Ciência e Vida

Médicas recém-formadas atuam na região amazônica como voluntárias

No final da Graduação em Medicina é possível se alistar nas Forças Armadas Brasileiras. Para o segmento masculino é obrigatório, já para o feminino é voluntário

Com o objetivo de contribuir com organizações, instituições, missões humanitárias e de ajuda internacional, as Forças Armadas de muitos países recrutam Médicos, os quais desempenham o papel fundamental de fornecer cuidados de saúde em uma variedade de contextos e regiões.

No Brasil, o alistamento militar é obrigatório às pessoas do sexo masculino ao completarem a maioridade e aos homens recém-formados em Medicina, Farmácia, Odontologia e Veterinária que não serviram às Forças Armadas anteriormente. Já mulheres que concluem as Graduações nessas áreas podem atuar como voluntárias.

As Dras. Andrea Nazareth Sevegnani, 34 anos, e Julia Souza Bittar, 26, terminaram a Graduação em Medicina da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) na metade de 2022, quando decidiram participar do processo de seleção para servirem no Exército como voluntárias, exercendo as funções de Médicas generalistas. Aprovadas, foram direcionadas no começo deste ano para a 12ª Região Militar que compreende a região da Amazônia.

Antes disso, Andrea e Julia trancaram a residência em Cirurgia Geral e Pediatria, respectivamente, em que foram selecionadas pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) com atuação no Hospital das Clínicas, em São Paulo.

“Ficamos bastante animadas em conhecer uma realidade totalmente diferente da nossa. É uma oportunidade que vale para a vida toda”, ressaltam.

Experiência rica em diversidade populacional

Segundo elas, essa experiência tem proporcionado muita aprendizagem. “É um crescimento muito relevante tanto profissional quanto pessoal. Para nós, é um privilégio viver na Amazônia e conhecer sua rica diversidade, além das dinâmicas da floresta, dos rios e a interação das pessoas com esses ambientes e seus recursos naturais”.

As Médicas estão há oito meses alocadas na cidade de São Gabriel da Cachoeira, localizada a 900 quilômetros de Manaus, capital do estado do Amazonas. Nessa região vivem 45 mil habitantes – dos quais cerca de 99% são compostos pela população de povos indígenas, possuindo 27 etnias. Isso determina que o lugar tenha o mais alto número de idiomas oficiais: português, nheengatu, tukano e baniwa.

“Estar aqui no interior da Amazônia nos tem feito vivenciar um pouco da selva em cada um dos seus aspectos: diversidade e barreiras culturais, dinâmica populacional, peculiaridades logísticas da região e muito mais. Temos conseguido entender a dimensão da Amazônia”.

Os casos que elas atendem são bem diferentes daqueles recorrentes na capital paulista, onde moravam. “Há acidentes causados por animais peçonhentos como cobra, aranha e escorpião, além de doenças como leishmaniose, hanseníase, malária e dengue”, conta a Dra. Julia.

Muitas das pessoas que procuram o serviço médico são enquadradas nos estados grave e moderado. Com isso, as Médicas perceberam que poderiam colaborar com melhorias no sistema de saúde do Hospital de Guarnição de São Gabriel da Cachoeira, único da região.

“O fluxo é bem grande tanto da cidade como de locais mais afastados e gostaríamos de proporcionar qualidade e segurança ao paciente, um dos importantes preceitos que aprendemos no Einstein”.

Projeto para melhorar o atendimento em saúde

Assim, entre outros pequenos projetos focados em melhorias, as profissionais – com base no Protocolo de Seleção Manchester e outros similares – criaram uma proposta de um Plano de Triagem em julho deste ano.

“Isso garante que pacientes em estados grave e moderado tenham prioridade, sendo atendidos no tempo apropriado”, diz Andrea.

Outro objetivo é contribuir com a compreensão sobre o tempo necessário de espera no atendimento, conforme a patologia e emergência, garantindo o princípio da equidade.

Trata-se de uma grande adaptação de vários modelos de triagem utilizados em hospitais de dentro e fora do Brasil, adaptados à realidade de São Gabriel da Cachoeira. “Por meio de pesquisas, conseguimos chegar a um sistema simplificado, mantendo a estratificação de gravidade dos sintomas de forma a preparar a fila da maneira mais adequada, substituindo o sistema de ordem de chegada”, explicam.

No momento a proposta está nas mãos da diretoria do hospital, que deverá analisar sua possível implementação, conforme a mão de obra a ser disponibilizada, população atendida e recursos existentes. “Gostaríamos de sair daqui com essa realização”, relatam.

Depois de voltarem para São Paulo, as Médicas assumirão suas respectivas residências. A partir de 2024, as profissionais que desejarem uma experiência como essa deverão passar pelo processo seletivo para a especialidade escolhida após a vivência no Exército.

Notícias relacionadas