Ciência e Vida

Evento de neurociência no Einstein celebra cooperação científica entre Brasil e Alemanha

​Encontro reuniu pesquisadores do Brasil e da Alemanha para discutir o funcionamento do cérebro e suas implicações na saúde mental.

Durante os dias 16 e 21 de outubro, pesquisadores do Brasil e da Alemanha se reuniram para discutir as recentes descobertas nas áreas de neurociência clínica e cognitiva. O simpósio The Brain in Action [O Cérebro em Ação] foi realizado em São Paulo, no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP) e é parte de um amplo projeto bilateral de cooperação.

O evento foi financiado pelas agências de apoio à pesquisa dos dois países (do Brasil, a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo [Fapesp]; e da Alemanha, a Fundação Alemã de Pesquisa (DFG, sigla em inglês para Deutsche Forschungsgemeinschaft), após um edital competitivo em que a proposta de pesquisadores do Instituto do Cérebro (IIEP) — que reuniu pesquisadores da Universidade Federal do ABC (UFABC), da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e da Universidade de Marburgo, na Alemanha — foi selecionada. O objetivo dessa linha de financiamento é fomentar a colaboração entre pesquisadores do estado de São Paulo e da Alemanha, levando ao desenvolvimento de novos projetos bilaterais de pesquisa.

Além da etapa no Brasil, que teve atividades em São Paulo, os pesquisadores participaram de um simpósio na Universidade de Marburgo, em maio deste ano, no qual estiveram presentes oito representantes brasileiros.

“A ideia era criarmos um workshop e começarmos a desenvolver projetos de pesquisa em conjunto com os pesquisadores alemães”, explica Elisa Kozasa, pesquisadora e docente do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein e uma das organizadoras do evento. O pesquisador responsável pelo simpósio em São Paulo foi Dr. Edson Amaro Júnior, médico que faz parte do Instituto do Cérebro e neurorradiologista do Departamento de Imagem do Hospital Israelita Albert Einstein.

“Essas interações internacionais trazem benefícios bilaterais. Muitas vezes, as pessoas pensam que no Brasil não fazemos pesquisas de qualidade. E este projeto deixou claro para as equipes dos dois países que a vantagem da interação existe porque há possibilidade legítima de contribuição mútua, com pesquisadores brasileiros que complementam as pesquisas alemãs e vice-versa”, comenta Elisa. “As pessoas que estiveram no evento puderam perceber que no Brasil também se faz pesquisa de qualidade e que temos ótimos cientistas em nosso país, apesar de todas as dificuldades.”

Programação diversificada

O evento foi marcado por várias atividades. Entre os dias 16 e 18 de outubro, em São Paulo, os pesquisadores visitaram os laboratórios do Einstein e da UFABC e participaram de simpósios sobre diversos temas. Por exemplo, foi apresentado um estudo que envolve o Laboratório do Estudo do Movimento, realizado junto a pacientes de esclerose múltipla. Uma das linhas de pesquisa desenvolvidas ali monitora o fluxo sanguíneo cerebral enquanto o paciente caminha. Isso abre novas perspectivas para entender a doença e, assim, em um futuro próximo, aprimorar o processo terapêutico.

Já a programação do simpósio que aconteceu nos dias 17 e 18 de outubro, em um evento aberto ao público geral, contou com apresentações que abordaram temas como psicopatologias e o cérebro, desenvolvimento do cérebro na criança, sono, controle motor, desenvolvimento saudável e performance, e os impactos das práticas contemplativas, como meditação e ioga, no cérebro. Além disso, os pesquisadores também puderam debater sobre dislexia e conhecer estudos que envolvem avaliações, como a ressonância magnética funcional ou estrutural, e o eye-tracker, tecnologia que permite a realização do mapeamento do movimento dos olhos para saber em que o indivíduo está prestando atenção em um dado momento.

Por fim, foi organizada uma atividade na qual os pesquisadores discutiram de forma estruturada oito propostas concretas para atuar em futuros projetos de pesquisa, o Science and Fun. “Os pesquisadores alemães, inclusive, participaram à tarde de uma aula de surfe, pois um dos projetos que temos em mente desenvolver é sobre os benefícios do surfe na saúde mental”, comenta Elisa.

Desafios para a pesquisa no Brasil

Segundo Elisa, atualmente é muito difícil conseguir financiamento para realizar pesquisas no Brasil. O fato de a equipe ter sido selecionada em um edital competitivo reforça a qualidade do trabalho que tem sido feito nessas instituições. “A internacionalização também é um fator importante em termos de programas de mestrado e doutorado como os que oferecemos no Einstein, pois ela permite esse intercâmbio entre os países que tanto enriquece a todos, além de abrir portas para os próximos projetos, para os quais pretendemos contar com a participação dos alunos.”

E essa interação já começou a render frutos. Recentemente, em setembro, os pesquisadores do Einstein e da Faculdade de Medicina do ABC, ao lado dos pesquisadores alemães Jens Sommer e Inessa Kraft, publicaram um artigo sobre os impactos da qualidade de vida na saúde mental na revista científica Brain Imaging and Behavior. Esse material foi fruto da tese de mestrado de Inessa, que realizou estágio de pesquisa no Instituto do Cérebro e contou com o apoio do Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa Albert Einstein.

A importância de estudar o cérebro

Hoje em dia existe um grande interesse na área de neurociência. Cada vez mais as pessoas desejam entender o funcionamento do cérebro humano e suas complexas conexões. A compreensão desses mecanismos permite entender, por exemplo, a fisiopatologia de vários transtornos mentais, o que contribui com a forma como eles podem ser tratados.

Mas o estudo do cérebro vai além disso. “Podemos entender como funciona um cérebro em alta performance ou um cérebro em estado de atenção. Entender o pensar relacionado ao cérebro é muito importante porque estamos vivendo mais e queremos viver melhor. Compreender o funcionamento de um cérebro saudável e como ele pode funcionar melhor no estado de pensar e em menor estresse também é algo muito importante para nós, pesquisadores”, pondera Elisa.

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