Multidisciplinaridade em cursos de pós-graduação enriquece aprendizado
De bailarina a engenheira elétrica: público-alvo diversificado proporciona grande troca de experiências.
Quem observa apenas a informação de graduação nos currículos da Ana Paula Port (Bacharelado e Licenciatura Plena em Dança), Maria Adelia Albano de Aratanha (Engenharia Elétrica) e Anna Ringheim Cadete (Engenharia de Biotecnologia Molecular) dificilmente imaginaria que elas atuam na mesma área. As três trabalham no setor da saúde e se encontraram no Programa Acadêmico em Ciências da Saúde da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Hospital Albert Einstein. Saiba como isso ocorreu.
Escolha dos cursos
O interesse de Ana Paula pela área da saúde é antigo. Ela conta que desde a adolescência, quando descobriu que tinha diabetes tipo 1, pensou em entender como a psicodinâmica corporal (a relação dos aspectos emocionais, mentais e de movimento) poderia lhe ajudar a enfrentar essa doença, mas na época não havia um curso específico para isso. “Como eu já dançava, fui fazer faculdade de Psicologia, mas desisti depois de dois anos e meio. Não era muito bem o que eu queria”, lembra. “E acabei mudando justamente para o curso de Graduação em Dança, onde consegui ampliar meu conhecimento sobre temas como psicodiagnóstico através da análise do movimento, psicologia aplicada à dança e técnicas de educação somática”, acrescenta.
Para Maria Adelia, a definição sobre o que cursar na graduação foi mais fácil. “Já sabia que queria estudar Engenharia Médica”, diz. O problema, no entanto, foi que não existia esse curso na cidade do Rio de Janeiro, onde morava, e ela acabou optando por fazer Engenharia Elétrica. “Era o que mais tinha a ver com o que eu gostaria de aprender, que era o uso e a construção de tecnologias na área da saúde”, explica.
Ao terminar Engenharia Elétrica, Maria Adelia trabalhou por três anos na área de pesquisa e desenvolvimento em uma empresa multinacional e, depois dessa experiência, decidiu fazer mestrado em Neuroengenharia, na área de interface cérebro-máquina.
A sueca Anna Cadete, por sua vez, embora também possa ser chamada de “engenheira”, teve bastante contato com a área da saúde desde a graduação. No curso de Engenharia de Biotecnologia Molecular, feito na Universidade de Uppsala, na Suécia, ela se especializou na área de biologia de sistemas, ou seja, descrever sistemas biológicos via a construção de modelos matemáticos. Tais conhecimentos lhe deram a possibilidade de atuar na área da saúde assim que se formou. “Saí da faculdade e já comecei a trabalhar em um centro de tomografia por emissão de pósitrons (PET) em 2003, e em 2008 me mudei para o Brasil, onde passei a trabalhar com gestão de projetos de pesquisas em saúde”, conta.
Local de encontro
A decisão de Ana Paula, Maria Adelia e Anna Cadete em seguir na área da saúde contribuiu para que elas se encontrassem na mesma pós-graduação, apesar de terem formações tão diferentes.
Ana Paula já terminou seu Mestrado na área de neurociência, pesquisando a relação mente e corpo. “Um método multidimensional para avaliar as práticas contemplativas que envolvem movimento em idosos: um estudo de neuropsicologia, cinemática e ressonância magnética funcional.” Já Maria Adelia e Anna Cadete estão com o Doutorado em andamento e estão pesquisando, respectivamente, “Os efeitos da yoga na análise combinada de marcha e fluxo sanguíneo cortical em pacientes com esclerose múltipla” e a “Quantificação da farmacocinética do PSMA-11-Ga68 em pacientes com neoplasia de próstata em equipamento híbrido de tomografia por emissão de pósitrons/ressonância magnética”.
Troca de experiências
Segundo a docente e pesquisadora do Einstein Elisa Harumi Kozasa, a diversidade de conhecimento é muito enriquecedora para o desenvolvimento científico dos alunos. “Fazer ciência implica ter curiosidade e estar aberto a novos conhecimentos. Sem essa característica fica difícil fazer ciência. Mas quando há essa característica e uma grande interação de pessoas de áreas diferentes, como é na nossa Pós-graduação em Ciências da Saúde, os resultados são bastantes positivos”, avalia.
Segundo pesquisa divulgada em 2014 pelas universidades norte-americanas Massachusetts Institute of Technology, Columbia University e Northwestern University, aprender a lidar com a diversidade pode ser bastante benéfico para o desenvolvimento educacional e profissional.
Intitulada “Rethinking the Baseline in Diversity Research: Should We Be Explaning the Effects of Homogeneity“, esta pesquisa mostra que, quando se pede para um grupo heterogêneo realizar uma tarefa em conjunto, seus integrantes tendem a confiar mais no desempenho da equipe do que aqueles de grupos homogêneos. Em relação a atingir objetivos, por exemplo, os grupos mais diversos se mostram mais eficientes. A pesquisa sugere ainda que a diversidade pode ajudar as pessoas a refletirem mais e saírem da zona de conforto, buscando enxergar novas perspectivas que antes sequer imaginavam.
Além de uma bailarina, uma engenheira elétrica e uma engenheira de biotecnologia molecular, o Programa de Mestrado e Doutorado do Einstein reúne médicos, psicólogos, neurocientistas, engenheiros ambientais, educadores físicos, entre outros de áreas distintas. “Para a neurociência, em especial, isso é fundamental, pois além de profissionais que prestam assistência à saúde, precisamos muito de pessoas que atuam com computação, coleta de dados e estatísticas”, exemplifica Elisa.
A bailarina Ana Paula conta que durante o Mestrado passou por vários momentos de troca de ideias e de experiências. “Escutar alguém da engenharia explicando como estava usando sua formação na área da saúde me trazia muitos insights“, recorda.
Para a engenheira elétrica Maria Adelia, a interação com vários profissionais da saúde tem lhe ajudado “no conhecimento de termos técnicos e específicos relacionados à prática médica”. Já para a engenheira biomolecular Anna Cadete, o principal diferencial em estudar com pessoas de diferentes áreas de graduação é poder “entender mais sobre um mesmo assunto a partir de pontos de vista bem distintos”.
O Programa Acadêmico em Ciências da Saúde do Einstein também contempla diversidade social, étnica, de gênero e idade, lembra Elisa. “Sabemos que quanto mais variada for a troca de conhecimentos entre nossos alunos, mais amplas serão as oportunidades de aprendizado”, diz.