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Enfermeiros são os grandes protagonistas da Campanha Nursing Now

​Campanha foi criada com vistas a impulsionar a criação de políticas que valorizem a área da Enfermagem, na qual estima-se que, em 2030, o déficit de profissionais em todo o mundo chegue a um 9 milhões.

Com o intuito de valorizar o profissional da área de Enfermagem e proporcionar a ele oportunidades de desenvolvimento em todo o mundo, o Conselho Internacional de Enfermeiros (ICN) e a Organização Mundial da Saúde (OMS), com o apoio do Parlamento Inglês, lançaram, em fevereiro de 2018, a Campanha Nursing Now Global, no Reino Unido e em mais de 30 países. Hoje são mais 110 países envolvidos.

Essa ação também conta com o suporte da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e do Burdett Trust for Nursing, um fundo independente de incentivo à educação, pesquisa e treinamento voltado à Enfermagem, de modo a promover a conscientização pública e governamental sobre a importância dessa profissão.

No Brasil, a campanha foi implementada, em abril de 2019, pelo Conselho Federal de Enfermagem (COFEN) e pelo Centro Colaborador da OPAS/OMS para o Desenvolvimento da Pesquisa em Enfermagem, vinculado à Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (USP).

Desde então, as diretrizes e metas da Nursing Now Brasil continuam sendo seguidas e aplicadas, com vistas a alcançar todos os objetivos desenhados por um grupo de trabalho, criado pelo COFEN, para implementar programas da Campanha no país.

Entre as principais metas definidas para o Programa no Brasil estão: o investimento no fortalecimento da educação e no desenvolvimento dos profissionais de enfermagem com foco na liderança, a busca pela melhoria das condições de trabalho dos profissionais de enfermagem e a disseminação de práticas de enfermagem efetivas e inovadoras com base em evidências científicas, em âmbitos nacional e regional.

São projetos bem amplos que envolvem muito trabalho também dentro de instituições privadas. A Diretora de Operações da Unidade Hospitalar Morumbi e de Enfermagem da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein, Claudia Regina Laselva, contribui como representante da Campanha na América Latina.

O evento mundial vai até o fim de 2020 e o Einstein desde o início vem participando de sua programação. “Recentemente, nós divulgamos em uma publicação da Nursing Now uma ação diferenciada, realizada pelo enfermeiro Francisco Paiva, em Paraisópolis”, conta a Diretora. Ele criou a “Conversa de Boteco”, uma iniciativa que tem levado parte considerável da população do sexo masculino a realizar consultas de rotina nos ambulatórios da comunidade. O profissional faz palestras envolvendo esse público em temas da saúde, em bares da região.

Nightingale Challenge

Segundo Claudia Laselva, outra realização diz respeito ao fato de o Hospital ser uma das seis primeiras instituições de saúde do mundo a adotar o Programa Nightingale Challenge. Trata-se de uma proposta da Nursing Now para que cada instituição parceira desenvolva programas específicos de qualificação de cerca de 20 enfermeiros de até 35 anos ao redor do planeta.  A intenção é capacitar esses profissionais para atuarem com mais poder de decisão, tanto nas esferas governamentais como em instituições de classe e de saúde.

Nightingale Challenge homenageia os 200 anos do nascimento de Florence Nightingale, que é a precursora da Enfermagem. Ela foi uma enfermeira, estatística, reformadora social e escritora britânica, famosa por ter sido pioneira no tratamento e diminuição de mortalidade de feridos durante a Guerra da Crimeia (1853-1856).

Com base nesse desafio, o Einstein selecionou os 20 enfermeiros solicitados, os quais já estão participando desse treinamento, duas vezes por mês. Tal programa conta com 160 horas distribuídas em três módulos. Eles contêm disciplinas norteadas em raciocínio sistêmico (conhecimento sobre o cenário e desafios da gestão da saúde), habilidades não técnicas (competências comportamentais ligadas à liderança de pessoas) e o cuidado dirigido à saúde e segurança do paciente.

