Indústria 4.0 na área da saúde exige novas habilidades das lideranças
Profissionais em ambientes hospitalares já estão desenvolvendo competências que agregam valor para as áreas de Big Data, Analytics e Inteligência Artificial.
A 4ª Revolução Industrial ou Indústria 4.0, conceito desenvolvido pelo alemão Klaus Schwab, diretor e fundador do Fórum Econômico Mundial, defende que a industrialização atingiu uma quarta fase que transformará fundamentalmente as áreas comportamentais, os mercados de trabalho e de consumo e os relacionamentos interpessoais.
Na opinião de Schwab, trata-se de uma alteração de paradigma em todas as áreas e não apenas mais uma etapa do desenvolvimento tecnológico, uma vez que a Indústria 4.0 tende a ser totalmente automatizada a partir de sistemas que combinam máquinas com processos digitais. Com isso, estão surgindo novos cargos e funções. Na área da saúde não é diferente, com a demanda por um novo profissional habilitado em recursos tecnológicos e dotado de mais inteligência emocional.
O tema vem sendo atentamente acompanhado pelo diretor médico e superintendente do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Miguel Cendoroglo Neto, que monitora discussões nacionais e internacionais sobre o assunto e procura manter conversas atualizadas com os profissionais de tecnologia da informação.
De acordo com o superintendente, uma de suas preocupações é estar sempre atualizado em relação às descobertas e mudanças tecnológicas do setor da saúde. “Recebo informações de todas as formas, pois ainda é incipiente a disponibilidade de cursos bons para formar gestores de projetos digitais na nossa área”.
Ele, que acumula funções como professor livre-docente da Universidade Federal de São Paulo e professor assistente-adjunto da Tufts University School of Medicine (Boston), enxerga esse momento como um novo desafio para lideranças de sua área no Brasil e fora do país. “Aqui no Einstein estamos nos preparando para que haja cada vez mais recursos tecnológicos, de maneira que o profissional da saúde tenha tempo para estar ainda mais próximo do paciente”.
Segundo o Dr. Miguel, o setor de Tecnologia da Informação (TI) do Hospital tem focado em garantir a infraestrutura, a segurança dos dados e o suporte para todas as frentes de transformação digital. “A iniciativa de transformação digital inclusive está sob a responsabilidade da Diretoria de Inovação, a qual também gere a Eretz.bio, incubadora dedicada a fomentar projetos inovadores na área da saúde, envolvendo profissionais, pesquisadores e estudantes da Instituição”.
Ainda para apoiar a 4ª Revolução Industrial dentro do Einstein, foi criada a Diretoria de BigData e Analytics, cujos profissionais dedicam-se a cuidar da integração das bases de dados, realizar a gestão do Big Data, bem como criar e apoiar a construção de soluções de IA. “Nós temos, por exemplo, um programa de fluxo do paciente que já utiliza algoritmos como parte da Inteligência Artificial. Ele permite a gestão de macroprocessos, chegando a processos bem detalhados de modo a gerir a qualidade, a atenção e a segurança do paciente”.
A aplicação desse programa, entre outros aspectos, tem permitido a redução contínua do tempo de internações no Hospital, o monitoramento e a locação automatizada de leitos, otimização de recursos e promoção de boas experiências. “Hoje o nosso nível de predição está bem superior a 90%”, explica o superintendente.
Conforme ele, no Einstein inclusive já foram desenvolvidos algoritmos para facilitar o diagnóstico de câncer de próstata por ressonância magnética. “Eles estão sendo utilizados por indústrias que fabricam equipamentos de imagens”.
Para o Dr. Miguel, além de sobrar mais tempo para que médicos e enfermeiros se dediquem às pessoas assistidas, é relevante também o investimento em valores afetivos, melhorando essa relação tão importante nos tratamentos. Por isso, a inovação e a transformação digital vêm para favorecer esses comportamentos que podem levar à empatia, habilidade essencial aos profissionais da saúde, em sua opinião.
Novas competências profissionais
A superintendente de Estratégia e Inteligência de Dados do Einstein, Andrea Thomé Suman, acredita que a revolução tecnológica está se desenvolvendo em uma grande velocidade. “Isso gera mais conectividade e mais interação dos cidadãos, consequentemente, mais dados e uma necessidade de novas skills (habilidades), que não temos hoje disponíveis com tanta facilidade no mercado, para interpretar e identificar os grandes insights a partir desses dados”.
Com isso, Big Data é a área do conhecimento que estuda como tratar, analisar e obter informações a partir de grandes conjuntos de dados, proporcionando soluções inteligentes e tomadas de decisão mais assertivas, explica ela.
Segundo a executiva, são necessárias várias competências para ter sucesso nesse contexto. “Em se tratando do profissional da saúde, é fundamental agregar conhecimentos específicos nas soluções e quanto melhor sua visão das tecnologias digitais e potenciais possibilidades analíticas, mais fácil será identificar oportunidades nos processos atuais e alavancar essa transformação”.
De acordo com a especialista, atividades mais operacionais e repetitivas serão gradualmente substituídas por automações e será necessário que os profissionais desenvolvam ou se dediquem a capacidades cognitivas mais complexas e criativas.
