Mente sã em corpo são: exercícios e práticas para a saúde física e mental
A atividade física regular e o movimento do corpo por cinco minutos a cada duas horas, pelo menos, ajudam a promover estados positivos de ânimo.
‘Mens sana in corpore sano’ é uma famosa citação de origem latina que significa “uma mente sã num corpo são”. A expressão é derivada da Sátira X de autoria do poeta romano Juvenal. No contexto do poema, a frase faz parte da resposta do autor à questão sobre o que as pessoas deveriam desejar na vida.
Presume-se que o poema tenha sido produzido entre 509 e 27 a.C., sendo até hoje para muitos uma boa síntese do significado de qualidade de vida. A educadora física do Einstein e docente do Centro Einstein de Esportes e Bem-Estar (CEEBE), Carla Montenegro, é uma das profissionais que estuda a associação entre a saúde mental e o bom preparo do corpo.
Ela garante que a atividade física regular é uma boa dica para jovens e adultos que levam uma vida repleta de tarefas. Com o intuito de ajudar as pessoas nessa empreitada foi criado o CEEBE, para contribuir com a saúde e bem-estar de alunos das graduações em Medicina e Enfermagem e Residentes.
Dedicado ao preparo físico e cuidado com a saúde mental, esse espaço disponibiliza outras atividades, além de equipamentos e locais apropriados para exercícios físicos, descanso, lazer e recreação. Também há práticas como meditação e mindfullness, consideradas importantes para o fomento ao bem-estar e atenção integral à saúde.
Para a educadora física, esse conjunto de atividades diz respeito às modificações no estilo de vida, as quais podem assumir uma importância especial na vida das pessoas. “Para quem lida frequentemente com nível alto ou moderado de estresse, possui uma vida agitada e muitas demandas, é fundamental inserir o hábito de meditar no dia a dia”.
Ela aponta que a meditação, o mindfullness e outras atividades relacionadas à saúde mental têm auxiliado no tratamento de indivíduos com doenças mentais. “Praticadas em conjunto com exercícios físicos, essas modalidades são ideais para o bom funcionamento do corpo e do cérebro”. Entretanto, essa informação ainda não é adequadamente compreendida por muitas pessoas.
Pesquisa realizada na Universidade de Nebraska (EUA), em 2006, atesta que as pessoas consideradas ativas e não sedentárias têm ainda melhora do sono, mais interesse sexual, alívio do estresse, melhora do humor, aumento de energia e resistência e redução do cansaço. Tais fatores podem contribuir para aumentar o estado de alerta mental e redução de peso e do colesterol ruim (LDL).
Entre as atividades que os estudos da Universidade de Nebraska apontam como sendo relevantes para as funções cerebrais estão: corrida, natação, ciclismo, caminhada, dança e até jardinagem. “Comprovadamente, elas reduzem a ansiedade e a depressão”, afirma Carla.
Dessa forma, o CEEBE desempenha um relevante papel, uma vez que tem como objetivo principal integrar as atividades física e mental dirigidas também aos profissionais e estudantes da área da saúde. “Esse setor no mundo todo exige bastante equilíbrio de seus envolvidos, pois reúne diferentes situações e níveis de doenças e estresse”, reforça.
A especialista, que também é professora-doutora, conta que o ideal é conciliar exercícios aeróbicos, musculares e atividades voltadas à saúde mental. “Hoje em dia, a expressão ‘mente sã em corpo são’ está também associada às práticas de meditação, yoga, relaxamento e interação social, além de todas as atividades físicas e de esportes que nós conhecemos”.
Conforme Carla, estudantes com carga horária integral ou aqueles que trabalham durante o dia e estudam à noite tendem a necessitar de práticas mentais para sentirem bem-estar.
O seu colega de profissão e coordenador do CEEBE, Márcio Marega, ressalta que “a meditação é a academia do cérebro”. Ele acredita que em um futuro não distante ela será incorporada no dia a dia de tratamentos de saúde. “Silenciar a mente inclusive melhora a plasticidade cerebral, colaborando com a organização de demandas como trabalho e estudos. Uma mente muito turbulenta tem dificuldade de reter e abstrair informações”.