Com isso, a Diretora explica que, ao final deste ano, os participantes estarão aptos a atuarem como líderes em instâncias decisórias, de maneira a assumirem cargos de mais responsabilidade.

Além disso, no que se refere diretamente ao cuidado, esses enfermeiros terão mais subsídios para atuarem com autonomia, tendo aperfeiçoado suas habilidades de negociação e empoderamento nas decisões e estímulos a equipes, para além das capacidades técnicas.

Manoel Vieira tem 32 anos e é um dos profissionais do Einstein selecionados para essa qualificação como produto do Nightingale Challenge. Para ele, essa experiência vem sendo muito agregadora de novos conhecimentos e aperfeiçoamento como líder. “É uma honra poder colaborar com um momento tão significativo em que o mundo convida a Enfermagem para atuar como protagonista em saúde”.

Em sua opinião, esse fato não pode “passar em branco”, uma vez que o espaço está sendo construído de uma maneira bem estruturada, reconhecendo que a área de Enfermagem reúne metade da força de trabalho em saúde. “Somos um exército de 2 milhões de trabalhadores, especialmente no sistema público. Então, é relevante pleitear e se especializar para fazer parte das decisões no campo das políticas de saúde economicamente sustentáveis”.

De acordo com ele, que é especialista em programas governamentais da área técnica de atenção primária e redes assistenciais do Einstein, esse treinamento é uma forma de aperfeiçoar habilidades dentro da assistência, além de ampliar o nível de entendimento sobre a relevância de uma gestão sem desperdício de recursos e com serviços eficientes.

Bruna Barbeiro é outra participante do desafio Nightingale. A enfermeira sênior, de 30 anos, enxerga a qualificação proposta pelo Einstein como um modo de aumentar o número de enfermeiros que atuam como líderes e disseminar práticas de enfermagem eficazes e inovadoras em todos os níveis de atenção à saúde. “Todos nós estamos com muita vontade de contribuir inclusive com o desenvolvimento da prática avançada de Enfermagem, o que faz parte também das finalidades da Campanha Nursing Now“.

Ela revela que, ao final do treinamento, o grupo de 20 enfermeiros do qual faz parte terá de entregar um projeto com melhorias significativas para a saúde. “Será desenhado um aplicativo a ser transformado em realidade até junho de 2021”.

De acordo com Bruna, as aulas sobre inovação têm sido marcantes. “São temas bem atuais que demonstram como novos equipamentos com base na Inteligência Artificial (IA) estão contribuindo com diagnósticos precoces, proporcionando mais chances de cura de doenças”.

Ações

Outra frente da Nursing Now, em que o Einstein está inserido como fomentador, refere-se a discussões interinstitucionais (grupo aberto integrando representantes de outros hospitais brasileiros). Esse time tem como mote inicial estruturar um projeto que visa o fortalecimento e a expansão da prática do enfermeiro na atenção primária à saúde. “Estamos empenhados em trabalhar para que ele tenha sua prática clínica ampliada, podendo oferecer mais respostas de saúde à população”, explica Manoel Vieira, uma das lideranças dessa tarefa.

Nessa mesma linha, porém no exterior, a Instituição conta com Claudia Laselva. A Diretora tem feito parte de reuniões com representantes de oito países da América Latina, discutindo e incentivando a implantação da Nursing Now nesses países, com o objetivo de levar soluções a entraves existentes.

No começo deste ano, ela viajou para a Costa Rica, a fim de participar do lançamento de grupos de discussões da Campanha. “A minha função principal é ajudar a identificar soluções, juntamente com enfermeiros desse país, para as questões centrais do setor de Enfermagem na região”.

Também esteve no Uruguai, que possui poucos profissionais graduados em nível superior, onde a empreitada tem sido aprimorar os serviços e desenvolver um programa de qualificação para técnicos de enfermagem, por meio de cursos complementares.

