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Equipe multiprofissional: o suporte fundamental no Transtorno do Espectro do Autismo

​Vinícius "tem dois anos e meio e desde o primeiro aniversário realiza terapia intensiva por influência de sua mãe Andrea", que viu nesse tratamento a chance de desenvolvimento do filho.

“Uma luz no fim do túnel”. É assim que a Pedagoga Andrea Zicks* define uma equipe multiprofissional destinada aos cuidados de pessoas com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA). Normalmente, o grupo é formado por Psicólogos, Fonoaudiólogos, Terapeutas Ocupacionais, Psicopedagogos, Nutricionistas e Médicos.

Ela chegou a essa sensação sobre a equipe depois que teve dificuldade para entender o comportamento de seu filho caçula Vinícius*, diagnosticado com o Transtorno quando tinha aproximadamente um ano e meio de idade.

Antes disso, quando buscava o Vinícius na creche e o levava para casa todos os finais de tarde, Andrea passou a estranhar o comportamento do garoto. “Às vezes eu chegava um pouco mais cedo e o via isolado no canto da sala de aula, longe da Professora e das crianças”.

Diante desse comportamento do filho, ela começou a ligar os fatos, pois em idade de começar a pronunciar as primeiras sílabas e a dar os passos iniciais, o pequenino não esboçava nenhum sinal de fala e apresentava falta de equilíbrio ao ficar em pé na tentativa de andar. “Ele também não interagia com o ambiente em casa, não compartilhava brinquedos, não tinha curiosidade sobre os objetos”.

Segundo Andrea, na escola ele não se envolvia em certas atividades lúdicas que ela julgava serem bastante interessantes. A indiferença de Vinícius inquietou sua mãe, que o levou para uma consulta com uma Médica Pediatra, a qual o encaminhou para a realização de exames.

Mesmo sem alterações nos testes, ela insistiu dizendo que o comportamento do filho não estava de acordo com o padrão das outras crianças de sua idade. Então foram indicadas sessões de terapias e o menino começou a frequentar o consultório de uma Psicóloga uma vez por semana.

Não notando nenhum desenvolvimento satisfatório, Andrea buscou informações por conta própria e percebeu que o filho poderia estar sofrendo de Transtorno do Espectro do Autismo. “Infelizmente esse conhecimento não chega de forma fácil para nós mães. Ainda é um mundo pouco direcionado, inacessível. Para o profissional, não é fácil diagnosticar e para a família é difícil ter acesso às informações. O Vinícius ainda era um bebê”.

Simultaneamente à sua procura por mais esclarecimento a respeito do garoto, soube que o filho de uma prima Enfermeira tinha sido diagnosticado com o TEA. “Eu perguntei para ela qual seria o tratamento e ela respondeu que nesse caso só mesmo terapia intensa”.

Diante dessa informação, Andrea procurou uma Neuropediatra e, durante a consulta, a Médica recomendou que Vinícius também fizesse terapia intensa. Desde então, há cerca de um ano, o pequeno frequenta uma clínica especializada, de segunda a sexta, das 13 às 17 horas. Nesse período ele é atendido por Fonoaudióloga, Psicóloga, Terapeuta Ocupacional e uma profissional especializada em integração sensorial.

Conforme Andrea, a partir desse momento já foi possível perceber certa evolução de seu filho, que foi progredindo dia após dia. “Até hoje cada vogal que ele fala é uma vitória e nos esforçamos muito para que ele tenha o melhor atendimento. Estamos muito felizes com o tratamento”.

Com a equipe multiprofissional, o garoto passou a exercer o ato de escolha, interagir com seus familiares, crianças e os espaços tanto na escola quanto em casa. “Tudo isso foi devido à terapia intensa que eu considero fundamental. As profissionais que atendem o Vinícius são nossos anjos da guarda”.

Equipe multiprofissional no tratamento do espectro do autismo

O trabalho da equipe multiprofissional desenvolvido com Vinícius é associado à escola. Tanto as Professoras quanto as terapeutas priorizam um canal de comunicação entre elas, para melhor acompanhar as atividades do menino.

No início deste ano, ele retornou às aulas pela manhã, depois de um período distante da escola devido à pandemia causada pelo novo coronavírus. “Interação com as outras crianças também ajuda, mas com o agravamento da pandemia, as atividades têm sido realizadas em casa novamente”, diz Andrea.

Graças ao empenho dela em procurar formas adequadas de tratamento, o filho já brinca com outras crianças, demonstra curiosidade pelo desconhecido, presta mais atenção às atividades e contação de história, mostra mais receptividade e está mais interessado em aprender por meio da imitação. “Ter conforto ao se comunicar com outras pessoas é muito rico para ele”.

O TEA manifesta-se e desenvolve-se de formas diferentes em cada caso. Há características comuns ao quadro geral, mas também únicas de acordo com cada pessoa. Por isso, as intervenções devem ser analisadas individualmente.

Dessa forma, um time multiprofissional naturalmente possui competências e mais condições de indicar diferentes opções de abordagens, adequadas ao paciente, seus familiares e à realidade em que vivem.

A equipe multiprofissional trabalha com o objetivo de alcançar a melhora progressiva da qualidade de vida do paciente, definindo as condutas em conjunto e envolvendo a família do autista frequentemente. “Uma vez por mês eu me reúno com as profissionais para receber delas os feedbacks e ao mesmo tempo falar sobre a rotina dele em casa”, conta Andrea.

A família tem uma grande importância durante toda a vida das pessoas com TEA, já que também é afetada direta e indiretamente. Por isso, os familiares precisam receber acompanhamento e atenção especial nas intervenções. Esses e outros procedimentos são abordados no curso de Pós-graduação Transtorno do Espectro do Autismo: Atenção multiprofissional, criado para suprir a lacuna de formação profissional ainda existente na área da saúde.

Análise Comportamental Aplicada

A metodologia conhecida como Análise Comportamental Aplicada (do inglês, Applied Behavior Analysis) é considerada no Brasil como uma linha teórica da Psicologia, assim como a Psicanálise, Psicologia Cognitiva ou Psicodrama. Ela tem sido muito adotada no tratamento do TEA de maneira independente.

Baseadas em evidências científicas, as intervenções em ABA dão suporte à equipe multiprofissional que, de modo estruturado, têm focado na linguagem e comportamentos considerados não funcionais. “Vinícius também tem evoluído muito com a aplicação dessa metodologia que faz parte de todo o conjunto de alternativas em seu tratamento”, finaliza Andrea.

*Nomes trocados para preservação da privacidade dos entrevistados

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