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Testagem sugere que ambiente escolar com protocolos corretos não aumenta o risco de contágio pelo novo coronavírus

​Filhos de colaboradores, alunos, residentes e profissionais do Ensino Einstein participam de levantamento que indica a viabilidade de controle de contaminação em espaços educacionais.

O dia 17 março deste ano marcou a primeira reunião entre colaboradores e gestores ligados a diversas áreas do Einstein. Eles estavam preocupados em criar uma solução confiável e eficiente para que funcionários que atuavam na linha de frente dos cuidados a pacientes com COVID-19 deixassem seus filhos seguros, diante da então recém-declarada pandemia ocasionada pelo novo coronavírus.

Começava naquele momento a ser desenhado o “Projeto de Acolhimento ao Filho do Colaborador”, que contou com a participação de gestores e colaboradores das áreas do Ensino Einstein, Recursos Humanos, Saúde da População e Administrativa.

Neste processo, a Instituição procurou colégios em seu entorno e levou a ideia para as secretarias estadual e municipal de educação de São Paulo, as quais aprovaram legalmente a sua realização. O Colégio Miguel de Cervantes, no Morumbi, foi o primeiro a aceitar a parceria, que já dura mais de 6 meses.

Toda essa preocupação e agilidade contribuíram para que o Projeto tivesse início em 25 de março, dois dias após o Governo do Estado de São Paulo decretar a quarentena nas escolas, devido à expansão de casos confirmados de COVID-19. Com o Colégio já preparado para acolher 370 crianças, seguindo todas as recomendações oficiais baseadas na gestão de riscos de contágio do vírus, os filhos de colaboradores começaram a ser recebidos no local.

Com isso foi criado um planejamento estruturado seguindo todas as restrições indicadas pelas instituições oficiais de saúde nacional e internacional, como o uso de máscaras, de álcool gel, distanciamento social, bloqueio de entrada de pessoas sintomáticas e higienização de brinquedos, objetos e ambientes. Tudo que não colocasse em risco nenhuma das pessoas envolvidas. “No início da pandemia criamos os protocolos para um Colégio atuar com segurança”, explica o Diretor-Superintendente do Ensino Einstein, Felipe Spinelli.

O resultado desse esforço atesta que desde a inauguração do Projeto até agora não houve aumento do risco para as crianças e adultos que frequentaram o Colégio durante a pandemia da COVID-19. “Planejamos e colocamos em prática o funcionamento de um ambiente seguro para que nossos colaboradores ficassem tranquilos e seus filhos felizes por estarem socializando de forma confiável”.

Ao todo 313 crianças e adolescentes de três a 14 anos já passaram pelo Projeto, sendo hoje 115 a média diária, atendida por cerca de 30 colaboradores – número que chegou a 60 no seu início. São filhos de Médicos, Enfermeiros, Auxiliares de Enfermagem, Copeiros, Profissionais do setor de Limpeza e todos os cargos que não podem desempenhar suas atribuições no formato remoto.

Testes sorológicos

Para compreender se a ida à escola representa para os estudantes um risco incremental de contágio pelo novo coronavírus em comparação à chance de contaminação na comunidade, entre 21 e 25 de agosto foram realizados testes sorológicos em 153 crianças (78% delas com menos de 10 anos) e adolescentes acolhidos pelo “Projeto de Acolhimento ao Filho do Colaborador”. A prevalência de exames positivos foi de 17,6%.

Também participaram dessa testagem 54 adultos com idade média de 35 anos, tendo resultado positivo em 13% deles. Em uma pesquisa realizada pela Prefeitura de São Paulo, em período semelhante, as soroprevalências de COVID-19 foram de 18,3% em crianças e adolescentes e 11% em adultos.

Ainda por meio de um questionário retrospectivo, foram observadas taxas de casos assintomáticos de 59% em crianças e adolescentes e 29% em adultos, enquanto os índices na capital paulista foram de 70% e 41%, respectivamente.

Com isso, os resultados apontam que a implementação de medidas para mitigar a transmissão do novo coronavírus é uma estratégia segura e que, com elas, a ida ao ambiente escolar não parece elevar o risco de contágio, em comparação àquele encontrado na comunidade

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Além dos filhos de colaboradores que frequentam o Colégio Miguel de Cervantes, outros grupos de alunos de diferentes idades também foram avaliados. Testes feitos em cerca de 300 estudantes e especializandos, que realizam o estágio obrigatório de Enfermagem, internato de Medicina ou residência médica/multiprofissional, comprovaram que a adoção das medidas de proteção evitou que o índice de contaminação entre os estudantes fosse maior do que o registrado na comunidade, atingindo a mesma média de de 11%.

