Einstein Social

Crianças são capazes de cuidar da própria saúde e ainda influenciar suas comunidades?

​Esse é o objetivo ambicioso de um projeto educativo que disponibiliza módulos com conteúdo informativo e atividades lúdicas e prepara professores para aplicá-los.

Fato 1: Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para assegurar a sustentabilidade dos sistemas de saúde de todo o mundo, é fundamental fazer com que as pessoas se tornem protagonistas no cuidado da própria saúde e se envolvam com as questões de saúde de suas comunidades.

Fato 2: A infância é uma fase importante na formação de hábitos.

Fato 3: O Hospital Israelita Albert Einstein é uma Instituição comprometida com movimentos transformadores no âmbito da saúde no Brasil e se empenha, por meio de caminhos diversos, inclusive das atividades de responsabilidade social, em levar uma gota de Einstein para cada brasileiro.

Foi de uma reflexão contemplando essas três perspectivas que o Ensino Einstein criou o projeto Educação em Saúde da População. Iniciativa com potencial de grande impacto social, o projeto fornece metodologias e recursos pedagógicos para os educadores trabalharem em sala de aula conteúdos de saúde de forma lúdica e divertida. “Temos uma sólida expertise na formação de profissionais de saúde e decidimos explorar essa bagagem de conhecimentos para levar o ensino em saúde para a população em geral”, afirma Soraya Souza Cruz, coordenadora de Ensino do Einstein.

Oferecido gratuitamente por meio de parcerias com secretarias de educação e outras instituições de ensino, o projeto, que está em fase piloto, tem por objetivo preparar os professores para trabalharem o tema da saúde de forma transversal ao projeto pedagógico, permeando as várias disciplinas.

Como funciona

Um ambiente virtual de formação e consultoria foi especialmente desenvolvido para capacitar os educadores e dar suporte às atividades em sala de aula.

A formação abrange quatro módulos:

  • Aspectos básicos do desenvolvimento infantil e vulnerabilidade social;
  • Saúde e seus modos de cuidado;
  • Educação em saúde;
  • Metodologias ativas.

No ambiente virtual, os professores têm acesso a planos de aula que organizam os conteúdos a serem trabalhados durante uma hora por semana e materiais didáticos para serem utilizados em classe, como vídeos, jogos e histórias com personagens relacionados ao assunto em foco.

A plataforma oferece ainda um espaço para reuniões virtuais dos educadores com a consultora pedagógica do Einstein para orientações, esclarecimento de dúvidas e sugestões.

A escolha dos temas

O campo da saúde é imenso. Como selecionar temas relevantes que, trabalhados em sala de aula, pudessem realmente trazer reflexos importantes e perenes na vida das crianças e de suas comunidades? A resposta é: identificando onde estão os problemas e fragilidades. Para estabelecer os focos do Educação em Saúde da População, suas idealizadoras fizeram uma cuidadosa análise dos dados da Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), que envolveu alunos de 13 a 17 anos do ensino fundamental e trouxe indicadores preocupantes em relação à saúde desses jovens. Vale citar alguns, apenas a título de exemplo: cerca de 25% dos adolescentes estavam com sobrepeso, 21% já tinham vivenciado pelo menos um episódio de embriaguez, 30% disseram nunca ter usado cinto de segurança no banco traseiro, apenas 20% faziam atividade física regularmente e 15% afirmaram nunca ou raramente ter lavado as mãos antes de comer nos 30 dias anteriores à pesquisa.

Assim, foram definidos os seis macrotemas que inspiram os módulos de conteúdos das aulas:

  • Higiene;
  • Alimentação;
  • Atividades Físicas;
  • Saúde Mental;
  • Projeto de Vida em Saúde;
  • Cidadania para Saúde.

Com o suporte de uma metodologia de ensino criativa, os planos de aula são adaptáveis para se ajustarem às diferentes realidades locais e faixa etária de cada série. Também podem ser utilizados para tratar de assuntos pontuais, como a higiene das mãos, por exemplo.

Uma nova cultura

Mais que preparar as crianças para o autocuidado, o projeto visa criar uma nova cultura de saúde. “Queremos estimular os alunos a multiplicarem os conhecimentos adquiridos nas aulas, promovendo o trânsito de saberes entre a casa e a escola, num processo em que os dois universos aprendem e ensinam mutuamente”, afirma Soraya. Para isso, os planos de aula incluem atividades como “Eu contei lá em casa” ou “Eu perguntei lá em casa se eles fazem assim:”. A meta é incentivar o diálogo das crianças com as suas comunidades.  Por isso, o Educação em Saúde da População busca desenvolver competências que vão muito além do autocuidado da saúde, como autonomia, autopercepção e solidariedade.

A eficácia do projeto e o alcance de seus efeitos serão criteriosamente monitorados e divulgados, inclusive por de meio de publicações científicas. Um dos recursos para isso será a aplicação, antes e depois da implantação do projeto em cada instituição de ensino, de um questionário baseado na mesma Pesquisa PeNSE para verificar o impacto da formação. “Queremos também avaliar de que maneira essas ações podem influenciar no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), que é composto pela nota da Prova Brasil mais coeficiente de evasão. Acreditamos que essas ações terão impactos na aprendizagem e na permanência da criança na escola”, detalha Soraya.

Fase piloto 

A fase de pilotagem do projeto começou em abril no Projeto Gaia+Lab, em Piracicaba (SP), onde a ONG atende crianças no período de contraturno escolar. Foram capacitados quatro educadores. A aplicação do módulo Higiene começou em maio, atingindo nessa etapa 70 crianças com idades entre 6 e 11 anos, ligadas à rede pública de ensino, em situação de vulnerabilidade social. Em 2020, o projeto Educação em Saúde da População será integralmente incluído no planejamento pedagógico do Gaia+Lab.

Acordos também estão sendo firmados com a Fundação Educandário Coronel Quito Junqueira, de Ribeirão Preto, e a Secretaria Municipal de Educação de Itapevi (5 escolas na fase piloto). Nesta etapa, os módulos serão implantados nas séries iniciais. A previsão é que ainda este ano o projeto atinja aproximadamente mil crianças, com 40 professores capacitados. Depois, será gradativamente ampliado, abrangendo novas escolas e mais séries nas instituições envolvidas. A Prefeitura de Itapevi já está discutindo a inclusão do projeto no seu plano diretor de ensino, abrangendo as 63 escolas do município.

*Pesquisa realizada em 2015, a partir de convênio firmado entre o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e o Ministério da Saúde, com o apoio do Ministério da Educação.

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