Atendimento psicológico e outras estratégias contra o “esgotamento” durante a graduação
Como a rápida identificação e acompanhamento especializado podem ajudar os estudantes a superar o estresse.
Aulas, debates, trabalhos em grupo, provas, seminários, estágios… A rotina dos estudantes universitários é intensa. Nos cursos da área da saúde, acrescenta-se ainda o convívio com as doenças dos pacientes e os períodos integrais de estudo, por longos anos. Diante de tantas condições que podem elevar os níveis de estresse, a questão da saúde mental dos estudantes tornou-se uma preocupação não só dos próprios alunos e de familiares, mas também das instituições de ensino.
Com cerca de 600 alunos de graduação em Medicina e Enfermagem, a Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein tem várias iniciativas de acompanhamento da saúde física e mental de seus estudantes, coordenadas pelo Núcleo de Apoio ao Estudante (NAE). “Nosso objetivo principal é promover o bem-estar dos nossos alunos”, afirma o médico psiquiatra e coordenador do NAE, Dr. Fábio Pinato Sato.
Uma das iniciativas do núcleo é o Serviço de Atendimento Psicológico ao Estudante (SAPE). Na mesma unidade em que são oferecidos os cursos de graduação, em São Paulo, uma psicóloga oferece atendimento gratuito, conforme a necessidade de cada aluno.
Outro serviço oferecido pelo Ensino Einstein é o Programa de Orientação Pessoal (POP), extensivo também aos funcionários da Instituição e seus familiares. Durante 24 horas por dia, em todos os dias da semana, um profissional fica de plantão por telefone para prestar apoio psicológico e auxiliar com informações sobre várias áreas, como Pedagogia, Nutrição, Serviço Social, Finanças e Jurídico.
Vulnerabilidade dos estudantes da saúde
Além da rotina intensa e do convívio com situações de sofrimento, outras condições podem prejudicar a saúde mental dos alunos dos cursos de graduação na área da saúde. No caso específico do Einstein, Dr. Sato considera como fatores de vulnerabilidade a distância da família e o processo de amadurecimento pessoal – principalmente para alunos que se mudaram para São Paulo por causa do curso – e eventuais problemas financeiros. “Mudanças, incertezas e pressões frequentes nessa fase da vida elevam o risco de esgotamento”, comenta.
Um dos transtornos mais comuns entre os alunos dos cursos de saúde é a síndrome de burnout, caracterizada pela sensação de esgotamento físico e emocional. Dados de um importante estudo de revisão (metanálise), publicado no Journal of the American Medical Association (JAMA) no final de 2016, apontam que em torno de 27% dos alunos de Medicina têm um quadro depressivo. Entre eles, pouco mais de 50% procuraram tratamento especializado. No Brasil, estudos publicados nas revistas científicas Plos One e BMC Nursing identificaram, respectivamente, sinais dessa síndrome em 45% dos alunos de Medicina e 64% dos alunos de Enfermagem.
Ainda no Brasil, na Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), uma pesquisa realizada com 763 alunos de Medicina encontrou também alta prevalência de estresse (47%), ansiedade (37%) e depressão (35%). Os pesquisadores observaram que a prevalência de estresse foi maior no 8o e no 12o semestre da graduação – períodos que marcam, respectivamente, a entrada para o estágio clínico e a formatura. Ou seja, momentos em que os alunos normalmente se preparam para assumir mais compromissos relacionados à profissão.
Com o intuito de refletir sobre esses períodos críticos durante o curso de Medicina, o NAE tem promovido também grupos de orientação acadêmica, conta Dr. Sato. “Professores da própria Faculdade fazem reuniões com alunos inscritos nesse programa e discutem problemas e dificuldades envolvidos na rotina das aulas e provas durante o semestre”, explica. “Além disso, promovemos conversas em grupo, estendidas a todos os alunos da Faculdade, com o objetivo de desenvolver e estimular habilidades socioemocionais”, completa.
Como disciplina optativa, a Faculdade do Einstein oferece ainda teoria aliada à prática do mindfulness (atenção plena) – técnica que visa ao controle sobre a capacidade de se concentrar nas experiências, atividades e sensações do presente. Diversos estudos associam essa prática a melhorias na saúde mental.
Promovendo a vida saudável
Em breve, o Ensino Einstein contará com o Centro Einstein de Esportes e Bem-Estar (CEEBE). Localizado no bairro do Morumbi, esse novo espaço terá academia, quadras poliesportivas, ambientes de convivência, solário e mirante.
“Planejamos esse espaço para que nossos alunos tenham, ao mesmo tempo, condições de convívio, uma vida saudável e opções de válvulas de escape que evitem a síndrome de burnout“, afirma o presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Dr. Sidney Klajner.
Sinais e sintomas
Alguns sinais e sintomas merecem atenção, pois podem indicar comprometimento da saúde mental. Como nem sempre as pessoas afetadas conseguem reconhecer essas manifestações, pais e outros familiares, amigos e colegas de classe também podem ajudar na identificação. Os principais achados são:
- Estresse e ansiedade.
- Insônia por mais de três dias seguidos (problemas persistentes para dormir e permanecer dormindo).
- Mau humor e irritabilidade.
- Vontade de chorar com frequência.
- Tristeza, pessimismo e desânimo constantes.
- Isolamento e baixa autoestima.
- Comer muito mais ou menos do que o habitual.
- Dificuldade de concentração e ansiedade.
- Dores de cabeça e musculares.
Diante de um ou mais sinais como esses, os estudantes podem procurar atendimento especializado. “Embora o foco do NAE seja atuar na prevenção de qualquer transtorno mental, ou seja, na promoção do bem-estar, se houver situações de qualquer tipo de estresse emocional, estamos preparados para acolher e oferecer tratamento”, informa Dr. Sato.