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Enfermeiro Socorrista, João Carlos relata a importância da Simulação Realística em sua trajetória

Acostumado a trabalhar em situações extremas, Enfermeiro Socorrista dedica-se a disseminar seus conhecimentos por meio da simulação de situações reais

Quem observa o grande desempenho do Enfermeiro João Carlos Barbosa, da Unidade Móvel Einstein – Morumbi, nem imagina a origem de sua trajetória profissional. Ele não descobriu a sua vocação quando criança ou foi inspirado por familiares… Tudo começou no Exército.

Assim que completou 18 anos, decidiu se inscrever como voluntário no Exército Brasileiro, que despertou seu interesse pelos serviços assistenciais, sendo direcionado a atuar como soldado socorrista. Ficou à disposição da Organização das Nações Unidas (ONU) para atuar como Enfermeiro na Guerra Civil do Haiti, em 2005, o que lhe rendeu cinco medalhas, além de menções honrosas. Voltou ao Brasil e pediu seu desligamento depois de sete anos de serviços prestados, passando a fazer parte da equipe de um convênio de saúde nos serviços médicos de transporte aéreo.

Pós-graduado em Cardiologia na Universidade Federal de São Paulo, João se especializou em Transporte Aeromédico e em atendimento envolvendo complicações cardíacas para suporte avançado a adultos e crianças, pela American Heart Association. “Quando acabei essa capacitação, fui aos Estados Unidos a fim de realizar meu desejo: um curso de simulação realística”. Essa foi a chave para uma nova atuação na área.

Em conjunto, todas essas experiências abriram portas para que ele construísse sua trajetória como Enfermeiro Socorrista no Hospital Israelita Albert Einstein, atuando também como Responsável Técnico pelo curso de Suporte Avançado de Vida em Cardiologia (ACLS), no Centro de Simulação Realística (CSR) da Instituição, onde ministra determinados treinamentos, juntamente com outros profissionais.

Simulação x Acidente Aéreo

 O preparo adquirido por meio da Simulação e as diferentes experiências profissionais o ajudaram a sobreviver e salvar vidas dos tripulantes num acidente aéreo sofrido em Minas Gerais. João trabalhava para uma empresa privada e, num deslocamento para Diamantina, o piloto tentou pousar e precisou decolar novamente, mas a aeronave não conseguiu sustentação, caindo em uma montanha, próxima à pista. Além dele, uma médica, o piloto e o copiloto ficaram feridos.

João sabia que precisava manter a calma e fazer os procedimentos necessários. Precisava organizar o cenário, pois estava sozinho para atender três vítimas. “É o que chamamos de método START (Simple Triage and Rapid Treatment), com o atendimento de forma sistematizada, avaliando sequencialmente”, explica.

Todos sobreviveram e foram atendidos na Santa Casa de Diamantina, sendo em seguida encaminhados para suas cidades de origem. Com o quadro mais grave da tripulação, João voltou para São Paulo com um sangramento no cérebro, uma hemorragia subaracnóidea, duas fraturas nas costelas, além de uma lesão na coxa esquerda.

Ainda assim, sentia muita gratidão pelos conhecimentos adquiridos na Simulação, que o motivaram a parar e refletir, naquele momento crítico, sobre o que era preciso fazer e qual caminho traçar para o protocolo de atendimento que o levou a salvar aquelas vidas. “Compartilhar o que sei para ajudar mais pessoas alimenta completamente a minha alma”, explica.

Desta forma, além de atuar no CRS, o Enfermeiro desempenha a função de docente da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE), no posto de assistente da disciplina de Práticas Básicas para alunos da Graduação em Medicina.

Mestrado Profissional e estudo sobre ECMO

 Apaixonado pela área de emergência, o que lhe dá mais prazer é salvar vidas e amenizar sofrimentos causados por fatalidades. Com essa motivação, em 2020, iniciou o Mestrado Profissional em Enfermagem no Ensino Einstein. “Pensei em fazer algo inovador, que contribuísse com os pacientes, vítimas de emergências. Discutindo sobre o assunto com meu coorientador e grande mentor, o Médico Cardiologista do Einstein Dr. Tarso Accorsi, resolvemos focar minha dissertação no tema ‘emergência envolvendo parada cardiorrespiratória (PCR)’, minha especialidade”.

João também relata uma breve experiência que teve em um congresso sobre emergências, na capital da República Tcheca. Ele observou que em diversos países da Europa muitas vítimas de PCR beneficiavam-se do uso da circulação extracorpórea (ECMO), durante a parada cardiorrespiratória. “Esse procedimento demonstrava aumentar inclusive a probabilidade de sobrevivência com menores chances de sequelas neurológicas, se comparada com a reanimação convencional”.

Começou a estudar a literatura nacional e internacional acerca do assunto, chegando à conclusão de que os hospitais no Brasil, em sua maioria, realizavam esse procedimento com protocolos definidos somente nas Unidades de Terapias Intensivas (UTIs). “Entendi que seria uma lacuna e poderia pesquisar a possibilidade de implantar esse protocolo em Pronto Socorro”, explica João, que inclusive ministrou algumas aulas em 2022 como convidado na disciplina de Pronto Socorro da Graduação em Enfermagem do Einstein.

Dessa observação na literatura nasceu a dissertação intitulada “Elaboração e validação de protocolo institucional para acionamento e instalação da circulação extracorpórea durante a parada cardiorrespiratória”, tendo a orientação da professora Dra. Eduarda Ribeiro.

De acordo com ele, toda essa trajetória sempre esteve voltada a salvar vidas e oferecer o melhor a seus pacientes e alunos. “Não me enxergo fazendo outra coisa”, alegra-se.

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