Einstein Social

Como clowns, alunos da Graduação em Medicina descobrem nova forma de cuidar de pacientes

​Fantasiados de palhaços, eles fazem visitas animadas aos setores de pediatria, geriatria e de pessoas em estado crônico.

Neste momento repleto incertezas, alguns medos e a saudade do que se costumava viver antes da crise pandêmica causada pelo novo coronavírus, os alunos do terceiro ano da Graduação em Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) mantiveram-se firmes no propósito de levar afeto e arrancar sorrisos por meio do Projeto ComPaixão, inaugurado este ano.

Alex Sasai, Fernanda do Prado Moreira, Fernando de Jesus Alonso, Igor Souza, Inara Desiderio, Larissa Freitas e Lucas do Vale Barreto, acostumados a dar vida a palhaços dispostos a levar alegria a pacientes do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE), decidiram driblar a pandemia. E a grande ferramenta é o modelo digital.

Dessa forma, desde o final de maio, eles continuam se reunindo todas as sextas-feiras no período da tarde e virtualmente cumprem o encontro marcado com pacientes, que recebem os tablets das equipes de Enfermagem para se divertirem com as palhaçadas desses espirituosos estudantes.

Além de clowns, eles também atuam como administradores da Associação Civil Privada sem fins lucrativos, criada para oficializar a marca ComPaixão e introduzir na FICSAE a arte do palhaço. O Projeto, sonhado em agosto de 2017 por alunas da  Graduação em Medicinadas turmas um, dois e três, foi implantado em janeiro de 2020 por esses sete alunos.

Como palhaços e antes da crise pandêmica, eles já haviam visitado pacientes da pediatria, geriatria e crônicos, durante seis sextas-feiras, além de terem iniciado em fevereiro um processo de seleção entre outros alunos da Graduação em Medicina. Naquela época, eles tinham a ideia de atuarem como facilitadores e capacitarem mais 20 estudantes para as visitas a pacientes.

Capacitação
Com exceção de Fernando, os outros seis alunos foram capacitados no ano passado por um curso de clown da Oficina do Riso e por um treinamento de biossegurança e simulação realística do HIAE. Com isso, eles aprenderam tanto a arte do improviso quanto sobre os cuidados que precisam ter para se protegerem e também zelarem pelos internados.

A intenção desses preparos também é pautada pela importância de sorrir e de manter o bom humor como auxílio na recuperação de doentes, já comprovado em pesquisas científicas. “Além do mais, queremos propor um atendimento médico mais humanizado, que se preocupa com os sentimentos dos pacientes e como estão lidando com as enfermidades”, dizem.

Para Alex Sasai, que é mais introvertido do que expansivo, o curso de clown foi bastante desafiador. “A minha primeira visita foi de muita alegria e fomos super bem-recebidos. Valeu a pena ter feito essa capacitação e enfrentado a minha timidez, que se dilui com a interação e felicidade dos pacientes”.

Como estudante, com protocolos a seguir sempre que visita os leitos do Einstein, Fernanda Moreira quando entra na personagem do palhaço passa a ver o paciente com dimensões inimagináveis antes. “É muito importante para a minha formação como médica e como pessoa levar uma ‘cor’ diferente para aquele espaço e enxergar a fragilidade de cada pessoa, desconstruindo certo distanciamento imposto pela doença”.

O amor que todos têm pelo Projeto e a dedicação em mantê-lo ativo é o que estimula Igor Souza a fazer parte dele. “Os meus amigos podem estar muito cansados, mas se vestem de palhaços e vão para o hospital. Isso me mostrou que a medicina não é só cuidar da comorbidade, tem o afeto e a brincadeira que confortam as pessoas também”.

“A gente se entrega a cada visita. Sinto que é muito importante todos os profissionais da área da saúde estarem vinculados a um projeto desses”. Para Fernando Alonso, entender como mudar a vida de uma pessoa enferma, mesmo às vezes não sendo possível curá-la, é transformador. “Sabendo da nossa impotência de não termos a melhor terapia, mas enxergar a dor humana é fazer uma diferença que não saberemos medir”.

Inara Desiderio identifica-se com Alex. “Também sou tímida, mas essa experiência é única. Quando estou atuando esqueço a minha zona de conforto”. De um lado, sendo estudante e discutindo com os médicos os quadros clínicos de pacientes ela só pensa na doença. “Do outro eu foco em maneiras para diverti-los e tirar a preocupação deles com a saúde”.

Larissa Freitas conta que a proposta dá um sentindo a mais à sua vida. “Conhecer outras histórias e se conectar a elas é viver uma diversidade de pensamento e as várias formas de criar laços com as pessoas”. A aluna acredita na importância da presença para todos os seres humanos. “Com a pandemia, imagino ser muito difícil para o doente e sua família ficarem sem visitas no hospital. E é bom compartilhar o amor que temos e receber o que eles oferecem”.

O mais antigo do grupo é Lucas Barreto. “Tudo se resume em compaixão, ou seja, fazer as visitas com paixão e cultivar a empatia pelo próximo”. Ele se lembra da primeira visita dos clowns. “Uma senhora na ala da ortopedia começou a chorar. Ela disse que estava emocionada porque nós tínhamos alterado totalmente um ambiente triste para uma atmosfera cheia de felicidade. Nunca me esqueci disso”.

O próximo passo é expandir o Projeto ComPaixão para futuras visitas em hospitais públicos, proporcionando sorrisos e ânimo a todos os envolvidos. Mas, até lá, eles seguem levando alegrias e proporcionando dias melhores para os pacientes aos quais já têm acesso e por meio virtual, enquanto durar a pandemia.

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