Em 1970 o conceito de UTI ainda era novo no mundo, e o Dr. Elias topou o desafio de criar uma
Cardiologista clínico, o Dr. Elias Knobel liderou a estruturação e dirigiu por 32 anos a UTI do Hospital Israelita Albert Einstein, até hoje uma referência em terapia intensiva.
A lista de títulos do Dr. Elias Knobel é extensa: professor de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), master do American College of Physicians, fellow da American Heart Association e do American College of Critical Care Medicine e membro honorário do European Society of Intensive Care Medicine. Ele também é autor de livros consagrados e centenas de artigos científicos. E leva no currículo algo que não estava em seus horizontes quando se formou em Cardiologia pela Unifesp em 1967: a criação da Unidade de Terapia Intensiva do Einstein.
O Dr. Elias tinha apenas 28 anos e a experiência de ter atuado em vários prontos-socorros de São Paulo quando chegou ao Einstein com a missão de implantar uma unidade especializada no atendimento a pacientes críticos. Na época, o conceito era uma novidade aqui e em outras partes do mundo. A primeira UTI da Instituição foi inaugurada em 18 de maio de 1972. Tinha quatro leitos de cuidado intensivo e seis de semi-intensivo. “Fomos um dos primeiros hospitais do mundo a contar com uma estrutura semi-intensiva”, recorda ele, destacando o pioneirismo dentro do outro pioneirismo, que era a própria criação da UTI.
“Foi um período de desbravamento e entusiasmo, que implicava grandes aprendizados, inovações e adaptações. Era tudo muito novo. Precisamos, inclusive, aprender a consertar equipamentos importados, pois no Brasil ainda não existia assistência técnica habilitada”, conta.
Fama internacional
Depois da primeira UTI, vieram as expansões, com novas unidades em 1975 e 1996, consolidando o Einstein como detentor de uma das maiores estruturas de UTI do mundo. “Fomos crescendo fisicamente, inovando em tecnologias e, principalmente, investindo em recursos humanos, que sempre foi o nosso grande diferencial”, ressalta o Dr. Elias.
Os profissionais da equipe viajavam com frequência ao exterior para conhecer o que havia de melhor nos grandes centros médicos internacionais e trazer as inovações e boas práticas para dentro do Hospital. A estrutura tecnológica da UTI do Einstein logo se tornou uma das mais avançadas do mundo, e o trabalho ali desenvolvido foi ganhando fama internacional.
Antes de se tornar padrão no cenário assistencial, a unidade já trabalhava com indicadores e estabelecia seus próprios protocolos de conduta, práticas na época pouco comuns. Trilhando caminhos inovadores, foi protagonista e palco de feitos marcantes no contexto brasileiro e internacional, como a adoção de mecanismos para controle da sepse (infecção generalizada) e infeções hospitalares comuns em UTIs e os avanços no tratamento do infarto e outros problemas cardiovasculares. “A partir de um trabalho que sempre procurou combinar qualidade e sustentabilidade, fomos reconhecidos como a melhor UTI da América do Sul”, orgulha-se o Dr. Elias.
Usina de conhecimento
Essa bem-sucedida experiência virou referência, e o Dr. Elias perdeu a conta do número de participações em simpósios, aulas em faculdades e outros eventos científicos no Brasil e em países como Alemanha, França, Bélgica, Israel, Portugal, Chile, Argentina e Uruguai. “Mostrávamos tudo de cabeça erguida, apresentando nosso elevado nível de qualidade no campo da terapia intensiva”, enfatiza o Dr. Elias, que dirigiu a UTI do Einstein por 32 anos e permanece como seu diretor emérito.
Sua expertise o conduziu a outras posições institucionais: foi um dos sócios-fundadores da Sociedade Paulista de Terapia Intensiva e ativo participante da criação da Associação de Medicina Intensiva Brasileira. Foi também o idealizador do International Symposium on Intensive Care and Emergency Medicine for Latin America (ISICEM- LA), capítulo latino-americano do tradicional evento realizado em Bruxelas, considerado o mais importante simpósio de terapia intensiva do planeta.
“Além disso, fomos pioneiros na publicação de trabalhos científicos produzidos em UTI, realizados num hospital privado, o que era inédito naquela época. São mais de 700 publicações e muitos livros especializados”, informa.
O Dr. Elias é autor de mais de 20 livros, três deles publicados também em espanhol. Entre eles, estão os manuais de Terapia Intensiva (Neurologia, Enfermagem e Nutrição, entre outros); Condutas em Terapia Intensiva Cardiológica; e o best seller Condutas no Paciente Grave, que está em sua 4ª edição. Escreveu, ainda, várias obras que extrapolaram com sensibilidade e criatividade os muros técnicos e científicos da medicina, como Memórias Agudas e Crônicas de uma UTI, Vivências e Confidências: Histórias Médicas, A Vida Por Um Fio e Por Inteiro e Coração… É Emoção, este último ganhador do Prêmio Jabuti 2011 (Psicologia e Psicanálise). “No âmbito da literatura, minha grande inspiração é Moacyr Scliar, médico sanitarista gaúcho, um dos grandes contistas nacionais”, revela.
No livro e no ISICEM
A próxima obra já está no forno. Trata-se de um livro que interrelacionará temas como medicina, ciência, arte e paixão. A temática será abordada pelo Dr. Elias em sua apresentação na 10ª edição do ISICEM-LA, programada para ocorrer nos dias 10 a 13 de julho.
O evento é uma parceria do Einstein com o Hospital Erasme, da Universidade Livre de Bruxelas, representados respectivamente pelos professores doutores Elias Knobel, presidente do simpósio, e Jean-Louis Vincent, considerado a maior autoridade em medicina intensiva do mundo.
“Para a comunidade científica latino-americana será uma oportunidade para ouvir os melhores especialistas nacionais e internacionais sobre temas importantes da área, como sistemas de controle interno de qualidade, de combate a infecções e de monitorização, além de discussões sobre avanços tecnológicos relacionados a frentes estratégicas, como a utilização do big data na medicina intensiva”, adianta o Dr. Elias.
Impulso humanista
Atualmente, ele dedica boa parte de seu tempo às atividades em seu consultório no Einstein, um espaço decorado com fotografias e peças que tornam o ambiente aconchegante, como a coleção de corujas exposta no alto da estante e as peças de madeira esculpidas pelo próprio Dr. Elias – um dos hobbies que cultiva, além da paixão por viagens e por temas relacionados a ecologia. É mais uma mostra de sua capacidade de transitar por diferentes mundos – da medicina à arte e literatura.
Na própria medicina transitou por eras diversas, e procura extrair o melhor de cada uma. “Eu sou um médico que participou do lançamento de todas as últimas grandes inovações da medicina: ecocardiograma, ultrassom, ressonância magnética, tomografia, medicina nuclear, etc. Contudo, tenho uma formação clínica ortodoxa. Sou aquele clínico de examinar, de por a mão no paciente”, afirma.
Qual o segredo para conciliar medicinas que hoje parecem tão diferentes? “O que fiz foi aprender a usar todos esses avanços tecnológicos e associá-los a uma prática médica direcionada a quem realmente interessa: a pessoa”, diz o Dr. Elias. “De fato, o que me move é esse impulso humanista. Sou um médico ortodoxo que pratica medicina moderna”, resume ele.