Einstein investe em ampliação da cultura de pesquisa científica na UTI
Dr. Ary Serpa Neto, médico pesquisador do Einstein, visitou o Centro de Pesquisa do Hospital Austin, na Austrália, para troca de expertise na área de UTI.
A despeito de sua gravidade e importância, quadros de sepse não possuíam, até pouco tempo, um estudo que avaliasse, em seres humanos, a associação entre suas características e desfechos e uma nova via de morte celular denominada necroptose. Atento à questão, o professor livre-docente Dr. Ary Serpa Neto, médico plantonista da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE) e pesquisador do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa – em colaboração com o professor Ricardo Weinlich e o mestrando David Pablo Jolvino – elaborou um projeto de pesquisa que avançou nesses resultados.
A investigação, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), resultou num valioso convite para participar de projetos em uma das mais importantes instituições de medicina do mundo, o Hospital Austin, ligado à Universidade de Melbourne, na Austrália.
A visita do Dr. Serpa Neto à instituição australiana aconteceu em maio deste ano e foi viabilizada por meio de um fomento SPRINT da FAPESP, oportunidade em que o visitante é chamado a participar de diferenciadas investigações científicas. Vários projetos voltados à Unidade de Terapia Intensiva contaram com sua participação, para auxílio a pesquisadores e alunos em diferentes fases e tipos de pesquisa do Hospital Austin, ligado à Universidade de Melbourne.
Segundo ele, a UTI da instituição é muito parecida com a do HIAE, no que diz respeito ao cuidado direcionado ao paciente e à disponibilidade de medicação e de recursos. Porém, no Brasil, ainda não há uma cultura sólida de realização de estudos clínicos em UTI, sobretudo por parte das organizações privadas.
De acordo com o médico, esse empenho também visa resgatar a história do Einstein, como incentivador de investigações científicas na UTI. “Estamos trabalhando para que médicos, residentes, enfermeiros, fisioterapeutas, farmacêuticos e técnicos possam colaborar com a ampliação e fortalecimento de uma cultura de pesquisa dentro de nosso departamento”.
Desde 2014 no Einstein, ele reforça a importância do aprendizado com o Hospital Austin. “Lá, eles já têm uma cultura implementada em pesquisa, presente no comportamento natural do plantonista, do residente, da enfermeira, do farmacêutico, bem como de toda UTI”.
Durante sua visita como pesquisador visitante, o Dr. Serpa Neto tomou conhecimento de como foram estruturados os grupos de pesquisa dentro da UTI do Austin. Além disso, teve acesso aos caminhos percorridos por aquela instituição para a criação dessa cultura nas equipes. “O time inteiro da UTI de lá considera fundamental a participação de pacientes em seus estudos”.
Os colaboradores da instituição australiana conseguem, com eficiência, sinalizar os estudos mais adequados para determinados pacientes e, ainda, divulgam o trabalho de uma maneira bastante produtiva. Dessa forma, o Hospital Austin consegue financiar adequadamente os pesquisadores dentro da UTI. “Eu tive contato com enfermeiras da UTI que atuavam também em pesquisas. O salário delas como pesquisadoras era maior do que atuando na assistência, por exemplo”.
Este incentivo financeiro somente é possível em razão dos vários estudos que acabam remunerando os investigadores. “É importante que se torne natural o fato de um paciente que estamos atendendo participar de um protocolo de pesquisa. Para isso, são necessários: vontade, cultura e pessoas focadas no trabalho”.
Vocação científica
A Unidade de Terapia Intensiva do Einstein soma histórias de participação em grandes pesquisas, principalmente na época em que era conduzida pelo seu fundador e professor-doutor Elias Knobel, que muito se empenhou para a produção científica. “Ele primava por avanços nesse departamento e queremos recuperar essa cultura”, esclarece o Dr. Serpa Neto.
Nesta premissa de trabalho, o Einstein, representado pela UTI, já está inserido em um grande estudo nacional, tendo nele incluído mais de 300 pacientes. Ao todo são 80 hospitais brasileiros participando desse importante estudo. O HIAE é o único grande hospital particular a participar dessa pesquisa, estando também entre as instituições que mais recrutam pacientes. “A rede pública de saúde tem menos barreiras do que os hospitais privados. Isso é um sinal de que já estamos transformando e resgatando a cultura dentro do departamento”.
Contribuições do fellowship para o Einstein
Outro resultado de sua viagem à Austrália foi a investigação sobre a medicação Dexmedetomidina, junto a um grupo de pesquisadores do Hospital Austin. A substância tem como finalidade induzir um estado de sedação leve. Entretanto, como possível evento adverso, constata-se a sua capacidade de aumentar a temperatura corporal de pacientes.
Esse trabalho teve a sua versão no Einstein, com dados coletados de pacientes que recebem a medicação. “Esse talvez seja um dos primeiros casos de sucesso de parceria entre a área clínica e o setor de Big Data do hospital”, afirma ele. “A pesquisa extraiu e cruzou informações diretamente do prontuário eletrônico de aproximadamente dois mil pacientes”, completa.
Segundo o pesquisador, os resultados desse levantamento, em breve, estarão na etapa de análise de dados e construção de artigos científicos, tendo a colaboração do diretor do grupo de pesquisa do Hospital Austin, o professor Rinaldo Bellomo.
Outra novidade trazida pelo Dr. Serpa Neto é o convite do professor Bellomo, também um dos cientistas mais importantes do mundo, para atuar como pesquisador sênior da The Australian and New Zealand Intensive Care Research Centre (ANZIC-RC), em 2020. Bastante prestigiada, essa posição acumula as funções de conduzir estudos clínicos, organizar bancos de dados, orientar alunos e, principalmente, firmar a colaboração entre a ANZIC-RC e o Einstein no campo de estudos da medicina intensiva.
O ANZIC-RC é uma colaboração internacional entre a Nova Zelândia e a Austrália, responsável pela condução dos mais relevantes estudos clínicos da área de terapia intensiva. É também um dos grupos mais importantes do planeta em produção de ciência e evidência científica em UTI. Por esta razão, o HIAE comemora mais uma realização direcionada ao aprimoramento e incentivo da pesquisa, visando ao crescimento de seus colaboradores, como parte de sua filosofia.