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Ex-aluna de Enfermagem da Faculdade Einstein participa de pesquisa com pacientes oncológicos

Inovador ao utilizar imagens de paisagens naturais, método desenvolvido pelo grupo de pesquisa e-Natureza alivia sintomas de pacientes com câncer

Coordenado pela pesquisadora sênior do Einstein, Dra. Eliseth Leão, com apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), um método inovador foi desenvolvido, com foco nos benefícios de imagens da natureza em pacientes oncológicos.

“Constatamos que imagens da natureza podem ser uma ferramenta para aliviar sintomas clínicos e psicológicos em pacientes submetidos à quimioterapia”, relata a Enfermeira de pesquisa do projeto, Giulia Catissi.

Monitoria durante a Graduação no Einstein e o incentivo à pesquisa

Quando cursava o 2º ano da Graduação em Enfermagem do Einstein, Giulia começou a atuar como monitora no Instituto de Ensino e Pesquisa do Hospital Israelita Albert Einstein. “A monitoria abriu todas as portas para o meu desenvolvimento profissional na pesquisa, em estudos multiprofissionais dentro do Einstein”, lembra.

“Na época, nós alunos recebemos um e-mail com as áreas de monitoria pelas quais podíamos optar. Escolhi o único trabalho disponível em pesquisa”.

Desde o início da prática em Enfermagem, ela sentiu-se motivada a desenvolver a habilidade científica, contando hoje com uma bagagem de conhecimento pessoal e profissional estendida ao longo do tempo.

“A oportunidade me permitiu acompanhar as atualizações e inovações da Enfermagem, no Brasil e no mundo, com interdisciplinaridade e visão ampliada”, sinaliza.

No segundo semestre de 2016, Giulia deu um importante passo rumo à pesquisa assistencial. Foi aprovada em processo seletivo e, no mesmo ano, realizou um estágio observacional em oncologia nos Estados Unidos, no MD Anderson Cancer Center. A Graduação em Enfermagem foi concluída em 2018.

Linha de pesquisa e-Natureza

A Enfermeira participa desde 2016 da linha de pesquisa e-Natureza, junto ao Núcleo de Pesquisa Assistencial do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.

“É uma linha de pesquisa institucional, chamada e-Natureza, formada por um grupo multidisciplinar. O principal objetivo é levantar aspectos de conexão com a natureza para benefícios à saúde humana e voltados à conservação da biodiversidade”.

Potencial terapêutico avaliado em estudo

O estudo avaliou o potencial terapêutico da visualização de imagens. A coleta de dados, segundo a pesquisadora, ocorreu entre agosto de 2018 e março de 2020. “Apresentamos em congresso internacional em 2021, com a publicação em 2023”.

Ex Aluna Da Enfermagem Do Einstein Participa De Pesquisa Com Pacientes Oncológicos 1
crédito: Lis Leão

Os participantes, lembra Giulia, foram selecionados a partir de uma lista semanal de pacientes agendados para sessões de quimioterapia. Convidados durante o período de infusão, aqueles que forneceram consentimento foram incluídos no processo de triagem.

Para a coleta das avaliações dos grupos de intervenção e controle, os participantes preencheram questionários antes da sessão e após um intervalo de 20 minutos.

Ensaio clínico randomizado

Giulia relata que o ensaio clínico randomizado (estudo experimental que avalia o efeito da intervenção) foi conduzido em uma unidade de atendimento ambulatorial para pacientes com câncer do hospital, em quimioterapia de infusão.

“Tivemos a análise final de 173 pacientes participantes, com a média de idade de 57 anos, variando de 22 a 90 anos”, comenta, citando os diagnósticos, sendo o mais frequente o câncer do sistema digestivo (27,8%), seguido pelo hematológico (21,0%) e do sistema reprodutivo (20,9%).

Validação no banco de imagens

Desde o início, a pesquisa esteve atrelada à fotografia. “Mas não tínhamos um banco de imagens de natureza com potencial terapêutico validadas cientificamente para uso aberto. Foi por meio da parceria com um fotógrafo da National Geographic que conseguimos mais de 400 imagens, divididas em categorias”.

Essas imagens foram liberadas para validação da população, com acesso a quem tivesse interesse em participar. Foram mais de 27 mil avaliações, com 739 participantes.

O estudo de validação das imagens de natureza resultou no banco de imagens e-Nature Positive Emotion Photography Database (e-NatPOEM).

“Terminado o ranqueamento com as melhores imagens, já validadas, precisávamos aplicar em pacientes”, lembra a Enfermeira, que fez a Graduação em Enfermagem no Einstein.

Descrição das imagens em grupos

As palavras que descrevem as imagens foram classificadas em grupos semânticos, conforme as emoções que cada uma evocava nos participantes. Com essas fotografias, foi criado um vídeo de 12 minutos. São imagens naturais clinicamente validadas pelo seu potencial terapêutico, com a seguinte classificação:

– Beleza: relacionada a admiração, com pássaros coloridos, insetos, flores e paisagens.

– Emoções positivas: ligadas a alegria e vivacidade, com água, pássaros, céu, insetos e mar.

– Tranquilidade: foco em paz e calma, incluindo água, céu e mar.

– Miscelânea: um conjunto envolvendo emoções não descritas nos demais grupos, com imagens de elementos como água, árvores, pássaros, céu, flores, insetos e paisagens.

Influências nos sintomas

“O conteúdo influenciou os sintomas clínicos de forma diferenciada. Ao considerar dor, fadiga, tristeza, ansiedade e apetite, tivemos evidências de melhora significativa nos sintomas em todo o grupo de intervenção”, ressalta.

A ansiedade, acrescenta Giulia, é um dos estados de humor mais prevalentes durante o tratamento do câncer, relacionada ao diagnóstico e ao tratamento em si, ao medo da metástase, à imprevisibilidade do sofrimento físico e ao futuro.

Vivência como paciente

A Enfermeira relata que há sete anos foi diagnosticada com linfoma de Hodgkin. “Foi um período muito marcante na minha vida: dar início à pesquisa, depois de um intercâmbio em oncologia, e vivenciar a experiência como paciente oncológica”.

É um tipo de câncer originado no sistema linfático (linfonodos ou gânglios), que tem como função auxiliar na formação das células de defesa do organismo.

O tratamento levou seis meses, além do acompanhamento nos cinco anos seguintes. “Conhecer outros pacientes me permitiu trocar histórias. Assim como a proximidade com a natureza mudou a minha vida, a pesquisa nos permite ajudar muitas outras pessoas”, finaliza.

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