Ciência e Vida

Metodologias colaborativas colocam o aluno no centro do processo de ensino-aprendizagem

O Team Based Learning (TBL) estimula o estudante a produzir conhecimento, reter conteúdo e ampliar a capacidade de argumentação, com base em estudos e evidências científicas

Natália Bollini talvez não se dê conta, mas sua trajetória é capaz de inspirar muitas pessoas, pois mostra que os sonhos relutam a serem deixados de lado. Após concluir sua primeira Graduação, ela resolveu se dedicar à tão sonhada formação em Medicina. Mas sua história começa mesmo no fim do Ensino Médio, quando decidiu cursar por três anos um programa preparatório para o vestibular.

Naquele período, participou de processos seletivos para a Graduação em Medicina em universidades públicas. “A minha mãe me chamou para conversar, pois não conseguiria manter mais um ano de cursinho se eu não fosse aprovada”, lembra.

Consciente do cenário familiar, tratou de criar um plano B. Ela decidiu se inscrever também para a Graduação em Farmácia. Passou no processo seletivo desse curso e iniciou seus estudos na Universidade de São Paulo (USP). Formada, trabalhou por seis anos na área de qualidade e depois no setor de regulação de uma indústria de fármacos. Mas nunca desistiu de realizar o que parecia ser um sonho distante, porém possível de ser concretizado em algum momento.

“Um belo dia, conversei com o meu marido e minha família. Eles me apoiaram, eu pedi demissão da empresa e voltei a fazer cursinho”, conta.  Após seis meses, ela participou do processo seletivo da Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein (FICSAE) e foi aprovada para a Graduação em Medicina.

A opção pelo Ensino Einstein surgiu quando completou 30 anos, a partir da possibilidade de conquistar uma bolsa de estudo. “Fiquei muito animada e resolvi abrir a caixinha com o meu sonho, disposta a realizá-lo”, relembra.

Ela obteve 75% de desconto nas mensalidades durante toda a Graduação. Em novembro de 2022, Natália realizou o seu sonho de torna-se Médica.

Ensino colaborativo

“Eu aprendi muito mais com o formato de ensino-aprendizagem do Ensino Einstein. O estudo em sala de aula é sempre em grupos rotativos e frequentemente fazemos a leitura prévia do material recomendado pelo professor”, avalia, ressaltando que a Graduação da FICSAE apresentou uma rica e surpreendente metodologia de ensino.

Conforme a Médica e Coordenadora Acadêmica da Graduação em Medicina da FICSAE, Dra. Elda Maria Stafuzza Gonçalves Pires, desde o 1º semestre do curso, os alunos são reunidos em grupos nos quais trabalham as disciplinas e discutem seus conteúdos.

“O objetivo do ensino colaborativo é colocar o estudante ativamente no centro do processo do ensino-aprendizagem”. Nesse modelo, o docente é um facilitador, um expert que seleciona as teorias e estudos de casos, estimulando a busca pelo conhecimento. “Não é uma pessoa que simplesmente transfere o saber”, completa a Dra. Elda.

Esse cenário é viabilizado pela Metodologia Team Based Learning (TBL), que funciona da seguinte forma: primeiro, o aluno estuda sobre determinado assunto; depois, em sala de aula, nos primeiros dez minutos, ele realiza uma prova individual contendo entre oito e dez questões de múltipla escolha, a fim de testar o seu entendimento sobre os conceitos básicos do material indicado.

Em seguida, por mais dez minutos, os estudantes fazem a mesma prova em grupo, discutindo cada questão até acertarem a resposta correspondente. “Nós pontuamos as alternativas utilizando o computador que responde na sequência se acertamos ou não. Um ajuda o outro e isso nos ensina também a conviver bem, respeitar e considerar diversas opiniões diferentes”, explica a ex-aluna.

Quem acerta na primeira vez recebe a pontuação de 100% para cada pergunta. A resposta correta na segunda rodada garante o índice de 50% e, na terceira, 25%. “Sempre recebemos automaticamente uma dessas percentagens e, dessa forma, tomamos conhecimento sobre a resposta”, conta. O docente tem acesso aos resultados de cada aluno e assim pode acompanhar o desenvolvimento individual, de modo a alinhá-los no mesmo nível de conhecimento durante a aula.

A próxima etapa, de acordo com a Dra. Elda, é a aplicação dos conceitos com duração de uma hora e meia. O docente apresenta situações clínicas reais para instigar outra discussão, incentivando os alunos em grupo a responderem a melhor alternativa entre A e D, levantando as placas de respostas e justificando cada escolha.

“Observamos que o estudante sai da sala levando várias ferramentas, além de voltar com um acúmulo de conhecimento que não se dispersa. Ao contrário, solidifica, o que é fundamental para o aprendizado na área da saúde”, pontua a Médica.

No TBL, o aluno aprende ainda mais porque se torna participativo, ouve seus argumentos assim como os de seus colegas. “Quando escutamos, só retemos 20% do conteúdo e, quando produzimos informações, absorvemos até 70%”, explica a Dra. Elda. “Me sentia engajada e estimulada com todo esse dinamismo”, ressalta a ex-aluna.

A cada quatro semanas, o aluno faz uma autoavaliação de suas habilidades colaborativas educacionais e profissionais, ao mesmo tempo em que atribui notas a todos os colegas de seu grupo. Um docente responsável compila as informações e responde com feedbacks individuais. “Eu adoro essa Metodologia. A formação que eu recebi está me ajudando muito a desempenhar minhas funções como Médica”, diz Natália.

Leia também

Trabalhando em campo

Atualmente a ex-aluna e, agora, Dra. Natália trabalha no serviço Porta Fechada no Hospital Municipal de Barueri Francisco Moran. Ela atua como Clínica Geral, enquanto estuda para prestar a residência no final do ano no Einstein. “Estou decidindo entre as especializações de Emergencista, Intensivista ou Clínica Médica”.

Com supervisão, já realiza diversos serviços de alta complexidade. Ela conta que atende casos como infarto, traumatismo craniano, hemorragia digestiva e acidente com arma de fogo, entre outros. “Eu recebo o paciente, estabilizo e o encaminho ao setor adequado para a continuidade dos cuidados”, explica.

Uma das coisas que ela mais gosta de sua formação, além de se sentir bem-preparada para o atendimento, é conversar de ‘igual para igual’ com profissionais mais experientes do que ela. “Eles sempre se surpreendem por eu ser recém-formada e já ter um bom desempenho tanto nas ações práticas quanto em conhecimentos teóricos”.

Ela também aprecia atender pacientes em consultório e conversar com eles para entender o cenário do qual fazem parte. “É importante criar um ambiente para que a pessoa possa participar de seu tratamento, contribuindo com ações que estão dentro de sua realidade e criando engajamento sobre a promoção da saúde. Isso é um aprendizado muito valioso para mim”, destaca a Dra. Natália.

Notícias relacionadas