Outra habilidade pertinente apontada por ela, como parte dessa transformação, é a disposição para o trabalho em equipe e em grupos multidisciplinares, que passa a ser indispensável para o sucesso dessa jornada. “Vejo como um grande desafio engajar pessoas desde o início, para que o resultado seja a partilha de conhecimentos, o uso eficiente das novas tecnologias e a criação de soluções que realmente transformem o processo atual e gerem impactos relevantes”.
Aplicação no Einstein
Visando alcançar eficiência dentro desses contextos, foi realizado um trabalho nesses últimos dois anos por uma equipe da área de Big Data e de Recursos Humanos que permitiu a criação de quatro carreiras analíticas. “São elas: o analista de dados que fornece a maior parte das soluções baseadas em dados na rotina da instituição; o cientista de dados – profissional com competências para prover soluções a partir de análises mais complexas; o engenheiro de dados – o qual organiza e prepara sistemas para análise de dados e o consultor de analytics, que interage com as especificidades da saúde e dessas tecnologias”, explica o cientista de dados da área de Big Data e Analytics do Einstein, Michel Fornaciali.
Para que os times e as lideranças assimilassem essa atual realidade dentro da Instituição, Andrea Suman conta que foi desenvolvido um Programa de Capacitação. Essa iniciativa resultou na criação de trilhas de fundamentos de dados analíticos, estatística, linguagem de programação e de modelagem de dados, entre outros, além de cursos para as lideranças, cuja primeira turma foi composta por integrantes da diretoria executiva. “Nessa formação, nós abordamos as tendências da tecnologia na área da saúde, desmistificações de conceitos sobre Big Data e Analytics, buscando nivelar o conhecimento e apoiar na mudança de mindset para incentivar os times a se engajarem nessa jornada”.
Ela também ressalta que têm sido criados diferentes canais de informações internas para dar suporte à mudança e, de acordo com os acontecimentos, poderão ser implantadas outras formas de aperfeiçoamento visando garantir mais especialização entre os profissionais de todo o ambiente hospitalar.
Michel Fornaciali, por exemplo, está trabalhando em um projeto que visa prover melhores insights para a gestão da saúde pública. Internamente, conta que o time de cientistas de dados do Einstein desenvolve uma solução que poderá prever o estado de saúde de determinadas pessoas em tratamento daqui a um ou dois anos. “Assim o médico, sua equipe e grupos de multiprofissionais poderão auxiliá-las a tomar decisões que levarão a hábitos mais saudáveis para a vida delas”.
Para o cientista de dados, os novos tempos mudarão a forma de os indivíduos lidarem com o seu bem-estar e de os profissionais da saúde interagirem com seus pacientes. “Serão instrumentos de trabalho novos para esses profissionais tomarem decisões e melhor gerirem as enfermidades de seus assistidos”.
O neurorradiologista e superintendente de Ciência de Dados e Analytics da Instituição, Dr. Edson Amaro Júnior, acrescenta que hoje os profissionais da saúde devem construir suas carreiras calcados em blocos de conhecimentos e assim ampliar suas experiências.
A integração de informações à operação de uma instituição depende da compreensão de todos sobre esses processos analíticos. “Sem exceção, em maior ou menor grau, é fundamental que os profissionais sejam apresentados a essas tecnologias analíticas, uma vez que o conhecimento da área é parte fundamental para que o uso de ferramentas de Inteligência Artificial e outras tecnologias avançadas tenham sucesso”.
Em sua opinião, no que diz respeito à imagem, a Inteligência Artificial, por exemplo, pode colaborar com mais precisão de diagnósticos e melhoria do fluxo da informação. “Pode ainda garantir que alguns exames sejam tratados e utilizados antes de outros, por apresentarem características com mais criticidade, ajudando-nos a pensar também na convergência de dados para favorecer tomadas de decisões que beneficiem o paciente”, resume o Dr. Edson.
Diante de toda essa vivência do Einstein e do fato de haver poucas alternativas de especialização para executivos que atuam na área da saúde, o Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein (IIEP) está não somente desenvolvendo expertises sobre o assunto dentro de suas instalações, como também compartilhando conhecimentos relevantes com profissionais da saúde de todo o país.
Neste ano, foi lançado o curso de atualização em Big Data, Analytics e Inteligência Artificial para Lideranças na Saúde, com o início da primeira turma previsto para março de 2020, visando aprofundar o conhecimento dos executivos sobre as tendências tecnológicas, além de discutir casos de uso das ferramentas disponibilizadas pelas áreas de Big Data, Analytics e Inteligência Artificial tanto do ambiente da saúde como de outros setores. “O curso também vai ajudá-los a estruturar, dentro de suas próprias empresas, estratégias voltadas à Indústria 4.0, assim como a gerir pessoas dentro dessa realidade”, conclui o médico.
Outra opção é o curso de Habilidades Gerenciais em Saúde: Desafios da Gestão, com discussões sobre as principais dificuldades vivenciadas na jornada de liderança e de gestão de equipes, de modo a buscar desenvolver no participante habilidades, atitudes e comportamentos requeridos pelo mercado, fortalecendo o papel do líder para conseguir fazer a sua equipe obter melhores e mais consistentes resultados, de maneira inspiradora.