Ginecologia especializada pode contribuir com a redução de casos de câncer de colo do útero
Compreender profundamente as formas de prevenção contra o câncer do colo do útero e cuidar do rastreamento do HPV são habilidades valiosas para o Ginecologista especializado em Oncologia
O câncer do colo do útero é o terceiro tipo de câncer que mais acomete mulheres, no Brasil. Segundo previsões do Instituto Nacional de Câncer (INCA), serão 17.010 novos casos somente em 2023. Numa análise regional, Norte (20.48/100 mil) e Nordeste (17.59/100 mil) foram as que mais acumularam casos em 2022.
Exercendo um papel fundamental para a redução desses números, o Médico Ginecologista Geral aplica seus conhecimentos sobre todos os aspectos da doença e suas variáveis nas melhores condutas para a prevenção, além do rastreamento. Já o Ginecologista especializado em Oncologia dedica-se também a todas as bases do tratamento desde o estágio inicial até os casos avançados nos âmbitos cirúrgicos e clínicos.
Segundo a Médica Ginecologista, especialista em Oncologia e integrante do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, Dra. Vanessa Alvarenga Bezerra, todos os profissionais da saúde devem entender essas duas distinções para melhor atender a paciente em relação à prevenção, rastreamento e tratamento de doenças como o câncer do colo do útero.
É importante saber que o seu desenvolvimento se dá a partir da infecção persistente do papilomavírus humano (HPV), que apresenta mais de 200 variações. “As mais comuns causadoras desse tipo de câncer são as 16 e 18”, explica a Médica, que também é Coordenadora da Pós-graduação em Cirurgia Robótica em Ginecologia do Ensino Einstein e preceptora da especialização em Ginecologia Oncológica do Hospital Municipal Gilson de Cássia Marques de Carvalho – Vila Santa Catarina.
Os especialistas na área podem contribuir também disseminando informações e orientações sobre a vacina, que ajuda na proteção contra a infecção pelas cepas de HPV que têm mais probabilidade de causar:
- Câncer do colo do útero (cervical), câncer vaginal e câncer vulvar em mulheres;
- Câncer do pênis nos homens;
- Câncer anal, câncer de garganta e verrugas genitais em ambos os sexos.
Esses distúrbios são causados pelo papilomavírus humano, que também causa verrugas genitais. A vacina não contém nenhum vírus vivo, portanto não causa infecção por HPV. Ela é recombinante e inativada, constituída pela proteína do capsídeo viral. Há três tipos desse imunizante:
- Nove-valente: previne contra nove tipos de HPV (também recomendada para meninos e homens);
- Quadrivalente: protege contra quatro tipos de HPV (também dirigida a garotos e adultos do sexo masculino);
- Bivalente: pode evitar dois tipos de HPV.
Todas elas defendem o organismo contra os tipos 16 e 18 de HPV, causadores de 70% dos cânceres de colo de útero e 90% dos cânceres anais. A vacinas nove-valente e quadrivalente dão proteção contra as variantes 6 e 11, responsáveis por mais de 90% das verrugas genitais, além de agir combatendo as 16 e 18.
A vacina é recomendada para:
- Todos os meninos (de 9 a 14 anos) e meninas e mulheres (de 9 a 26 anos);
- Adultos de qualquer idade.
“Indicamos preferencialmente entre os 9 e 14 anos tanto para meninas quanto meninos antes da primeira relação sexual, porque o ideal é o de que seja antes do contato com o vírus”, esclarece a Dra. Vanessa. Nessas idades, o Sistema Único de Saúde (SUS) oferece o imunizante gratuitamente. Após essa fase, os pacientes devem ser orientados a procurar o sistema privado.
Outra forma de cuidado à paciente diz respeito ao rastreamento realizado por meio do exame Papanicolau. “O ideal é realizá-lo junto com o teste de HPV. Caso o segundo seja positivo e ou com alteração no primeiro, solicitamos a colposcopia. Se os resultados dos dois forem negativos, recomendamos fazer o Papanicolau a cada três anos”, explica a Dra. Vanessa.
A Médica enfatiza que todos os profissionais da saúde precisam conhecer essas especificidades. “O Técnico em Enfermagem pode realizar o Papanicolau e o HPV. Se o segundo apresentar resultado positivo, ele pode encaminhar ao especialista que solicitará a colposcopia. As neoplasias intraepiteliais no colo do útero são precursoras do câncer”, alerta.
O tratamento do câncer de colo do útero depende do estágio da doença. Na fase inicial (pequeno tumor), é possível preservar a fertilidade. Caso não seja um desejo da paciente, é recomendável a realização da cirurgia de histerectomia (retirada do útero e ou do colo do útero).
Conforme a Dra. Vanessa, a fase avançada normalmente é detectada quando a mulher não faz o rastreamento adequado. Nesse caso, a indicação é a radioterapia, com o Médico Radio-oncologista e quimioterapia, acompanhada pelo Médico Oncologista Clínico.
Esses especialistas, juntamente com o Ginecologista Oncológico, devem fazer parte da equipe multiprofissional. “Todos devem ser muito bem capacitados e treinados, além de estarem alinhados de modo a oferecer o melhor cuidado para a mulher”, diz a Dra. Vanessa.
Pesquisa de comportamento
A Dra. Vanessa é uma das pesquisadoras do trabalho intitulado originalmente como Cervical Cancer-Related Knowledge, Attitudes, Practices and Self-Screening Acceptance Among Patients, Employees, and Social Media Followers of Major Brazilian Hospital (tradução livre para Conhecimento, atitudes, práticas e autoavaliação relacionados ao câncer cervical entre pacientes, funcionárias e seguidoras de mídias sociais de um grande hospital brasileiro), publicado em 2022, na SAGE Publishing Resource.
Além do Einstein, o estudo (que também envolveu hospitais e universidades norte-americanas) avaliou os níveis de conhecimento, atitudes e práticas relacionados ao rastreamento e diagnóstico do câncer do colo do útero e aceitação de técnicas de autoexame entre 4.206 mulheres a partir dos 24 anos.
O estudo tratou de questões relacionadas ao câncer do colo do útero, HPV, espéculo, teste de Papanicolau e colposcopia. Entre os resultados, foi possível aferir que as participantes se interessaram por métodos que proporcionassem autonomia, controle e praticidade. Outra parte demonstrou vergonha e desconforto para a realização do autorrastreamento.
A pesquisa também apontou que o Brasil teria condições de diminuir o excesso de intervenção médica em populações com grande número de triagem, promovendo a tomada de decisão compartilhada entre diversos hospitais e clínicas simultaneamente. “Com seriedade e Médicos especializados, é possível que o país alcance as metas de eliminação do câncer cervical propostas pela Organização Mundial da Saúde (OMS)”, finaliza a Dra. Vanessa.
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