Os dois educadores físicos comparam a mente a um Hard Disk (mais conhecido como HD
ou disco rígido). “Assim como um computador, temos de fazer uma limpeza frequente no nosso HD”, concordam. Segundo eles, a respiração é o elemento fundamental para silenciar os pensamentos e alcançar o equilíbrio do cérebro.
Pensar de maneira positiva e conservar a autoestima também favorecem as chances de obter mais sucesso na vida. “Uma pesquisa da Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, demonstrou que estudantes mais otimistas têm mais possibilidade de êxito na carreira e nos estudos”, completa Marega.
Conforme a preparadora física, é muito importante também exercitar-se fisicamente para recompensar os desgastes físico e mental, simultaneamente. Os estudos e tarefas solicitadas por professores de universidades muitas vezes requerem muita dedicação e é comum alunos, para cumprirem prazos e tarefas, perderem noites de sono ou dormirem pouco. Nesses casos, a recomendação da profissional é reservar pelo menos uma hora do dia para a prática de exercícios físicos, acompanhadas de técnicas de relaxamento.
Segundo ela, os exercícios aeróbicos estimulam o corpo a liberar o fator neurotrófico derivado do cérebro. Trata-se de uma proteína incentivadora do crescimento de novas células cerebrais e está relacionada ao aprendizado. Portanto, ainda ajuda estudantes e futuros profissionais a aprenderem mais, melhorando a cognição cerebral e ainda protegendo o cérebro de possíveis danos.
Cientificamente explicando, os exercícios físicos proporcionam a atividade no hipocampo cerebral, o centro da memória e aprendizado. “Isso é realmente muito bom e deixa as pessoas com a memória afiada, ótimo para quem precisa reter informações, seja no trabalho ou em seus estudos”.
“A atividade física promove o aumento do fluxo sanguíneo pelo corpo. O sangue é o responsável por levar o oxigênio ao coração, ao cérebro e aos músculos”, explica a educadora física. Conforme ela, durante os movimentos, o corpo inteiro é beneficiado pela saída de gás carbônico e entrada de oxigênio novo, limpo e renovado, principalmente se o praticante estiver em área verde ou protegida da poluição atmosférica.
Exercícios realizados ao ar livre são prazerosos, porém a poluição das grandes metrópoles prejudica a saúde, além da probabilidade de exposição solar indevida. Para fugir de fatores prejudiciais, uma alternativa é praticar exercícios dentro de parques e embaixo de árvores.
Outra opção da vida urbana é malhar na academia, que oferece um ambiente controlado, longe do sol, da chuva, da fumaça e fuligem dos carros ou de umidade muito baixa. Em geral, esses locais têm ar-condicionado, porém, o ambiente deve ser bem higienizado para não favorecer a proliferação de bactérias no ar.
Os especialistas afirmam que o movimento do corpo por cinco minutos a cada duas horas – pelo menos – promove estados positivos de ânimo. Além disso, a própria Organização Mundial da Saúde recomenda 150 minutos por semana de atividade física. Entre outras vantagens, tais práticas promovem a flexibilidade corporal, a saúde para os ossos e músculos, o auxílio na prevenção e retardamento de doenças cardiovasculares, diabetes e câncer.
Neurociência
Seguindo os dados de pesquisa científica realizada em 2019, publicada no Journal of Exercise Rehabilitation, pode-se afirmar que a neurociência tem compreendido uma variedade de investigações multidisciplinares, buscando entender a relação entre o corpo e o cérebro.
O levantamento afirma que o cérebro e suas funções podem ser influenciados por vários fatores, como exercício físico, envelhecimento, estresse, meio ambiente e dieta alimentar, entre outros, os quais estão ligados à plasticidade cerebral.
A plasticidade cerebral ou neuroplasticidade é a habilidade do cérebro para se recuperar e reestruturar. Essa capacidade de adaptação do sistema nervoso permite a recuperação do cérebro após transtornos ou lesões. Com essa reordenação, é possível ainda reduzir efeitos das estruturas alteradas por diferentes patologias.
A plasticidade refere-se à capacidade do sistema de conexão nervosa alterar seus níveis estruturais, funcionais e moleculares, incluindo a recuperação do Sistema Nervoso Central (SNC), após distúrbios ou lesões e de melhorar as estruturas alteradas devido a patologias como esclerose múltipla, doença de Parkinson, deterioração cognitiva, Alzheimer, dislexia, insônia etc.