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Treinamento reforça importância da preparação de profissionais para responder às catástrofes

Atuação multidisciplinar permite troca de experiências para melhorar a performance nas ações de prevenção, preparação e resposta aos desastres.

Médico ortopedista, Dr. Fábio de Castro Jorge Racy tem interesse por questões de ajuda humanitária desde a Graduação. Em 2010, a convite da direção do Hospital Israelita Albert Einstein, onde atualmente integra o corpo clínico da Unidade de Pronto Atendimento, ele teve a oportunidade de participar de uma missão no Haiti e, depois dessa experiência, nunca mais se afastou das ações de resposta a catástrofes.

“Passei cerca de três semanas no Haiti atendendo em um hospital de campo horizontal, onde havia uma estrutura incrível com duas salas cirúrgicas, farmácia, várias barracas enfileiradas, sendo que cada fileira representava uma enfermaria. Tudo para oferecer cuidados às vítimas do terremoto que afetou o país”, lembra. “Aquele cenário acabou me impressionando de tal maneira que procurei me aprofundar e especializar no assunto”, completa.

Ao retornar do Haiti, Dr. Racy procurou por eventos, cursos e treinamentos no país e no exterior sobre como proceder em cenários de desastres. Entre as formações que esteve envolvido, destacam-se os programas de fellowship em Medicina de Desastre na Fundação SAMU, em Sevilha (Espanha), de outubro de 2016 a setembro de 2017; e no Beth Israel Deaconess Medical Center, um hospital-escola da Faculdade de Medicina da Universidade de Harvard, em Boston (Estados Unidos), de setembro de 2017 a agosto de 2018.

Durante essas duas experiências, ele teve a chance de integrar uma Missão de Cooperação Internacional em Tan-Tan, no Marrocos, de participar de uma pesquisa de campo em Porto Rico a respeito da mortalidade após o furacão Maria e de um trabalho voluntário para o atendimento de refugiados sírios no campo de refugiados de Zaatari na Jordânia.

No começo de 2019, Dr. Racy coordenou também o trabalho de assistência psicossocial prestado aos sobreviventes e familiares das vítimas do rompimento da barragem em Brumadinho, no estado de Minas Gerais.

Enfrentamento de catástrofes exige planejamento

Em todas as situações de enfrentamento de catástrofes pelo qual passou, sejam elas fora ou dentro do Brasil, Dr. Racy observou a importância de se criarem estratégias de atuação no ciclo do desastre:

1) Fases pré-desastre – Ações de prevenção e mitigação do impacto decorrentes das catástrofes, além da preparação das equipes para a resposta ao desastre.

2) Pós-desastre – Ações de resposta e recuperação da região e da comunidade afetada para que retornem à situação de normalidade o mais rápido possível.

“Muitos desastres são preveníveis ou, pelo menos, previsíveis, e estar preparado para enfrentá-los é fundamental para diminuir suas consequências negativas”, enfatiza o médico.

Criação de equipes especializadas

Para minimizar os efeitos das calamidades e dar efetividade às estratégias de ação, Dr. Racy explica que é preciso criar também grupos multiprofissionais especializados. “Temos que evitar o interesse desordenado para atender aos desastres. Ou seja, acontece um problema e várias pessoas correm para o local para tentar ajudar, mas isso pode acabar prejudicando as ações das autoridades e colocando a saúde e a vida dessas pessoas em risco. Nosso objetivo é a profissionalização da resposta”, comenta. “Precisamos de profissionais qualificados e aptos a responder a esse tipo de problema devidamente treinados e capacitados”, justifica.

Com o intuito de contribuir na preparação de equipes especializadas em situações de desastres, ele tem liderado no Einstein, desde 2015, a realização de eventos e treinamentos sobre o assunto, como o Simpósio Internacional de Gerenciamento da Resposta em Catástrofe, que chega a sua quinta edição entre os dias e 9 e 11 de maio deste ano, em São Paulo.

“Reuniremos médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos, policiais, bombeiros, agentes da defesa civil, especialistas em resgate e em ajuda humanitária e até mesmo administradores”, comenta. “A ideia é contribuir para que todas as agências envolvidas na resposta estejam preparadas e integradas para melhor desenvolverem suas ações em equipe”, acrescenta.

Dr. Racy informa que, neste ano, o Simpósio contará com a participação internacional do espanhol Dr. Luís de la Fuente, da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), que falará sobre Equipes Médicas de Emergência, e do chileno Dr. Álvaro Mardones Rodríguez, que abordará a prática da Medicina de Espaços Confinados e a resiliência chilena perante os terremotos.

Entre os palestrantes nacionais, estarão presentes alguns participantes da recente resposta ao desastre que ocorreu em Brumadinho, como o Capitão do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais Leonardo Farah, que também prestou atendimento às vítimas do rompimento da barragem em Mariana e dos ciclones em Moçambique, assim como o coronel Georges Feres Kanaan, do Exército Brasileiro, que contará sobre sua experiência no atendimento de refugiados venezuelanos em Roraima, situação definida como uma Emergência Humanitária Complexa.

​O 5o Simpósio Internacional de Gerenciamento da Resposta em Catástrofe promoverá mais uma vez o Simulado Integrado de Resposta a Desastre das Forças Públicas e Privadas da Cidade de São Paulo. Trata-se de um exercício de um incidente com múltiplas vítimas (IMV) em um acidente em via pública.​

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