propósito de uma CoP é promover a expansão do conhecimento, a troca de experiências, o desenvolvimento das capacidades individuais e até a criação de novos conhecimentos. Em síntese, as CoP podem ser compreendidas como uma comunidade formada por um grupo de indivíduos que se reúnem periodicamente, por possuírem um interesse comum no aprendizado e na aplicação do que foi aprendido. No entanto, no mundo corporativo, as CoP têm sido comumente adotadas de forma equivocada em substituição a outros termos, como fóruns de discussão, comunidade de interesse, e até times de projetos ou de áreas.
Alguns pesquisadores defendem a ideia de que uma CoP “não é composta por visionários trocando ideias em torno de um assunto específico, compartilhando e beneficiando-se de outros especialistas, mas colegas compromissados em agregar as melhores práticas”. Na saúde, isso significa ter um ambiente seguro para partilhar, construir e sistematizar conhecimento tácito entre diferentes organizações.
As CoP se tornaram populares em várias organizações, que passaram a reconhecer que a partilha de conhecimento é importante para o aprendizado organizacional, sendo então percebidas como uma abordagem estratégica e uma forma inovadora de promover a aprendizagem. Podem ser caracterizadas por apresentarem as seguintes dimensões: empreendimento conjunto, envolvimento mútuo e repertório compartilhado.
O grupo compartilha de um interesse comum e a razão de ser da comunidade desperta interesse e a dedicação dos participantes. As CoP precisam ter uma identidade, um elo entre seus membros para discutir assuntos relacionados ao domínio, e pessoas realmente que pratiquem as atividades e processos sobre os quais os assuntos serão discutidos. As relações e interações entre os participantes são baseadas no aprendizado conjunto e compartilhamento de informações. Há normas de conduta, há confiança entre os participantes, bem como senso de pertencimento e papéis bem definidos dentro da comunidade.
Como exemplos de CoP, pode-se citar diversas iniciativas formadas por grupos de engenheiros de uma mesma empresa, de diferentes setores, com interesses similares em temas ligados à inovação. Junto, o grupo discute novas soluções e compartilham conhecimentos para desenvolverem novos produtos e superarem desafios técnicos do dia a dia. Também podemos mencionar aquelas CoP formadas por grupos de gestores de RH de diferentes instituições, que possuem interesses e desafios em comum, e que buscam trocar experiências, melhores práticas e manter encontros frequentes e discussões relevantes em prol do aprendizado coletivo.
De acordo com APQC (American Productivity & Quality Center), as CoP estão assumindo um papel-chave na gestão do conhecimento das organizações. Eas transcendem fronteiras criadas por estruturas hierárquicas, funções, aspectos geográficos e tempo. Há estudos que mostram que os ganhos advindos com as CoP são diversos, não apenas se restringindo à ampliação do conhecimento em uma temática, mas também na geração de novos negócios, redução de custos operacionais, advindos dos conhecimentos obtidos e networking entre os membros das CoPs.
Considerando a carência de um fórum de discussão de conteúdos específicos na área de gestão em saúde que promova pontes, com uma perspectiva de transformação do setor, decidimos então associar esforços em aprender juntos. Dada a relevância das CoP como uma abordagem estratégica e uma forma inovadora de promover a aprendizagem, em maio de 2022 a Área Programas de Gestão, do Ensino Einstein, em parceria com algumas áreas de negócio da instituição, desenvolveu 3 CoP, denominadas de Centros de Referência:
- Centro de Referência em Transformação Digital na Saúde (CRETS): tem como objetivo estimular a reflexão sobre a TRANSFORMAÇÃO DIGITAL NA SAÚDE e oferecer o acesso às melhores práticas de mercado, com intuito de conectar e inspirar os participantes com ideias e conceitos sobre a Saúde, tecnologia e seu futuro. O Centro será liderado pelos diretores do Einstein, Eliezer Silva e Rodrigo Demarch, com o apoio do gerente de inovação, Alexandre Mosquim, que serão articuladores de discussões, partilhas e projetos que movimentarão organizações de todo o setor de saúde. A proposta de valor dos CRE foi elaborada com apoio do Health Design Lab que, por meio do biodesign, buscou entender as jornadas dos tomadores de decisão e os desafios enfrentados em seu cotidiano.
- Centro de Referência em Governança, Legal e Compliance na Saúde: tem como objetivo incentivar a autorregulação no setor, destacando a articulação do Einstein na promoção de experiências e ampliação de visão de mercado. O centro busca movimentar os players do setor e instigar o protagonismo nas questões de governança, legal e compliance. É liderado pela Rogéria Leoni Cruz e pela Viviane Miranda, diretoras do Einstein e defensoras de evoluções concretas em toda a cadeia de valor.
- Centro de Referência em Saúde Mental e Bem-Estar: tem como objetivo promover a saúde mental e bem-estar em organizações e comunidades, incluindo múltiplos atores e perspectivas, propiciando diferentes programas, políticas e práticas de promoção da saúde mental e do bem-estar. O centro é liderado pela equipe Einstein de Saúde Mental, representada pelo Luis Zoldan e pela Dulce Brito, que têm trabalhado de forma consistente pela saúde mental nas diferentes organizações.
Os Centros de Referência do Einstein (CREs) estão previstos para iniciar seu funcionamento em meados de setembro/outubro. Inicialmente serão convidadas empresas para se associar ao centro, que indicarão profissionais tomadores de decisão e com afinidade em relação à temática. Os CREs vão propiciar a articulação de “radar e curadoria”. Os membros envolvidos vão construir colaborativamente o cenário do setor de saúde, aprendendo, ensinando e gerando valor à sociedade. É uma proposta que busca acelerar o desenvolvimento das diferentes organizações que, como nós, desejam aprender e construir coletivamente um futuro melhor.
Flavia Angeli Ghisi Nielsen, Gerente de MBA e Programas de Gestão do Ensino Einstein