Eu sou Einstein

Enfermeira leva cuidado humanizado do Brasil para Estados Unidos

​Formada pelo Einstein, Sulamita Dias Abrahamsohn conseguiu autorização e está há mais de um ano trabalhando como enfermeira no hospital Memorial Hermann, no Texas.

​Formada primeiramente em Administração, Sulamita Dias Abrahamsohn percebeu que tinha vocação para cuidar de pessoas na área da saúde e mudou de profissão. “Decidi fazer Enfermagem porque queria estar bem perto dos pacientes”, conta. Ex-aluna da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein, a paulistana de 33 anos de idade vive agora um novo processo de mudança, mas desta vez não é de profissão.

Casada com um norte-americano, Sulamita se mudou para os Estados Unidos e está há pouco mais de um ano trabalhando como enfermeira no hospital Memorial Hermann, em The Woodlands, no estado do Texas. “É o começo de um sonho que surgiu quando eu estava no Einstein”, lembra.

Em 2015, ainda na Graduação de Enfermagem do Einstein, Sulamita teve a oportunidade de participar de um estágio internacional no MD Anderson Cancer Center, na cidade de Houston, também no Texas, e se encantou com a experiência. “Desde então senti muita vontade de desenvolver uma carreira internacional para aprender as diferenças do cuidado humano em culturas distintas”, diz.

Autorização para trabalhar nos Estados Unidos

Segundo Sulamita, o primeiro passo para quem deseja trabalhar como enfermeira nos Estados Unidos deve ser conhecer as exigências do conselho de enfermagem do estado onde pretende atuar, pois pode haver diferenças de uma região para outra. No Texas, ela conta que solicitaram o currículo escolar geral traduzido para o inglês, além do currículo detalhado da graduação com todas as disciplinas cursadas.

Após isso, uma empresa indicada pelo conselho de enfermagem do Texas avaliou e aprovou sua graduação feita no Brasil. “A grade curricular que tive no Einstein foi totalmente compatível para o exercício da profissão naquele país”, conta. “Isso foi muito importante”, ressalta. Outras exigências foram o registro profissional de enfermeiro no Brasil atualizado e a certificação de proficiência em inglês.

Para ela, no entanto, um dos processos mais trabalhosos foi a prova conhecida como NCLEX (National Council Licensure Examination). Esse teste on-line envolve de 75 a 265 questões que aumentam de dificuldade conforme o grau de acerto dos participantes. “Essa prova é muito temida aqui nos Estados Unidos e todo enfermeiro, americano ou estrangeiro, precisa ser aprovado para exercer a profissão no país”, explica.

Aprovada em todas as etapas do processo, Sulamita conta que seu trâmite de autorização para trabalhar como enfermeira nos Estados Unidos durou aproximadamente um ano e dois meses. “Não foi muito rápido, mas seguir todos os passos legais é o jeito mais seguro de conseguir a permissão”, diz.

Enquanto isso, ela fez um curso técnico de enfermagem com duração de dois meses e passou a trabalhar no país exercendo atividades compatíveis a tal formação. “Mesmo já sendo enfermeira graduada, ter trabalhado como técnica foi muito importante para me familiarizar com o ambiente de trabalho norte-americano, conhecer a rotina deles, o funcionamento dos equipamentos e as linguagens específicas da profissão”, afirma.

Faltam enfermeiros nos Estados Unidos

Embora o fato de ser casada com um norte-americano tenha ajudado na obtenção de visto de residência e trabalho nos Estados Unidos, Sulamita lembra que a enfermagem é uma profissão com escassez de profissionais naquele país. “Existem vários outros enfermeiros estrangeiros aqui”, conta.

Com informações da Secretaria Norte-Americana de Estatísticas Trabalhistas, o jornal The Atlantic publicou em 2016 uma reportagem informando que os Estados Unidos precisariam até 2021 de mais de 1,2 milhão de enfermeiros para cobrir a demanda nacional.

Segundo a reportagem, a necessidade por esses profissionais aumentou devido ao crescente envelhecimento da população norte-americana, que passou a necessitar de mais cuidados de saúde. Isso significa também que muitos enfermeiros do país estão envelhecendo e se aposentando. Outros motivos são a falta de professores de enfermagem, a preferência dos enfermeiros em trabalhar em grandes centros urbanos, sobrando vagas nas áreas rurais e nas pequenas cidades, e a burocracia do sistema imigratório que pode causar longas esperas, principalmente de enfermeiros das Filipinas – país que oferece muitos profissionais para os Estados Unidos.

​​Carreira internacional

Feliz com o exercício da profissão nos Estados Unidos, Sulamita diz que pretende trabalhar como enfermeira no país por pelo menos mais dez anos. “Quero fazer mestrado e ampliar minha área de atuação”, comenta. “Aqui enfermeiras podem aplicar anestesia, prescrever medicamentos em alguns casos e prestar diversos tipos de suporte dentro da UTI”, exemplifica. “De uma forma geral, acho que a enfermagem nos Estados Unidos tem mais autonomia do que no Brasil”, compara.

O cuidado humanizado que desenvolveu durante sua Graduação de Enfermagem no Brasil, no entanto, tem se mostrado como um grande diferencial para trabalhar nos Estados Unidos, ressalta Sulamita.

“O Einstein me ensinou a ouvir os pacientes e a buscar entendê-los de forma holística, respeitando suas culturas e seus desejos. Antes de analisar a doença, eu aprendi no Einstein a observar o ser humano que está na minha frente e isso tenho aplicado diariamente aqui”, conta.

Notícias relacionadas