Ciência e Vida

Medicina do Sono: implante é novo avanço no tratamento da Apneia

Dr. Denilson Fomin e Dr. José Antônio Pinto, ambos do Einstein, discutem a Neuroestimulação do Nervo Hipoglosso como tecnologia avançada no tratamento da doença

A Medicina do Sono dentro da Otorrinolaringologia tem evoluído de forma exponencial em busca dos melhores tratamentos para o ronco (primário) – descrito como obstrução parcial da via aérea superior – e para a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS), um distúrbio respiratório do sono que intriga especialistas da área de todo o planeta.

Considerada uma condição médica grave, associada ao alto risco de eventos cardiovasculares, diabetes e alterações metabólicas, entre outras complicações, a Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono é caracterizada pela apneia e pela hipopneia, que se diferenciam pela quantidade de fluxo de ar que é bloqueado. A apneia é considerada o subgrupo mais comum de distúrbios respiratórios e causa obstrução total da respiração do paciente durante o sono. Enquanto na hipopneia a obstrução é parcial.

Conforme o Médico Otorrinolaringologista do Hospital Israelita Albert Einstein, Dr. Denilson Storck Fomin, a incidência precisa da Apneia Obstrutiva do Sono em adultos ainda é desconhecida. Mas estima-se que 24 % dos homens, 9 % das mulheres e 2% da população pediátrica tenham sintomas da Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono (SAOS). Por isso, é fundamental haver a avaliação, o diagnóstico e o tratamento corretos.

Avanço no tratamento

O implante bilateral do nervo hipoglosso é o mais novo avanço para tratamento da SAOS já em uso em vários países da Europa e Austrália para o tratamento da apneia, compreendendo desde o colapso da orofaringe até o da hipofaringe.

Essa técnica é chamada Neuroestimulação do Nervo Hipoglosso, o 12º par craniano responsável pelo controle dos movimentos da língua. Ela promove mais tensão das estruturas e músculos da via aérea, evitando o colapso durante o sono, o que consequentemente inibe a apneia.

De acordo com o Dr. Denilson, para beneficiar-se dessa técnica, o paciente com critérios elegíveis deve ser submetido a uma sonoendoscopia. “É um procedimento cirúrgico logo abaixo do mento (parte inferior e média da face, abaixo do lábio inferior), para implantar um dispositivo que ficará sobre músculo genioglosso (localizado na língua), a fim de estimular o nervo hipoglosso bilateralmente”.

Após a cicatrização, é realizada a titulação do implante por polissonografia (exame de alto padrão para o diagnóstico da SAOS e demais distúrbios do sono). Para ativar o dispositivo, o paciente irá usar um adesivo que contém uma bateria externa recarregável, logo abaixo do mento, o qual vai estimular o nervo hipoglosso e evitar o colapso da via aérea durante o sono.

A origem

Essa técnica originou-se com pesquisas iniciadas em 1994, conforme explica o Médico-Cirurgião do Corpo Clínico do Einstein, especializado em Cabeça e Pescoço, Dr. José Antônio Pinto. Depois evoluiu a partir do estudo chamado BLAST OSA (Bilateral Hypoglossal Nerve Stimulation for Treatment of Obstructive Sleep Apnoea), em 2019, publicado no European Respiratory Journal. Acesse aqui.

Desse período em diante, o tratamento tem encantado os especialistas da área por se tratar do primeiro dispositivo de alta tecnologia sem a utilização de chumbo, implantando mediante uma cirurgia minimamente invasiva. “Excelente opção para pacientes portadores de SAOS moderada a grave, que não se adaptaram ou não podem utilizar o BiPAP (pressão positiva nas vias aéreas a dois níveis) e nem o CPAP (pressão positiva contínua nas vias aéreas)”, justifica o Dr. José Antônio.

Com isso, o tratamento de uma doença de grande impacto como essa ganha mais uma possibilidade. “O dispositivo já é uma realidade de sucesso e não podemos ficar de fora da alta tecnologia alinhada à saúde de nossos pacientes”, ressalta o Dr. José Antônio.

Segundo ele, em um futuro próximo, essa tecnologia deverá fazer parte da prática e da carreira de profissionais especializados em Otorrinolaringologia e Cirurgia de Cabeça e Pescoço. “A Medicina do Sono deve estar presente na formação deles, que têm nas mãos a possibilidade de tratar cirurgicamente uma doença extremamente grave e altamente prevalente na população”.

Para o futuro já existem estudos em andamento sobre a combinação do estímulo da alça cervical e o nervo hipoglosso, a fim de potencializar o efeito da tensão da via aérea. Uma recente pesquisa realizada neste ano pelo estudioso no assunto, o professor, Dr. Stuart MacKay, investigou o implante em ramos nervosos do plexo do músculo constritor médio da faringe, para aumentar a tensão na parede lateral da faringe. Essa será mais uma inovação.

Essas e outras tendências do setor serão amplamente abordados no XIII Simpósio Internacional sobre Ronco e Apneia do Sono, promovido pelo Einstein, nos próximos dias 25 e 26 de março. “Durante o evento veremos que a Medicina do Sono é talvez a área da Otorrinolaringologia que mais traz novas possibilidades tecnológicas no tratamento da Apneia Obstrutiva do Sono”, finaliza o Dr. Denilson.

Agenda 2022

Para este ano, o Ensino Einstein prevê mais de 30 Eventos Científicos, passando por temas como Hemoterapia e Terapia Celular, Medicina Integrativa, Gerenciamento da Resposta em Catástrofe, Emergência, Coluna, Farmácia Clínica e Hospitalar, Oncologia, Ventilação Mecânica e outros. Confira a agenda completa aqui.

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