No Brasil, Laselva diz que a defasagem está na qualidade da formação de enfermeiros. Por conta desse fator, muitos profissionais apresentam dificuldades para entrar e permanecer no mercado de trabalho. Por uma outra perspectiva, enxerga-se a necessidade de investimento em capacitação continuada daqueles já absorvidos por instituições de saúde. “E o terceiro ponto está em expandir e delinear a atuação de enfermeiros bem capacitados (com práticas avançadas) para locais onde o acesso à saúde é mais precário”.

Nesse último aspecto, ela acredita que o enfermeiro possa inclusive colaborar com a educação da sociedade. “Por meio de protocolos pré-definidos, esse profissional adequadamente formado poderá oferecer uma melhor condição de saúde a seus assistidos”.

De forma geral, a Diretora acredita também que a Campanha possa fomentar cargos responsáveis por tomada de decisão para mais mulheres, além de incentivar que mais homens desejem atuar no setor de Enfermagem.

Para ela, a sociedade e as instituições privadas, públicas e de classe deveriam ser sensibilizadas sobre o quão fundamental é investir nessa área. “Ofertar o treinamento para esses 20 enfermeiros exige um investimento, que seguramente terá um retorno satisfatório”. Segundo a executiva, nos próximos anos pretende-se tanto dar continuidade ao desafio Nightingale quanto criar mais vagas para essa qualificação.

Outros aspectos importantes a serem trabalhados no Brasil incluem a melhoria das condições de trabalho desses profissionais, além de fomento à pesquisa e inovação na área de Enfermagem.

A Campanha Nursing Now também será abordada em dois eventos do Einstein neste ano. De 25 a 27 de março será realizado o “IV Simpósio Internacional de Atenção Primária à Saúde“. Um dos pré-simpósios, no primeiro dia, terá como tema “Nursing Now Brasil: onde há APS, há Enfermagem”. Já o segundo diz respeito ao “X Simpósio Internacional de Enfermagem – SIEN”, que acontecerá entre os dias 24 e 26 de agosto, o qual também trará o assunto à tona, com foco nos 200 anos da Enfermagem.

Graduação em Enfermagem comemora 30 anos

Graduação em Enfermagem da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) comemorou 30 anos em 2019. Tendo formado mais de 1.300 enfermeiros, ela apresenta índices de empregabilidade entre os mais altos do país. Nos últimos dez anos, mais de 75% dos recém-formados foram contratados pelo Einstein.

Uma recente pesquisa, realizada com enfermeiros que ocupam cargos de liderança dentro da Instituição, aponta que mais de 50% desse grupo formou-se pela FICSAE. Esse dado confirma que o eixo de gestão e liderança como parte dessa graduação tem um lugar importante e precisa continuar sendo desenvolvido, filosofia que vai ao encontro das preocupações da Nursing Now.

Na área de pós-graduação, são 12 cursos do Ensino Einstein destinados exclusivamente a enfermeiros. Entre eles, os presenciais: “Enfermagem Obstétrica e Ginecológica” e “Enfermagem em Atenção Primária à Saúde com ênfase na Prática Clínica” e o de Ensino a Distância, intitulado “Enfermagem Terapia Intensiva Pediátrica e Neonatal“.

Ano Internacional dos Profissionais de Enfermagem e Obstetrícia

A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu 2020 como o Ano Internacional dos Profissionais de Enfermagem e Obstetrícia. Essa decisão da Assembleia Mundial da Saúde de 2019 tem o objetivo de fomentar o reconhecimento do trabalho de enfermeiras, enfermeiros e parteiras em todo o mundo.

A outra finalidade é chamar a atenção para mais investimentos nas áreas desses profissionais, melhorando suas condições de trabalho, educação e desenvolvimento profissional. Segundo a OMS, o mundo precisa de mais 9 milhões de enfermeiras (os) e parteiras para atingir a meta de cobertura universal de saúde até 2030.

Para as Américas, a OPAS aponta para a necessidade de mais 800 mil profissionais da saúde, incluindo os setores de Enfermagem e Obstetrícia.

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