Além de indicar que o retorno das atividades escolares não apresenta risco incremental de contágio ou morbidade à comunidade, essa experiência do Einstein com o Colégio Miguel de Cervantes mostra que mensurar resultados é tão fundamental quanto a implementação e controle de segurança nas instituições de ensino para garantir a retomada segura.

Mais sobre o Projeto de Acolhimento ao Filho do Colaborador

Para garantir esse êxito na gestão de risco, foram enviados ao Colégio profissionais das áreas do Ensino Einstein, do Centro Einstein de Esportes e Bem-Estar (CEE​BE), educadores das três creches mantidas pela Instituição, profissionais e voluntários do Programa Einstein na Comunidade de Paraisópolis (PECP) e equipes de jovens voluntários ligados a comunidades judaicas.

Dessa forma, a convivência obedece a formação de pequenos grupos de oito a dez crianças de faixas etárias aproximadas, distribuídos tanto em espaços comuns quanto em salas de aula, de forma a evitar aglomeração. “Nesse sentido, criamos em tempo recorde um protocolo COVID-19 e o Cervantes foi a primeira escola no Brasil a operar nele”. De acordo com Felipe Spinelli, trata-se de um caso real em que as crianças provaram ser possível a adaptação em um clima de pandemia. “Elas até cobram dos adultos a adesão aos procedimentos, tornando-se defensoras das restrições dentro e fora de casa”.

Uma das atividades de mais sucesso é o rap criado pelas crianças e adolescentes com o auxílio das educadoras para lembrá-las de lavarem suas mãos, conforme conta Felipe Spinelli. A música toca a cada hora e juntas cantam, reproduzindo a letra na forma de comportamento, assimilando esse importante hábito.

Outra ação que trouxe brilho para os olhos dos participantes foi a sala preparada para o Ensino a Distância. “Quem possui notebook traz o seu de casa e para quem não têm nós disponibilizamos a máquina, de forma que eles possam fazer suas tarefas da escola convencional, acompanhadas de nossas educadoras, que por sinal são o grande alicerce dessa iniciativa”, explica o líder do Projeto Marcio Marega.

>Além disso, tanto a céu aberto quanto em áreas cobertas com as devidas precauções, crianças e adolescentes praticam esportes, participam de rodas de conversa, discussão sobre saúde, recitam poesias, brincam, fazem festas comemorativas, assistem a filmes e aprofundam seus conhecimentos sobre a cultura espanhola associada ao romancista, dramaturgo e poeta castelhano Miguel de Cervantes (1547-1616), que batiza a escola.

Também é disponibilizado transporte gratuito do Hospital para o Colégio, somado a cinco refeições por dia, sendo café da manhã, almoço, jantar e lanches intermediários, durante o seu funcionamento, das 7 às 19 horas – período adaptado ao turno de trabalho de seus pais e à necessidade de cada família.

Conforme o Diretor-Superintendente, o Cervantes desempenha um papel muito importante ao abrir as suas portas para esse Projeto e oferecer profissionais para participarem tanto de sua implantação quanto do seu dia a dia.

Como forma de agradecimento aos alunos e à direção do Miguel de Cervantes, os filhos de colaboradores produziram uma exposição permanente baseada na cultura espanhola. “Estamos muito felizes com o sucesso dessa iniciativa e principalmente com a satisfação e bem-estar emocional e psicológico das crianças e de seus pais”, diz Felipe Spinelli.

Todos os protocolos foram implantados simultaneamente tanto no Cervantes quanto na creche do Einstein, em funcionamento, que atende crianças de zero a dois anos e 11 meses, recebendo hoje cerca de 50 crianças. “É muito importante garantir essa tranquilidade para essas mães, colaboradoras que hoje estão enfrentando pressão decorrente da pandemia somada a um marco histórico em suas carreiras”, acrescenta o Diretor-Superintendente.

Portanto, todas essas medidas colaboram para justificar os resultados do levantamento, que sugere que frequentar as classes seguindo os protocolos não aumenta a chance de contaminação pelo novo coronavírus. “A experiência do Einstein traz aprendizados interessantes a serem considerados diante do cenário de dúvidas sobre a retomada das aulas presenciais”, afirma o Diretor-Superintendente.

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